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terça, 28 de janeiro de 2025
Região

Especialistas consideram "complexas" soluções para eliminar piranhas no Broa

Ataques de peixes carnívoros podem levar à interdição à população para evitar mutilações de banhistas neste verão e até no Carnaval 2025

27 Jan 2025 - 10h47Por Marco Rogério
Biólogo Fernando Magnani - Crédito: arquivo pessoalBiólogo Fernando Magnani - Crédito: arquivo pessoal

Dois especialistas ouvidos com exclusividade pelo SÃO CARLOS AGORA, afirmam que as possíveis soluções para evitar a proliferação de piranhas na Represa do Broa, em Itirapina, são bastante complexas.  Um inesperado ataque de piranhas neste fim de semana resultou no ataque a pelo menos 6 banhistas. O Hospital São José, de Itirapina, atendeu pessoas que sofreram ferimentos causados por mordidas dos peixes, incomuns nesta região. 
O biólogo Fernando Magnani, ressaltou o possivelmente os ataques foram promovidos por espécimes de Piranha Amarela ou pirambeba Serrasalmus maculatus, um peixe de ampla distribuição no Brasil, porém não natural dos rios de nossa região. “Esta espécie já está sendo considerada nativa invasora por vários órgãos de pesquisa e por agencias de controle ambiental, pois é da fácil adaptação e altamente prolifica, gerando um grande número de descendentes”, destaca ele.

Os recentes ataques, segundo ele, podem ser sido causados por profundas mudanças no bioma daquela região. “Vemos que a represa este passando por um período de alteração de sua fauna de peixes devido a recente introdução do Tucunaré, uma espécie da bacia amazônica que se tornou muito comum naquela represa, isto pode ter alterado o equilíbrio ambiental a favor das piranhas, também possivelmente introduzidas”, comenta.
Outro fator é, segundo Magnani, o aumento de temperatura, que estimula a reprodução de peixes de locais mais quentes como Piranhas e Tucunarés, em detrimento de peixes de nossa região. “Aparentemente os acidentes não foram para predação (comer) seriam mais semelhantes a defesa de território ou de prole (filhotes) chamados de ataques de advertência, pois estamos em plena época de reprodução”. Ele também comentou que o jacaré é um dos poucos predadores não só da Piranha, mas de todo tipo de peixe, mas descarta a criação deste animal no Broa como ‘solução’ para o problema. 

Pesquisador do Broa há mais de 50 anos, o cientista José Galizia Tundisi explica que a situação é “muito complicada”. “O ideal seria um peixe predador de piranhas. Mas isto também poderia se transformar em outro problema sério. O caso é complexo A primeira etapa seria verificar e medir o estoque de piranhas através da pesca experimental e esforço contínuo de coleta para depois verificar o que se fazer”, pondera o cientista.
Ele explica que piranhas se reproduzem muito rápido e os estoques pode crescer rapidamente. “Outro peixe predador que existe no Broa é o tucunaré que pode ser confundido com piranhas. O ideal é contratar vim estudo completo da ictiofauna do Broa para verificar o que ocorre e depois tomar as ações necessárias mas isto não pode demorar”, alerta Tundisi.

CASO NA REGIÃO -  Nos anos de 2001 e 2002, o município de Santa Cruz da Conceição (SP), que tem o turismo e sua represa como principais fontes econômicas, sofreu com o mesmo problema. Naqueles anos várias pessoas foram mutiladas, perdendo dedos das mãos e dos pés. O fato levou à interdição do curso d’água para banhistas. 
O fato levou a Prefeitura de Santa Cruz da Conceição a buscar meios de isolar as piranhas que atacavam na Prainha, um lago artificial de cerca de 11 alqueires, na região central. 
Ataques recentes por piranhas em banhistas no Sudeste brasileiro podem ter sido causados pelo represamento de rios. As represas diminuem a vazão dos rios e podem causar um aumento na população de piranhas porque o peixe prefere procriar em águas mais calmas.
Informações detalhadas sobre os ataques aparecem na revista científica Wilderness and Environmental Medicine. A revista cita como exemplo uma onda de ataques na cidade de Santa Cruz da Conceição (SP)depois que o seu principal rio, o Mogi Guaçu, foi represado.

COMPORTAMENTO ATÍPICO - Trechos represados do rio são populares entre banhistas e nadadores nos fins de semana. As águas do rio são habitadas por piranhas há vários anos, mas, segundo os autores do relatório, não havia registros de ataques.
Eles começaram a ocorrer há quatro anos, atingindo seu pico no verão de 2002, quando foram registrados 38 ataques ao longo de cinco fins de semana. O aumento no número de incidentes ocorreu após a construção de uma represa no rio.
"Isso é uma conseqüência direta do represamento. Quando você cria uma represa, cria condições ideais para o aumento na população de piranhas", disse à BBC o professor Ivan Sazima, um zoólogo da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). Sazima disse que o represamento pode causar um aumento de até dez vezes no número de piranhas.
Os peixes depositam seus ovos em plantas aquáticas nos trechos mais calmos do rio. "As mordidas ocorrem principalmente quando as pessoas andam ou nadam perto dos 'ninhos' das piranhas", disse Sazima. 
O peixe normalmente morde a vítima uma única vez, arrancando um pedaço da carne e deixando uma cratera arredondada no local. Os autores do relatório dizem que não há evidência científica para comprovar relatos sobre vítimas que teriam sido atacadas e comidas por piranhas.

OUTRO LADO – A Prefeitura Municipal de Itirapina divulgou, na manhã desta segunda-feira, 27 de janeiro, a seguinte nota: “Em um esforço para garantir a segurança dos banhistas, as autoridades locais estão mapeando as áreas de desova de piranhas e implementando sinalizações para evitar que os banhistas ingressem nessas regiões. O alerta se faz necessário após recentes ataques ocorridos durante a piracema, que é o período de reprodução das piranhas, típico nesta época do ano.

No último sábado e domingo, dias 25 e 26 de janeiro, foram registrados ataques a uma criança e cinco adultos na represa do Broa. Desses, dois receberam socorro da Defesa Civil e foram encaminhados para o Hospital São José, enquanto os outros foram socorridos por recursos próprios. Todos os envolvidos eram turistas de fora, e apenas um caso foi considerado mais grave, com uma pessoa mordida no dedão do pé.
As piranhas costumam atacar nas aguapés ao longo das margens do rio, onde se reproduzem. Os machos defendem seus ninhos contra possíveis ameaças, o que pode resultar em incidentes com banhistas. Para evitar novos ataques, a prefeitura anunciou que sinalizará as áreas onde estão os ovos, garantindo assim que os visitantes sejam informados e possam desfrutar da natureza com segurança.

É importante salientar que em Pereira Barreto também ocorreram casos semelhantes no passado e que em Santa Cruz da Conceição ataques desse tipo eram comuns nesta época do ano. Entretanto, incidentes como esses são raros na região do Broa, sendo considerados um caso isolado vinculado à piracema. As autoridades reforçam a necessidade de atenção às sinalizações para assegurar a proteção de todos”. 

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