“Foi desrespeitoso, desnecessário, racista, um crime, preconceituoso e inaceitável”. Esta frase está inserida em uma “carta de leitor” e endereçada ao São Carlos Agora. Mais interessante ainda, foi o ato de cidadania de 31 alunos de 9 e 10 anos da 4ª Série “A” da Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Prefeito José Cruz”, de Itirapina. Sob a orientação da professora Beatriz Vasques, elaboraram uma carta (reproduzida em sua íntegra no final da reportagem) ao se referirem a uma matéria postada pelo portal no dia 20 de novembro, sob o título “No Dia da Consciência Negra, boneco enforcado é pendurado em cruzamento no centro de São Carlos”.
A reportagem se referia a uma cena, no mínimo dantesca, que causou repulsa e indignação. No feriado nacional onde é resgatado o Dia da Consciência Negra, um boneco negro, com uma corda no pescoço, foi colocado em uma placa de sinalização na esquina das ruas São Sebastião com a São Joaquim, no centro de São Carlos, horas antes da 2º Marcha pela Memória Negra – Voz e Direitos Iguais para as Pessoas Negras, que reuniu aproximadamente 500 pessoas.
A docente, com 20 anos de experiência após lecionar em instituições de ensino de Analândia (cidade natal), São Carlos e Itirapina, utilizou a reportagem como tema de debate entre seus 31 anos do 4º ano e desenvolveram o assunto no Projeto Jornal, que faz parte do currículo paulista que tem por finalidade desenvolver a escrita dos alunos. Na Emef “Prefeito José Cruz” há quatro salas e cada mestre escolhe temas que são regularmente debatidos.
“Trabalhei com os alunos no Projeto Jornal do Currículo em Ação.
Neste programa lemos várias tipologias textuais de diversos jornais. Hoje li a matéria de vocês e escrevemos uma carta de leitor. O tema é muito importante e a matéria pontuou muito bem o problema do racismo estrutural em nossa sociedade. Li para as crianças, debatemos o assunto, cada um deu sua opinião e escrevemos coletivamente uma carta”, explicou Beatriz em entrevista ao portal.
A docente disse ainda que, após intenso diálogo com seus pequenos alunos, foi montado na escola um painel com as opiniões de todos os envolvidos.
“A matéria foi oportuna e criticou o racismo que existe em nossa sociedade. Foi uma oportunidade de debater e quebrar preconceitos. Que cada criança pudesse entender que as pessoas se sentem ofendidas e meus alunos compararam tal fato ocorrido em São Carlos, com a morte de Zumbi dos Palmares que teve a cabeça decepada e amarrada em uma praça. Doeu ainda mais que tal ato aconteceu justamente no dia da celebração da cultura negra, nos nossos afrodescendentes”, comentou Beatriz.
Uma carta, um alerta
Os pequenos alunos, indignados após lerem a reportagem do SCA, elaboraram a carta, que contou com o auxílio e a iniciativa da professora. “Ela foi elaborada durante a aula e o conteúdo foi através de um debate com as crianças, parágrafo por parágrafo. Descrevemos o fato, cada um colocou sua opinião. Palavras como crime, inaceitável, falta de respeito, desnecessário...”.
Beatriz afirmou que o retorno do tema desenvolvido no Projeto Jornal não poderia ser melhor e deixou claro que crianças não possuem maldade no coração. “Me sinto feliz. Meus alunos são pequenos cidadãos(ãs). Eles se posicionaram e mostraram que o racismo existe e tem que ser combatido. Elaboraram ainda cartinhas pessoais e deram suas opiniões. Se mostraram constrangidos e indignados, como eu me senti. Percebemos que as crianças entendem a situação e elas são a base de nossa sociedade. Elas podem repaginar o Brasil e mostrar para os adultos que o racismo tem que ser abolido. Não há espaço para atitudes como essa em pleno século 21”, finalizou.
Crianças 10, racistas 0
“Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião”. Esta frase foi dita pelo ex-presidente da África do Sul, Nelson Mandela e cabe perfeitamente na reportagem. Afinal, ninguém nasce racista. Infelizmente, algumas pessoas se transformam.
Porém, como mostra de cidadania e pureza de alma, o São Carlos Agora exibe a “carta de leitor” elaborada pelos 31 alunos da 4ª Série A da Emef Prefeito José Cruz, com a ajuda da professora Beatriz. Antes de mais nada, um exemplo a seguido.
“Itirapina, 21 de novembro de 2024
Ao Jornal São Carlos Agora
Nossa professora leu a reportagem “No dia da Consciência Negra, boneco enforcado é pendurado em cruzamento no centro de São Carlos” deste jornal.
Conversamos e achamos que o fato foi desrespeitoso, desnecessário, racista, um crime, preconceituoso e inaceitável.
Justo num dia de comemoração da cultura afro-brasileira, expor um boneco negro enforcado numa placa é como compará-lo a Zumbi de Palmares que teve sua cabeça decepada e exposta após sua morte.
Esperamos que fatos como esse não ocorram mais.
Um abraço, tenham um bom dia de trabalho.
4º ano A professora Beatriz Emef “Prefeito José Cruz”
Alunos
Alessandra Falcão Marino
Alice Olmedo Sala
Artur Trento Vechio
Cecília Souza Oliveira
Davi Luiz Pereira da Silva
Derek Andrade Pereira
Emanuel da Silva Ribeiro
Emilly Lauane Valadão Silva
Felipe Fabrízio A. Machado
Fernanda Garcia Ferreira
João Batista H. dos Santos
Larissa C. Camargo Costa
Larissa C. Dias da Cruz
Lívia Camondi Salamão
Luiz Otávio Rizzato Rocha
Miguel Travensolo Ferreira
Nicolas Quilis
Otávio Augusto Alves Paes
Pedro Augusto P. Cunha
Pedro Henrique Brandão
Samuel Guilherme A. Sales
Sara Maria B.A.F. Perroni
Vitor Hugo Lima da Silva
Yasmim Lourenço Faria
Yasmin da Silva Mariano
Maria Eduarda Mariano
Fernanda Lourenço Eugênio
Davi Lucas Ribeiro Martins
Wagner David O. Messias
Vitor Matheus C. Patrão
Isabelly de Oliveira