
A possível volta do ex-ministro e ex-governador Ciro Gomes ao PSDB, partido pelo qual chegou a ser ministro da Fazenda de Itamar Franco, pode mudar o jogo de xadrez político do próximo ano, que promete um novo embate entre o presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), ou alguma liderança política apoiada por ele.
Ciro poderá dar uma nova cara ao centro com um partido de estrutura nacional, embola enfraquecido com a desidratação que sofreu nas últimas eleições, inclusive com a perda do governo paulista após 28 anos ou 7 eleições, desde 1994.
Dois analistas políticos ouvidos pelo SÃO CARLOS AGORA têm opiniões diferentes sobre o possível retorno de Ciro ao ninho tucano. Para Henrique Affonso de André, mais conhecido como “Cebola”, uma volta de Ciro ao PSDB poderá alterar o já previsível cenário do próximo ano. “O Ciro Gomes tem uma independência de pensamento. Imagina que ele passou por Arena, PMDB, PSDB, PPS, PDT... Hoje essa pluralidade acabou fazendo com que ele tenha opiniões óbvias, que é raridade entre os políticos do Brasil, reverberando a opinião popular e não tentando pautá-la”, destaca ele.
Henrique Cebola: “Concordando ou não com ele (Ciro Gomes), é inegável a sua habilidade de comunicação com a massa”
Cebola afirma que não faz sentido Ciro ficar no PDT, com a força política que ainda tem. “Concordando ou não com ele (Ciro Gomes), é inegável a sua habilidade de comunicação com a massa. E ficar no PDT, que se reduziu a um fantoche petista, não é uma opção, dada a sua crítica... ele conhece bem o PT, foi aliado, ministro, e sabe que hoje abraçar Lula é dar um tiro no próprio pé. Quanto ao PSDB, talvez seja a mola no fundo do poço. Já falamos do ocaso do partido, quem sabe seja uma renovada na agenda e no ânimo”, completa.
Guilherme Rezende: “Ciro Gomes, apesar dos últimos resultados eleitorais, é voz eloquente na maioria dos pleitos e capaz de chamar a atenção no debate público”
Guilherme Rezende destaca que a eventual entrada de Ciro Gomes pode significar uma tentativa do partido em reconquistar maior relevância nacional. “Ciro Gomes, apesar dos últimos resultados eleitorais, é voz eloquente na maioria dos pleitos e capaz de chamar a atenção no debate público”.
Segundo Rezende, Ciro poderá vestir a “capa” de Terceira Via numa disputa polarizada já há duas eleições. “Num contexto em que há questões que ameacem a viabilidade eleitoral dos dois principais líderes políticos no âmbito da polarização, a busca de um "terceiro nome" é natural, entretanto, a figura de Ciro Gomes causa algum divisionismo e sua convivência com os demais caciques tucanos, em especial, o Deputado Aécio Neves e o Governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, é incerta”, conclui o especialista.