MEMÓRIA SÃO-CARLENSE: Escola Doutor Álvaro Guião, uma joia da Educação
17 NOV 2017 • POR (*) Cirilo Braga • 04h07
Neste sábado, dia 18, uma joia da educação pública paulista faz aniversário: o edifício da Escola Estadual "Dr. Álvaro Guião", ex-Escola Normal Secundária e Instituto de Educação de São Carlos, inaugurado em 1916 e desde 1985 declarado patrimônio cultural do Estado de São Paulo.
A implantação da Escola Normal liga-se ao poder dos cafeicultores locais na primeira década do século XX. A escola criada pelo decreto n.º 1998 de 4/2/1911 teve sua aula inaugural no dia 22 de março daquele ano (no atual prédio da Escola Eugênio Franco), enquanto era construído um novo prédio em área cedida pela Mitra Diocesana, em permuta, com a Municipalidade. A pedra fundamental foi lançada em 1913 e inauguração aconteceu em 18 de novembro de 1916. A primeira turma de normalistas já havia se formado em 1914, quando o prédio ainda estava inacabado. Em 1939, a Escola Normal de São Carlos foi rebatizada e passou a se chamar Instituto de Educação Doutor Álvaro Guião, em homenagem ao secretário da Educação e Saúde do Estado, morto naquele ano em desastre aéreo.
MARAVILHA DE SÃO CARLOS
Localizado no quarteirão da Avenida São Carlos e ruas Padre Teixeira, São Sebastião e Dona Alexandrina, o monumental edifício foi projetado pelo arquiteto alemão Carlos Rosencrantz e construído pelo engenheiro Raul Porto e pelo mestre de obras Torello Dinucci. Com pisos de cerâmica francesa, lustres de cristal de Baccarat, mármore italiano e mobiliário inglês e austríaco, o edifício esbanja riqueza de detalhes dos estilos art-nouveau e neoclássico. Um lugar repleto de simbologia e, sem dúvida, solo no qual germinou a vocação de São Carlos para a ciência e o conhecimento - esteios do progresso da cidade.
Em 2012, em votação realizada pela internet o edifício recebeu 11 mil votos e foi eleito uma das "Maravilhas de São Carlos". A seleta lista incluiu a Fazenda Pinhal, a Araucária, a Catedral Diocesana, o Parque Ecológico, o Bonde da Vila Nery e a Praça Coronel Salles.
A escola ao longo de sua história reuniu grandes professores, responsáveis pela educação de diversas gerações de são-carlenses. Para se ter uma ideia da importância da instalação da Escola Normal para a cultura e a intelectualidade regional, basta dizer que logo após a inauguração do prédio foi implantada dentro da Escola Normal, uma "Sociedade de Estudos e Conferências" com caráter educativo, disseminando a cultura científica, literária e artística. Segundo seus idealizadores, o progresso de São Carlos não podia deixar de lado a espiritualização da vida humana nas mais nobres e desinteressadas manifestações: a ciência e arte.
Muito antes de São Carlos se tornar um centro universitário e tecnológico importante no Estado de São Paulo, a Escola Normal antecipava o futuro e apontava caminhos para a construção do perfil da cidade.
O SUMIÇO DO RELÓGIO
Um estabelecimento icônico também tem suas curiosidades. Uma delas, lembrada pelos ex-alunos na comemoração do centenário do prédio, no ano passado, foi o sumiço do relógio que havia sido doado pela comunidade nipônica em 1957, ano dos festejos dos 100 anos do município e abertura das celebrações do cinquentenário da imigração japonesa no Brasil.O relógio foi instalado na entrada principal da escola, mas foi retirado dali muitos anos depois e ninguém sabe até hoje que fim levou.
O ex-aluno Alfeo Rohm citou em seu blog na internet o relato do colega Valentim Gueller Neto, também ex-aluno da escola, que escreveu:
"O relógio em três faces sobre um enorme pedestal, em cuja base havia uma placa de bronze com alusões à data sob as bandeiras entrecruzadas dos dois países em alto relevo ficava à esquerda da entrada principal da escola, na Avenida S. Carlos. Os alunos o apelidaram de 'Wakamoto', nome de um remédio de origem japonesa à base de levedura de cerveja, muito popular na época".
"ESCOLA AMIGA E ACOLHEDORA"
Um olhar sobre a história da Escola Dr.Álvaro Guião aponta que, sem dúvida, a fase áurea de irradiação cultural da Escola Normal ocorreu entre as décadas de 1920 a 1940.
Ao longo do tempo o ensino se transformou e o edifício passou por uma grande restauração, sendo hoje um dos prédios históricos mais bem conservados de São Carlos.
Icônica pela beleza do prédio que abriga, mas sobretudo por seu aspecto cultural, a Escola foi homenageada pela professora Maria Christina Girão Pirolla no livro "Memórias do Instituto", que inclui trecho de um discurso que ela proferiu no dia 22 de março de 1980.
Disse a professora Maria Christina: "(...) Não adianta a reforma de sua fachada e de suas instalações se não houver novamente calor humano, entusiasmo, solidariedade e amor entre aqueles que vivem sob seu teto. Se porventura nós mudamos por alguma razão especial, a Escola amiga e acolhedora continua a mesma de sempre, e não pode e não deve permanecer apenas na saudade, pois ainda tem muito a oferecer sem nada pedir a não ser um pouco mais de valorização baseando-se no seu passado que não pode ser esquecido".