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Estrangeiros encontram na USP São Carlos mais do que um ambiente científico acolhedor

8 JUN 2015 • POR • 21h54

Em sua busca pela liberdade e pela ciência, ele encontrou o Brasil. "Sem liberdade, não é possível ser criativo nem pesquisar", declara o paquistanês Sahibzada Waleed Noor. Na jornada, já correu o mundo: fez pós-doutorado na França e na Itália. Mas depois de um ano de pós-doutorado no Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos, encontrou o que tanto buscava: um ambiente propício para fazer ciência e construir novas amizades em meio à natureza. Hoje, não restam dúvidas: é no Brasil que Noor quer ficar.

Ele é um dos 19 pós-doutorandos estrangeiros que estão no ICMC atualmente e escolheram estudar no Instituto atraídos por um ambiente científico acolhedor. A maioria deles encontrou, no meio da trajetória, muito mais do que esperavam. Não é à toa que o número de pós-doutorandos estrangeiros no ICMC aumentou 171% entre 2010 e 2015.

"Receber um pós-doutorando é um sinal do reconhecimento e da visibilidade das pesquisas e resultados que nós apresentamos", explica o presidente da Comissão de Relações Internacionais (CRInt) do Instituto, José Carlos Maldonado. O objetivo para o futuro, segundo Maldonado, é que o Instituto atraía um número ainda maior de pós-doutorandos. "O ICMC está formando 50 doutores por ano em suas diversas áreas, então, esperamos alcançar aproximadamente esse número de pós-doutorandos a cada ano", diz Maldonado.

A seguir, você vai conhecer a história da mexicana Haydée Cabrera, do alemão Werner Leyh e entenderá por que a liberdade é um conceito tão importante para Noor.

 

Da ciência ao altar - Haydée Cabrera, nascida em Xalapa, no México, chegou ao ICMC em 2013 para atuar na área de Topologia de Sigularidades. Quando desembarcou no Brasil não imaginava que, além de fazer o que ama, iria encontrar alguém para amar. Há pouco tempo no país, a pesquisadora, que é graduada em matemática, se entrosou rapidamente com seu grupo de pesquisadores e foi quando Fabio Ruffino entrou em sua vida. O italiano havia acabado de terminar seu pós-doutorado no ICMC, mas a relação com os ex-companheiros de pesquisa permaneceu.

O tempo foi passando, os dois se aproximaram, até que algo que nem a ciência consegue explicar aconteceu. Hoje eles estão noivos: "Eu nunca imaginei que meu futuro marido seria do outro lado do mundo e eu o encontraria aqui", diz a mexicana. O casamento está marcado para o próximo mês de julho, na Itália, mas o casal pretende morar em São Carlos, pois hoje Fabio é professor da UFSCar.

Haydée escolheu o ICMC pela existência de um grupo de pesquisadores que atua no seu campo. Ela afirma que a área de matemática do Instituto é bastante conhecida no meio acadêmico mexicano. Sobre São Carlos, a pesquisadora parece já estar habituada ao município. "As pessoas são muito prestativas, simpáticas, gosto muito daqui, saímos bastante pela cidade", finaliza.

 

A busca pela liberdade - Noor conta que a falta de liberdade foi um dos motivos que o levaram a deixar o Paquistão em busca de oportunidades em outros países. Ele explica que o país é dividido em quatro províncias e que, em cada uma, há o predomínio de uma etnia e de uma língua, além da língua nacional (urdu). Noor nasceu em Peshawar, capital da província Khyber Pakhtunkhwa, localizada no norte do país. "Eu amo o Brasil e a liberdade que existe aqui. No Paquistão, além da falta de liberdade religiosa, há a instabilidade política e social", explica o pós-doutorando.

"Eu sempre fui fascinado pelo Brasil, desde que era criança. Adoro a geografia, a história, as belezas naturais, mas não ouvia falar muito sobre a capacidade do país no campo científico", revela o pesquisador. Depois de completar sua graduação em matemática no COMSATS Institute of Information Technology, em Islamabade, a capital do Paquistão, Noor foi fazer doutorado em matemática em Lahore na Abdus Salam School of Mathematical Sciences. Foi lá que conheceu o francês Renaud Leplaideur, da Universidade de Brest, na França, que já mantinha uma parceria científica com o professor Ali Tahzibi, do ICMC.

Além disso, durante os dois pós-doutorados que fez na Europa, Noor ouviu diferentes pesquisadores falando muito bem sobre a área de pesquisa em matemática no Brasil e a relevância da USP nesse contexto. O paquistanês pesquisa a interação entre análise complexa, teoria dos operadores e análise funcional.

"Em toda a minha vida, eu nunca tinha feito tantos amigos quanto aqui no Brasil", conta o pós-doutorando, que relata animado o quanto adora curtir a noite são-carlense em bares, casas noturnas e restaurantes da cidade. "Sou um fã das iguarias brasileiras. Tal como no Paquistão, os brasileiros adoram comidas oleosas, carnes e doces", finaliza.

 

Primeiras impressões - Werner Leyh, alemão da cidade de Tübingen, está apenas há um mês no ICMC como pós-doutorando na área de geoinformática aplicada à prevenção de desastres naturais, com foco em enchentes. Apesar do pouco tempo em São Carlos, a capital da tecnologia parece já ter convencido o pesquisador de que fez a escolha certa: "Eu adoro esse ambiente universitário e acadêmico que a cidade possui".

No Brasil há mais de dez anos, Leyh é formado em automatização industrial, com mestrado e doutorado em robótica na Alemanha. Foi convidado a trabalhar no Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP, em São Paulo. Mais tarde, passou pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, pelo Ministério do Planejamento, em Brasília, e pela Universidade Federal de Viçosa.

Foi durante o trabalho na capital nacional que teve início sua relação com a Universidade de Heidelberg a partir de uma conferência que organizou, em que estava presente um consórcio chamado Open Geospatial Consortium, composto por empresas, agências governamentais e universidades, que busca tornar a informação e os serviços espaciais úteis e acessíveis. A OGC sugeriu que o pesquisador estabelecesse uma parceira com a universidade alemã para atuarem na área de prevenção de catástrofes naturais.

Posteriormente, já trabalhando em São Paulo, Leyh conheceu o professor João Porto de Albuquerque, do ICMC, e hoje trabalham juntos no projeto ÁGORA. Coordenado por Albuquerque, o projeto busca desenvolver sistemas de informação colaborativos aplicados em desastres. "Escolhi o ICMC por causa desse trabalho na área de geoinformática e os estudos estão indo muito bem", finaliza o alemão.

Leyh não tem certeza de quanto tempo permanecerá no ICMC nem no Brasil. Mas talvez, ao longo de sua jornada no Instituto, também faça mais descobertas do que imaginava.