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Ítalo Brasileiro completa 72 anos de atividades

Clube herdou edifício da a Società Meridionale Uniti Vittorio Emanuele III ou Società Italiana di Mutuo Soccors, criada em 1900 pelos italianos e seus descendentes

14 MAR 2025 • POR Marco Rogério • 17h33
Ítalo Clube - By Sintegrity - Own work, CC BY-SA 4.0,

O Instituto Cultural Ítalo Brasileiro completa, nesta sexta-feira, 14 de março, 72 anos. A agremiação nasceu no ano de 1953, período em que São Carlos vivia o período pré-centenário do município, que seria comemorado em 1956 e via nascer, também, seu polo universitário, pois no dia 18 de abril do mesmo ano foi realizada a aula inaugural da Escola de Engenharia da USP. Como o nome do instituto já deixa claro, o clube é reflexo da presença dos imigrantes italianos em São Carlos. 

Os italianos já haviam deixado sua marca na cidade. Fundada em agosto de 1900, a Società Meridionale Uniti Vittorio Emanuele III ou Società Italiana di Mutuo Soccorso, já congregava imigrantes da Itália e seus descendentes. 

A agremiação propunha unir as classes operárias, promovendo o sentimento de dever, instrução, educação e socorro para os seus associados. Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), as agremiações italianas tiveram suas atividades suspensas, retornando apenas após o término do conflito. 
Nesta ocasião, a Società Dante Alighieri (que ocupava o prédio do atual CDCC USP) e a Vittorio Emanuele III passaram a ter uma administração única. Em 1953, o prédio da Vittorio Emanuele III foi doado ao Instituto Cultural Ítalo Brasileiro que viria a construir sua sede na área do prédio original.


Zezão Favoretto com Marquinho Amaral: história da família é ligada ao clube 

O CLUBE ATUALMENTE - O atual presidente do ítalo, José Favoretto, o ex-jogador de futebol e de voleibol, “Zezão”, afirma que o primeiro presidente do ítalo foi o professor ítalo Savelli. “Em 1956 eu tive o prazer de ter meu tio, Delmiro Favoretto como o segundo presidente do clube até 1961. De lá para cá tivemos 16 presidentes, 16 diretores com seus conselhos deliberativos que muito fizeram pelo clube. Tivemos canchas de boxa e quadra de futebol de salão, hoje futsal. Inclusive, na década de 1960, meu pai. O Ítalo foi campeão estadual em 1964 no futsal tendo uma rivalidade gostosa com a ABASC na era de ouro do futebol de salão e hoje futsal. Meu pai, o Zim Favoretto, foi diretor de esportes nesta época áurea”, destaca ele.

Ele conta que o clube já teve atividades diversificadas.  “Tivemos também no clube, ao longo de sua história, local para jogatina de baralho, sinuca. Hoje, o Ítalo se resume a seus bailes. Estamos tentando trazer grandes atrações. É um dos únicos clubes que continuam fazendo carnaval de salão em piso de taco com mu8ita difi9cuuladers. Mas ainda seguramos a bronca para isso, com Baile dos Dia dos Pai, Dia das Mães, Baile do Vermelho e Branco, do Azul e Branco, Baile do Aniversário do Clube hoje, 14 de março, com champanhe na mesa e bolo para todo mundo”, conta ele. 

Zezão afirma que o clube continuará na luta para manter eventos e diversão ao povo são-carlense. “Temos o maior prazer de agradecer a todos que nos ajudaram em todos estes anos, todos os diretores, funcionários e todos, enfim, que fizeram muito pelo clube. Hoje, 2025, o Ítalo está com a cabeça tranquilo fazendo eventos de sextas a domingos e de sábados os grandes eventos. Já fizemos um em janeiro com três bandas – Vinil 78, Doce Veneno e Grupo Nós, Roupa Nova cover em fevereiro. Fizemos o carnaval e vamos fazer sábado de Aleluia com Vinil 78 e Six Alive. Enfim, um evento grande por mês sábado para trazermos não só os associados, mas todo mundo”, conclui ele. 

HERANÇA ITALIANA - A imigração italiana que completou 151 anos no último dia de fevereiro, deixou marcas bastante profundas no município de São Carlos, seja nos sobrenomes, nas culinária, na cultura, nos costumes e até na economia.
Os italianos deixaram seu país por motivos econômicos e socioculturais. O grande fluxo migratório italiano começou após a unificação da Itália, em 1870. A grande massa de italianos trabalhou em fazendas de café. A dificuldade de acumular capital fez com que imigrantes italianos partissem das fazendas para o centro da cidade.

São Paulo chegou a ser conhecida como “cidade italiana”, pois esses imigrantes se ocuparam especialmente na indústria e nas atividades de serviços urbanos. Em 1901, italianos chegaram a representar 90% dos 50.00 trabalhadores nas fábricas paulistas.
Para fugir da fome, cerca de 12 milhões de italianos migraram para várias partes do mundo. Deste total, uma boa parte veio para o interior paulista labutar nas fazendas de café.

Os primeiros italianos chegaram ao Brasil no dia 21 de fevereiro de 1874. Eles chegaram primeiro à Santa Teresa, na Região Serrana do Espírito Santo, que foi berço da colonização italiana.

Os imigrantes chegaram a São Carlos para transformar para sempre a história de São Carlos. Eles vieram para trabalhar na lavoura de café e mais tarde ajudar a industrializar o município.

A escassez de mão-de-obra escrava, seu declínio e fim, com a abolição da escravatura já eram problemas previstos pelos fazendeiros mais inteligentes e mais informados como Antônio Carlos de Arruda Botelho, o Conde do Pinhal.
A partir de 1880 a imigração se intensifica. O exército de europeus somava-se à mão-de-obra escrava nas lavouras, pois a superprodução de café admitia, então os dois tipos de empregados nas plantações. Em 1886, cerca de um oitavo da população era formada por imigrantes. Somente a Capital Paulista tinha mais estrangeiros que São Carlos naquele ano.

Com eles vão se modificar as edificações nas fazendas. Vão surgir as chamadas colônias, com diversas pequenas casas. Numa época em que nem se sonhava com a automação na lavoura, a não de obra livre era a esperança de se manter o apogeu do café.
Em 1899 São Carlos tinha, segundo o Club da Lavoura, 15 mil trabalhadores rurais, sendo destes, mais de 10 mil italianos. Ainda destacavam-se 1.356 espanhóis; 886 portugueses;447 austríacos; 211 alemães; 119 polacos e três franceses. Em 1907, São Carlos tinha 38.642 habitantes. Deste total, 11.342 eram italianos, o que correspondia a 29,35% da população local.

Na Fazenda Santa Maria do Monjolinho, a antiga senzala foi transformada em moradia para os colonos, que trabalham na propriedade rural como meeiros. Muitos deles labutaram na produção de café e também nos vários ofícios da época e ajudaram a construir a cidade de São Carlos.
O professor Oswaldo Truzzi, Autor de “Café e Indústria – São Carlos 18509 – 1950”, frisa que ao contrário do que se pensa, em terras paulistas os colonos não conseguiram se fixar em sistema de pequenas propriedades, como era tradição europeia. O regime de grandes latifúndios, existente até hoje, dificultava muito esta ascensão social que muitos conseguiram, graças aos seus talentos, com o início do processo de industrialização.
Hoje, a imigração europeia faz parte da história e deixou marcas eternas em vários setores da vida local, como culinária, costura, esportes, música e etc.

A historiadora Leila Massarão, da Fundação Pró-Memória, ressalta que as marcas do italiano estão no sotaque do são-carlense quando pronuncia palavras como “leitinho”, nos casarões do Século XIX e também na culinária. “A alimentação tem fortes traços dos italianos, com destaque para a polenta, que era um alimento do trabalhador rural e urbano e hoje é produzida de forma bem mais elaborada, comenta ela. Outro quitute com o sabor italiano, muito apreciado em São Carlos é o boconote, tradicional doce italiano, do tamanho. de uma empada grande, com delicioso recheio de nozes com uvas passas ou ameixa.

Os casarões, como o Palacete Conde do Pinhal e o Palacete Bento Carlos, a Casa Sede da Fazenda Santa Maria e o Mercado Municipal original, têm a genialidade de engenheiros e arquitetos italianos, como Pietro David Cassinelli, Samuel Malfatt e Giuliano Parolo nos projetos e a capacidade prática de empreiteiros como Attilio Picchi e Francesco Daddamio. Outros empreendedores italianos, como das famílias Mastrofrancisco, Giongo, Luíz Fazzi se destacaram na construção e cantaria. Muitos desenvolveram serralherias, marmorarias e serrarias em São Carlos. Em São Carlos podemos constatar ainda hoje, apesar da sua deterioração, a qualidade e eficiência desses trabalhos nos artefatos funerários do cemitério Nossa Senhora do Carmo, onde a arte e o artesanato dessa época estão presentes nos túmulos da sua parte mais antiga, o lado Oeste, que remonta aos anos 1890.