POLÊMICA

Soldado denuncia tortura no Exército em Pirassununga

xército investiga o caso em Inquérito Policial Militar. Jovem de 19 anos continua afastado das atividades militares e deve passar por reavaliação médica na quinta-feira (23

22 JAN 2025 • POR Marco Rogério • 13h40
A sede do 13º Regimento de Cavalaria Mecanizado, em Pirassununga Foto: João Oliveira / Força Aérea Brasileira
Um soldado temporário de 19 anos, denunciou às polícias Militar e Civil de Pirassununga, ter sido vítima de tortura dentro das dependências da unidade militar do 13º Regimento de Cavalaria Mecanizada existente naquele município.
 
Após o abalo psicológico, o militar chegou a tentar o suicídio em sua casa, na Rua Capitão Maneco, na região central de Pirassununga. Ele foi até uma sede da Polícia Militar. Após conversar com policiais militares, o soldado foi se acalmando e, posteriormente, foi socorrido pelo SAMU na Santa Casa. Ele também procurou a Polícia Civil Judiciária. A Polícia Militar já havia feito o boletim de ocorrência.
 
A vítima relatou no BO que está na Unidade Militar há cerca de 10 meses. O soldado disse que na manhã da última quinta-feira, 16, após uma formatura, um oficial designou aos soldados para realizarem serviços de manutenção e limpeza no interior da Unidade Militar.
 
A vítima relatou que ele, ficou juntamente com os soldados Jonas, Bonifácio e Gião, e tinham como missão organizar e limpar um depósito de caixas de papelão guardadas, sendo que o Cabo Douglas determinou a organização do local.
O soldado, vítima da tortura, teria estranhado o fato de os demais colegas de farda pegaram apenas duas caixas, deixando o local sujo. Em dado momento, seu trabalho foi encerrado por outros soldados que determinara para que ele fizesse uma faxina câmara fria, seguindo para o local com os soldados Jonas, Bonifácio e Gião e o cabo Douglas, seguindo para o local os soldados Souza Fontes, carregando um cabo de vassoura.
 
O grupo de militares determinaram que a vítima abaixasse sua calça. Ele se recusou e, na sequência foi agarrado pelo grupo. A vítima narrou à polícia que sua calça foi tirada à força. Ele também disse que quebraram o cabo de vassoura na região do seu ânus e apenas teriam parado a tortura porque ele começou a gritar bem alto.
 
Minutos depois, os colegas de farda retornaram, o pegaram a força, sendo levado para outro deposito, dando início uma longa sessão de tortura, onde alguns o seguravam e outros o agrediam nas nádegas, com pedaços de ripa tipo palete e uma grande colher de pau utilizada em panela industrial. 
 
Ele narra que era torturado com tábua de cortar carne e cabo de vassoura, quando conseguiu fugir dos ‘terroristas’. Que, em dado momento, quando cessaram as agressões, conseguiu fugir do local o correndo. A nádega da vítima teria ficado bastante lesionada. Ele também ficou com várias escoriações pelo corpo, o que foi constatado em exame de corpo de delito. Abalado psicologicamente, tentou o suicídio posteriormente em decorrência da violência sofrida.
 
Segundo a vítima, o Cabo Douglas por duas vezes enviou mensagem pelo whatszapp, dizendo que tudo que ocorreu foi uma brincadeira. O Soldado, informou que apenas o Soldado Gião, não participou da tortura, tentando se afastar do local, sendo impedido.
 
Exército investiga o caso em Inquérito Policial Militar. Jovem de 19 anos continua afastado das atividades militares e deve passar por reavaliação médica na quinta-feira (23).
 
À BASE DE CALAMANTES - O advogado de defesa do soldado, Pablo Canhadas, afirma que o rapaz ainda está muito abalado com a violência e precisou ser afastado das atividades militares desde o ocorrido e que tem vivido à base de calmantes. 
 
Canhadas ressalta que as agressões duraram cerca de 30 minutos, com pedaços de ripa de madeira, remo de panela industrial e um cabo de vassoura, que teria sido quebrado na região do ânus. 
 
"Neste momento, estamos trabalhando com o que chamo de 'ação de contenção de ônus', é mais um acompanhamento de perto para defender que amanhã ou depois não criem um arcabouço para falar que o meu cliente foi o responsável pelo ato que sofreu dentro do Exército, para poder eximir a União de pagar uma indenização, de dar um suporte psicológico e psiquiátrico. Quem disse que amanhã ele vai estar bem para seguir a vida? Vê farda e já começa a chorar", disse o advogado.
 
O caso foi registrado como lesão corporal no 1º Distrito Policial de Pirassununga. Mas, conforme apurou a reportagem, não haverá investigação da Polícia Civil, apenas do Exército.
 
O MEDO DE DENUNCIAR - De acordo com Canhadas, o jovem completou um ano na corporação e via o serviço militar com orgulho. "Estava virando a vida toda para o militarismo", declarou O advogado admitiu que, inicialmente, o soldado estava receoso em fazer a denúncia, mas teria sido aconselhado por um familiar.
 
"Ele é uma pessoa simples, não tem capacidade de pagar médico, mora de aluguel. O medo dele era de denunciar, ser mandado embora e, no mês que vem, não ter dinheiro nem para o aluguel. Só que o trauma, o impacto do que aconteceu foi muito grande. Ele está seguindo à base de calmantes. Fisicamente, se não der nenhuma sequela, o tempo cura. Mas, psicologicamente, vai precisar de um trabalho grande."
 
Canhadas informou que o jovem vai passar por uma avaliação médica no 13º Regimento nesta quinta-feira, 23 de janeiro. "Vou estar com ele para saber se vão revalidar o atestado do Pronto-Socorro e se vão iniciar acompanhamento médico com ele. Todo ato externo precisa ser revalidado internamente", explicou.
 
O QUE DIZ O BO - De acordo com o boletim de ocorrência, o militar estava organizando um espaço com soldados, quando estes disseram que ele teria que limpar uma câmara fria. Foi então que um cabo e outros soldados também teriam ido a esse segundo local. Em seguida, conforme o relato do militar, a farda dele teria sido arrancada e uma vassoura quebrada na região do ânus.Ainda segundo o boletim de ocorrência, um cabo supostamente envolvido nas agressões teria enviado uma mensagem ao militar dizendo que ele "estava mentindo e que iria prejudicar a todos”.
 
A vítima apresentou imagens das lesões sofridas e disse que passou por exame de corpo de delito, no Pronto-Socorro Municipal.
 
O Exército informou que apura o caso. "Os envolvidos serão punidos e expulsos das fileiras do Exército. O Exército Brasileiro não compactua com qualquer conduta ilícita envolvendo seus integrantes", disse em nota
 
RITO DE PASSAGEM – Uma fonte do 13º Regimento de Cavalaria Mecanizada informou a reportagem que a vítima da tortura tem 19 anos e seria promovido da patente de solado para cabo. Os colegas dele planejaram um rito de passagem, uma tradição medieval, uma espécie de “trote” como existe para os aprovados em vestibulares de universidades. “Mas eles extrapolaram, passaram do ponto em todo os sentidos e passaram para a tortura”, comentou ele. 
 
OUTRO LADO - Em nota, o Comando Militar do Sudeste informou que foi instaurado Inquérito Policial Militar para apurar a denúncia. O Exército informou que apura o caso. "Os envolvidos serão punidos e expulsos das fileiras do Exército. O Exército Brasileiro não compactua com qualquer conduta ilícita envolvendo seus integrantes", disse em nota.