Cerâmica Porto Ferreira enfrenta sua maior crise
empresa que está inadimplente com fornecedores não produz há mais de um ano e meio e não pagou seus funcionários, teve negado seu segundo pedido de recuperação judicial
21 JAN 2025 • POR Redação SCA • 13h20A Cerâmica Porto Ferreira: crise sem precedentes deve encerrar a história de uma das maiores empresas do setor de louça e pisos da história do Brasil
O juiz de Direito, Otacílio José Barreiros Júnior, da Primeira Vara de Justiça da Comarca de Porto Ferreira, extinguiu o processo que deferiu a recuperação judicial da Cerâmica Porto Ferreira S.A. A decisão foi tomada no final de dezembro de 2024. O argumento para a decisão judicial foi de que a inatividade da empresa era muito maior do que a considerada até então. A empresa está com a produção paralisada desde agosto de 2023 e a crise só tende a aumentar.
Durante o processo também foi constatado que a empresa não tinha mais funcionários para retomar a sua produção. A Justiça também observou discrepância entre informações apresentadas pela Cerâmica Porto Ferreira com relação a valores e a realidade constatada no curso do processo. Segundo a decisão judicial, a companhia sequer conseguiu comprovar quais os débitos que teria quitado na recuperação judicial anterior.
PÁ DE CAL - Diante do cenário, a decisão parece ser a pá de cal na cerâmica. A empresa vive atualmente a sua maior crise e é bem provável que encerre suas atividades de forma definitiva. A empresa, que completaria seu primeiro centenário em 1930, enfrenta pelo menos dois pedidos de falência, além de enfrentar mais de 50 ações cíveis. Para piorar, está em débito com a Elektro, que cortou a energia elétrica da fábrica, que está paralisada desde outubro.
Os pedidos de falência da CPF foram feitos pelas empresas New Trade Fundo Investimento e Tatuí Securitizadora SA. A empresa havia conseguido a aprovação de uma recuperação judicial, mas a crise da pandemia da Covid-10 em 2020 e 2021 acarretou ainda mais problemas para a cerâmica.
O Sindicato dos Trabalhadores Ceramistas e Vidreiros (SindVico) moveu várias ações trabalhistas contra a companhia para tentar garantir os direitos trabalhistas dos cerca de 200 trabalhadores que ficaram na produção até o último dia de funcionamento da empresa.
Para tentar amenizar a situação dos antigos empregados da CPF, o presidente do SindVico, Sergio Teodoro de Oliveira fez um trabalho social distribuindo centenas de cestas básicas para as famílias.
Segundo Oliveira, a expectativa agora é para o julgamento das ações trabalhistas. Segundo o sindicalista o objetivo é garantir que os trabalhadores recebam seus direitos e para tanto, está pedindo ao Poder Judiciário a adjudicação dos bens da empresa em favor dos operários.
MOMENTO ÁUREO - No setor de louças, a empresa teve seu grande momento nos anos 1970. Atuando no setor de pisos e revestimentos desde 1987 com maquinário e tecnologia italianos, a empresa viveu um novo auge em 1993, quando foi uma das fundadoras do Centro Cerâmico do Brasil, tendo se engajado ativamente nas questões de certificação do setor e obtido, em 1996, a certificação NBR 13.818 (equivalente à 150 10.545).
Neste mesmo período, a Empresa retomava com força sua vocação exportadora, investindo e focando no mercado externo, o que a levou a ter boa parte de sua produção dedica à exportação para clientes em mais de 40 quarenta países ao redor do mundo.
Nos últimos anos a empresa alegava várias dificuldades, como um brutal aumento nos insumos, principalmente o gás natural, que era sua principal fonte de energia para ativar os fornos utilizados para a produção dos pisos. A ampliação da concorrência nacional e principalmente da chinesa são outros argumentos utilizados para a explicação da decadência da histórica companhia.
PASSADO E PRESENTE
Produção de cerâmica é centenária e destaca Município
Em 1921, Porto Ferreira era uma cidadezinha com 2.000 pessoas as margens do rio Mogi Guaçu, que acabava de sair de um surto de malária e gripe espanhola. Naquele momento, os habitantes estavam doentes e desolados e a pobreza era extrema, assolando as famílias daquele local.
Foi então que Paschoal Salzano, um pedreiro italiano, João Procópio Sobrinho, Jacob Mondim, os irmãos Patire e outros colaboradores, iniciaram um empreendimento transformador. Uniram suas habilidades profissionais, sendo que um sabia fazer chaminés, o outro tijolo e o outro produtos cerâmicos, encontrando na região uma terra rica em argila.
Nascia então, através dessas preciosas mãos, a 1ª fábrica de louças de Porto Ferreira. A fábrica durou alguns anos e infelizmente foi afetada por uma grande depressão econômica, mas logo em seguida, no ano de 1931 um grupo de empresários de São Paulo, liderados por Djalma Forjaz comprou os equipamentos da 1ª fábrica, fundando a “Cerâmica Porto Ferreira”.
No ano de 1933, a nova empresa passou a contar com a colaboração do Engenheiro Nicolau de Vergueiro Forjaz. Em toda a sua carreira, o Engenheiro participou entusiasticamente de todas as associações de classe relacionadas a cerâmica Brasileira, assim como em outros países. Esse grande networking de Nicolau foi primordial para o reconhecimento do pioneirismo da Cerâmica de Porto Ferreira, sendo referência já naquela época a nível Nacional, passando a conquistar o slogan popular de “Capital da Cerâmica”.
Hoje, Porto Ferreira recebe mais de 60.000 visitantes por mês (mais que a população da cidade), em um circuito de compras composto por aproximadamente 230 lojas e 70 indústrias, um grande shopping a céu aberto em um raio de 4 quilômetros, em localização privilegiada paralela a Rodovia Anhanguera, entre as cidades de Ribeirão Preto e Campinas.
O mercado e o desenvolvimento desse nicho está em grande ascensão e a cidade recentemente conquistou o título de Município de Interesse Turístico e de Arranjo Produtivo Local da Cerâmica Artística e da Decoração junto ao Governo Estadual.