Saúde

Especialista do HU-Ufscar explica o que é o chip da beleza, efeitos e riscos de usá-lo

Efeitos colaterais podem ser severos e são imprevisíveis

25 NOV 2024 • POR Assessoria • 10h48
Chip de beleza - Agência Brasil

O “chip da beleza”, dispositivo em forma de bastão que libera o hormônio Gestrinona na circulação sanguínea, ganhou popularidade com a alegação de oferecer benefícios estéticos. Em razão dos efeitos colaterais severos e imprevisíveis, ele teve sua manipulação, comercialização, propaganda e uso proibidos pela Anvisa, em outubro de 2024.

A ginecologista do Hospital Universitário da Universidade Federal de São Carlos  (HU-Ufscar), vinculado à Rede Ebserh,  e professora associada do departamento de Medicina da Ufscar, Maristela Carbol, explica o que é o chip, fala sobre os riscos, e chama a atenção para que o “chip da beleza” não possa ser confundido com os Implantes de Etonogestrel – Implanon, que são aprovados para uso anticoncepcional e que, de forma inadequada, vêm sendo chamados de “chip”.

De acordo com a médica, o “chip da beleza” geralmente é inserido logo abaixo da pele na região do braço, glúteo ou abdome, podendo ficar em torno de seis meses a um ano. A Gestrinona tem propriedade androgênica, o que significa que aumenta os níveis de testosterona no corpo.

Ela explica que, nas décadas de 1970 e 1980, a Gestrinona foi usada para tratamentos de endometriose, para aliviar a dor em cólica (dismenorreia), a dor em baixo ventre (dor pélvica), e para melhorar a resposta morfológica no ovário. Também foi usada para regredir o tamanho dos miomas uterinos e reduzir o volume do útero, resultando em alívio do desconforto abdominal e dor na relação sexual (dispareunia).

“A Gestrinona ganhou popularidade com a alegação de oferecer benefícios estéticos devido à ação dos androgênios (aumento da testosterona), passando a ser chamada de ‘chip da beleza’. Nos últimos anos, a prescrição desse hormônio se tornou amplamente difundida, sendo promovida livremente nas redes sociais, sem suporte ético e científico”, relata a médica.   Segundo ela, o hormônio vem sendo indicado como estratégia para emagrecimento, tratamento da menopausa, antienvelhecimento, redução da gordura corporal, aumento da massa muscular, aumento da libido.

Ela esclarece que a suspensão pela Anvisa foi necessária “porque os efeitos colaterais são imprevisíveis e severos, e superam qualquer benefício”.

“Casos de infarto do miocárdio, trombose e acidente vascular cerebral estão se apresentando cada vez mais comuns. O uso desses ‘chips’ está associado a complicações na pele, fígado, rins, músculos e infecções. Além disso, têm sido cada vez mais frequentes problemas psicológicos e psiquiátricos, como ansiedade, agressividade, dependência, crises de abstinência e depressão”, esclarece a especialista.

Ela chama atenção também sobre outros efeitos observados nas mulheres como:  acne, hirsutismo, queda de cabelo, aumento do clitóris, engrossamento da voz (que é irreversível), irregularidades menstruais, infertilidade e possíveis malformações fetais, no caso de a mulher engravidar durante o uso.

Devido aos efeitos adversos graves, a médica orienta que as mulheres que estão em uso do “chip” façam a remoção o quanto antes.

Rede Ebserh 

O HU-UFSCar faz parte da Rede Ebserh desde 2014. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.