Educação

Em São Carlos, pesquisadora diz que "formação de professores é um problema social"

Debate recebeu pesquisadores, estudantes e professores para falar sobre a formação docente na universidade para o futuro

8 OUT 2024 • POR Assessoria de Imprensa • 07h17
Da esq. p/dir: Rosa Anunciato, Aline Reali, Adilson Oliveira, Maria da Graça e Patricia - ICC

Recentemente, o Instituto de Estudos Avançados e Estratégicos (IEAE) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) realizou a 4ª conferência do ciclo "Universidade para o futuro" com o tema "O futuro da universidade: políticas e pesquisas na formação de professores". O evento recebeu pesquisadores, docentes, estudantes e representantes de diferentes setores da UFSCar para o debate sobre a importância do papel do professor para a sociedade, os desafios na formação docente, além de um resgaste histórico de pesquisas realizadas dentro desse contexto.

O tema foi apresentado por Maria da Graça Nicoletti Mizukami, professora da Universidade Presbiteriana Mackenzie e professora aposentada do Departamento de Metodologia de Ensino da UFSCar, e por Patrícia Albieri Almeida, pesquisadora da Fundação Carlos Chagas. A curadoria desta quarta edição do ciclo foi das professoras Rosa Maria Moraes Anunciato, do Departamento de Teoria e Práticas Pedagógicas (DTPP), e Aline Reali, docente sênior do DTPP e do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFSCar.

Para Patricia Almeida "falar de formação docente é um problema social diante dos problemas que temos na educação. O professor é parte fundamental nesse processo, assim como sua formação. Isso é de responsabilidade da universidade". Ela reflete que a formação de professores sofre impactos com a descontinuidade de políticas públicas, contradição e algumas limitações, como a falta de recursos e a sequência constante de reformas propostas por cada representante político, gerando, ao mesmo tempo, avanços e retrocessos, tensões e desafios. "As universidades têm papel importante para que as políticas públicas de formação docente sejam fruto de debates, reflexões e pautas de discussão e posicionamento crítico", reforça a pesquisadora da Fundação Carlos Chagas.

Com 50 anos de pesquisa sobre o fazer docente e o desenvolvimento profissional da categoria, Maria da Graça Mizukami aponta que a "a docência é uma profissão, assim com as demais, e envolve vários aspectos que abarcam o conhecimento técnico apropriado nas universidades e o conhecimento produzido pelo próprio professor, conforme suas vivências, experiências e processos individuais de construção do conhecimento", relata a visitante. No campo da pesquisa em docência, Mizukami considera que há uma série de avanços do ponto de vista metodológico, incluindo pesquisa-intervenção e planejamento aberto de estudos. "A pesquisa individual está muito comprometida, principalmente pelo caráter interdisciplinar. Em relação aos dados, a tecnologia trouxe vantagens como, por exemplo, a linha do tempo do aluno e do professor a partir dos sistemas de Educação a Distância (EaD)", avalia Mizukami, que participou do projeto do IEAE-UFSCar, em 2015, na elaboração das ideias iniciais do Instituto.

Em relação à EaD, Patricia Almeida destaca que dados do Censo da Educação Superior de 2021 indicam um aumento de 123% nas matrículas na modalidade a distância e a queda de 30% nas matrículas nos cursos de licenciatura presenciais. "Ainda não se sabe muito sobre a formação a distância e há uma mudança no perfil das pessoas que buscam os cursos de licenciatura, comprovado pelos dados do Censo: maioria está na escola pública; primeira geração da família a ter acesso ao Ensino Superior; 51% são pessoas negras; e 61,2% têm renda familiar de até três salários mínimos", apresenta a palestrante. "O problema é que essas pessoas não tiveram uma educação básica de qualidade e vão para a formação superior a distância, ainda com lacunas. E elas, provavelmente, vão ingressar na educação pública. Nesse ponto, se reforça o contexto da universidade que recebe o aluno com lacunas no ensino básico. É preciso refletir sobre isso", complementa Almeida.

No entanto, a representante da Fundação Carlos Chagas reconhece que as redes públicas também têm condições, por vezes, precárias, mas defende que "tem muita coisa boa acontecendo nas licenciaturas pelo país. Há boas experiências formativas acontecendo no Brasil e precisamos reconhecer que os professores das universidades públicas, formando professores, têm se esforçado nesse cenário", conclui.

Adilson de Oliveira, diretor do IEAE-UFSCar destacou a importância do evento para criar novos conhecimentos e avançar na visão sobre a formação docente e reforçou o espaço que o Instituto oferece para pesquisadores, professores e estudantes interessados em compor um Grupo de Trabalho Temático dedicado ao tema.Maria de Jesus Dutra dos Reis, vice-reitora da UFSCar, também participou do evento e valorizou o papel do professor e a importância do evento. "[Professores] são importantes para ensinar e refletir a educação, são pessoas que ensinam pessoas e as tornam críticas diante da sociedade. Discutir essas temáticas nos apoiam a elaborar políticas e reflexões sobre a universidade", refletiu.

A conferência foi transmitida ao vivo e a íntegra está disponível no canal UFSCar Oficial no YouTube (https://bit.ly/3BANFOp/).