Política

Após 8 mandatos, Azuaite não se candidata e projeta se dedicar à ONG voltada a educação

18 SET 2024 • POR Da redação • 08h16
Vereador Azuaite - SCA

O vereador Azuaite Martins de França (Cidadania), de 77 anos, não registrou candidatura para disputar uma reeleição nas eleições deste ano. O vereador se afastará do parlamento para se dedicar a uma organização não governamental na área da educação.

“A câmara tem que ceder lugar para novas pessoas que sonham, para novas pessoas com ideais diferentes do meu. Espero que a Câmara seja representada por pessoas altamente qualificadas e que estejam à altura do sonho da população de São Carlos”, declarou o vereador em seu gabinete nesta terça-feira (17), em entrevista exclusiva para o portal São Carlos Agora.

Azuaite atuou como vereador nos períodos de 1983 a 1988, de 1989 a 1992, de 1993 a 1996, de 1997 a 2000, de 2001 a 2004, de 2005 a 2008, de 2017 a 2020. Entre 1997 e 1998, Azuaite foi presidente da Câmara Municipal. Ao concluir o atual mandato, de 2021 a 2024, o vereador completará oito mandatos, totalizando 34 anos de legislatura. 

Quando conseguiu se eleger pela primeira vez em 1982, o professor Azuaite obteve 1.062 votos. Seis anos depois, em 1988, Azuaite registrou os mesmos 1.062 votos. “Acho que todos sobreviveram para votar seis anos depois em mim”, afirmou em tom de brincadeira. Na eleição de 2020, o professor alcançou 1.308 votos.

Azuaite é formado em Letras e em Ciências Sociais pela UNESP, em Direito pela FADISC, em pedagogia, e é pós-graduado em sociologia pela PUC de São Paulo. Ademais, é vice-presidente estadual do Centro do Professorado Paulista (CPP) e diretor do CPP de São Carlos.

Durante a entrevista, o professor Azuaite detalhou sobre o motivo não se candidatar à reeleição, momentos que ficaram marcados como vereador e a possibilidade de aceitar um convite para atuar no Executivo.

Confira abaixo entrevista com o vereador Azuaite.

Por que o senhor resolveu não se candidatar às eleições de 2024?

Já há algum tempo eu vinha maturando essa ideia. Afinal, são 8 mandatos, um mandato de 6 anos, 7 mandatos de 4 anos, totalizando 34 anos de Câmara Municipal. Amo a Câmara, amo o parlamento. Só tenho a dizer às pessoas que a vivência na Câmara representou para mim uma grande escola e uma grande experiência, mas ninguém é eterno. Se você joga uma semente no solo, tem-se a expectativa de vê-la germinar e nascer dali uma árvore. Então, a semente tem que perecer em algum momento para a vida recomeçar. Por isso, eu tenho que deixar a Câmara para que uma nova vida ou novas vidas recomecem. Acho que é importante deixar a semente, a semente do sonho, a semente das ideias, a semente do comportamento, a semente do exemplo. Deixo a Câmara em um momento em que eu poderia estar concorrendo com boas expectativas e ser novamente vitorioso, mas a gente tem que ter sonho de fazer alguma coisa mais avançada, uma coisa melhor do que esteja fazendo. Tenho um novo projeto para desenvolver e precisarei da Câmara no futuro. Mas eu me desqualificaria se fosse vereador e tivesse que executar este projeto. Então, eu deixo de ser vereador, mas continuo fazendo política, tendo minha opinião. Porém, em outro campo.

Vereador, o que seria este novo projeto?

Este projeto é um grande desafio que já está sendo elaborado com professores de São Carlos, São Paulo, do Rio de Janeiro, Brasília. Ele nasce da constatação que São Carlos é uma cidade reconhecida pela excelência nos cursos universitários de ensino e pesquisa, mas o mesmo não pode ser dito a respeito do ensino básico, quero dizer, o ensino fundamental e o médio, que carecem de apoio, que carecem de uma visão maior do que aquela que hoje tem.  Então, eu estarei trabalhando numa organização não governamental, implantando uma ideia para que essa organização não governamental venha se transformar em uma instituição estado, não de governo, para apostar no ensino básico, para financiar os bons projetos que são produtos da relação professor aluno na sala de aula e, assim, elevar o nível da educação em São Carlos. Será uma ONG voltada somente para São Carlos. Existem experiências semelhantes no Brasil? Eu desconheço. Se não der certo, eu tentei.  Se der certo, será um case a ser replicado em outros municípios brasileiros e a ser fortalecido no município de São Carlos. É um sonho, mas tenho que semear sonhos, tenho que viver sonhos e trabalhar para que o sonho se realize.

De todos esses anos no Legislativo, o que ficou mais marcado?

Existem coisas de que eu me orgulho pela ação que tive. Por exemplo, houve um momento aqui em São Carlos em que se pretendeu queimar livros didáticos na praça pública. Na época, toda imprensa, parte das igrejas e da Câmara Municipal faziam campanha querendo a queima de livros didáticos. Apenas eu me posicionei contra a queima de livros didáticos. Sai em defesa dos professores, pois estes estavam sendo processados na Justiça. Fui atrás de advogado.  O Jânio Quadro era prefeito na época em São Paulo (1986 a 1989) e tentou replicar o ato em São Paulo e se deu mal. Nós vencemos. Brasil não é país medieval, seu povo não é ignorante, existe uma resistência e me orgulho de fazer parte dessa resistência. Então, são coisas dessa natureza que fiz como vereador e como cidadão e que me orgulho muito.

Existe a possibilidade de atuar no executivo caso o novo prefeito faça um convite?

Olha, eu quero colaborar e continuar falando e ser ouvido. Eu não almejo cargo público, não preciso disso para viver. Quero ter tempo para me dedicar à família, para viajar bastante, ler, escrever, estudar mais um pouco.  Tenho um acordo com o Newton? Tenho. Qual é? O de replicar aqui em São Carlos a experiência do IPUC (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba). Mas isso não significa que eu queira presidir IPUC. Nada disso, eu quero que ele exista e funcione com gente competente.