Creche e Pré-Escola da USP São Carlos sublinha a importância da investigação científica nos primeiros anos de alfabetização
6 SET 2024 • POR (*) Rui Sintra • 07h00Iniciar os conceitos de investigação científica nos primeiros anos de alfabetização é crucial e os professores têm um papel fundamental nessa ação, já que introduzir esse tema desde cedo ajuda as crianças a desenvolverem habilidades de pensamento crítico. Esta é a base de um interessantíssimo projeto que se encontra em curso desde 2018 na Creche e Pré-Escola da USP de São Carlos, tendo como orientador o Prof. Dr. Herbet Alexandre João. Ali, as crianças aprendem a questionar, observar, experimentar e refletir sobre o mundo ao seu redor, o que fortalece a capacidade de análise e a resolução de problemas. Sendo naturalmente curiosas, a investigação científica alimenta essa curiosidade nas crianças, encorajando-as a explorar e a buscar respostas por conta própria. Com o trabalho dos professores, isso pode promover um interesse duradouro por aprender e descobrir. Por outro lado, a prática de investigar cientificamente permite que as crianças construam uma base sólida para o entendimento de conceitos mais complexos no futuro. Ao entenderem os processos básicos de causa e efeito, observação e experimentação, elas estão mais bem preparadas para os desafios acadêmicos que surgirão ao longo de sua vida. A integração multidisciplinar e a promoção de autoconfiança são também dois fatores que deverão ser levados em linha de conta. Nesse sentido, a investigação científica levada até às crianças nas primeiras fases da educação não se limita apenas às ciências naturais, já que ela integra também a matemática, a linguagem e até mesmo as artes, promovendo uma aprendizagem mais holística e conectada. Os professores têm, em todo este processo, uma importância vital, já que quando as crianças participam de atividades de investigação científica, elas têm a oportunidade de fazer descobertas por si mesmas, o que pode aumentar sua autoconfiança e o senso de realização. Por último – e não menos importante -, quando os professores levam até às crianças os primeiros conceitos de investigação científica, eles acabam por ensinar também um conjunto de valores essenciais, como a importância da evidência, o respeito pelas diferentes opiniões baseadas em dados e o papel da ciência na sociedade, tudo isso contribuindo para a formação de cidadãos mais conscientes e informados. Incorporar essas práticas no início da alfabetização, tendo como exemplo o projeto acima citado desenvolvido na Creche e Pré-Escola de da USP de São Carlos, pode influenciar positivamente o desenvolvimento intelectual e social das crianças, preparando-as para serem pensadores críticos e solucionadores de problemas no futuro. Para Herbert João, com o qual tivemos o prazer de conversar, esse trabalho é extraordinariamente produtivo porque a metodologia utilizada baseia-se no desenvolvimento de atividades pedagógicas que são sempre pautadas no interesse das crianças. E, partindo desse pressuposto e observando os interesses dessas crianças, os professores começaram a contribuir com a creche, produzindo os materiais e atividades pedagógicas que pudessem contribuir para que elas ficassem imersas nesse mundo da ciência, utilizando, desde a primeira infância, uma linguagem científica que evite analogias muito pobres ou incorretas, buscando criar e fazer essa alfabetização e letramento científico, o brincar e o explicar. Entre as inúmeras atividades desenvolvidas, contam-se demonstrações experimentais na área de eletrostática, partindo do interesse das crianças - por exemplo, de onde vem os raios e os trovões a chuva -, ou atividades na área de óptica, com a construção de câmaras escuras, ou, ainda, outras atividades que incluem a observação e investigação de diferentes folhas de árvores e plantas com a finalidade de compreender a diferença entre as espécies, ou mesmo observar o céu para compreender o movimento do sol, tudo isto tendo em consideração que o objetivo principal é que as crianças tenham contato com a ciência a partir do brincar. Em suma, respeitam-se a intencionalidade pedagógica e o direito de brincar, não existindo uma proposta de ensino no modelo verticalizado tradicional, como existe nos ensinos fundamental e médio. Entre a produção de histórias em quadrinhos e a realização de atividades pedagógicas, o recente destaque levado a efeito pela Creche e Pré-Escola da USP de São Carlos foi a visita monitorada realizada ao laboratório de ensino de biologia do Instituto de Física de São Carlos, (LEF-IFSC/USP), cujo foco foi explicar às crianças como são desenvolvidas as pesquisas relacionadas à dengue, tendo em consideração que a doença se manifesta, atualmente, de forma muito intensa no Estado de São Paulo, principalmente em São Carlos e em cidades da região. Esta atividade, através de uma iniciativa da Profª Margarete Marchetti - Creche e Pré-Escola da USP São Carlos - e idealizadora da atividade “Investigando o ciclo do mosquito da dengue”), teve o intuito de engajar as crianças para que elas contribuíssem no combate à disseminação da doença da dengue a partir da eliminação das larvas do mosquito transmissor, e o resultado foi muito expressivo, com as crianças a produzirem diversos materiais, inclusive - e especialmente - um cartaz que foi colado em diversas unidades do Campus, uma ação certamente relevante, já que essas crianças protagonizaram a ação, propiciando que internalizassem os conceitos e, claro, acabando reproduzindo isso em casa com os familiares, contribuindo para que se reforce o combate a essa doença. Cabe aqui destacar aos meus leitores – por direito inquestionável – que, além do Prof. Herbert Alexandre João, este sensacional o projeto conta com o apoio incondicional da Prefeitura do Campus USP de São Carlos, do Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP) e da Creche, através das participações do atual prefeito do campus, Prof. Dr. Luís Fernando Costa Alberto e pelo Prof. Dr. Marcelo Alves Barros (IFSC/USP) - responsáveis pelos projetos PUB; a bolsista do projeto, Paloma Emanuele dos Santos Sobrinho (Estudante de Graduação em Química no Instituto de Química de São Carlos (IQSC/USP); Liliane Terra Pereira Araújo (Supervisora Técnica do Serviço de Creche e Pré-Escola), além de outros membros da equipe pedagógica e técnicos da creche. Tudo isto muito próximo dos projetos que estão em curso, por exemplo, em diversos países da União Europeia. Muito bom!!!
O autor é jornalista profissional/correspondente para a Europa pela GNS Press Association / EUCJ - European Chamber of Journalists/European News Agency) - MTB 66181/SP.
Esta coluna é uma peça de opinião e não necessariamente reflete a opinião do São Carlos Agora sobre o assunto.