Aranha-violino: Butantan alerta sobre cuidados, sintomas e tratamento
25 AGO 2024 • POR Da redação • 11h18O caso ganhou repercussão mundo afora, inclusive no Brasil. Com a tragédia, ficam as perguntas: quão perigosa de fato a Loxosceles pode ser? Toda picada dela mata? Tem tratamento para a picada?
“As aranhas não querem necessariamente picar ninguém. A grande maioria que aparece nas casas ou em outros ambientes é inofensiva, mas há espécies que podem realmente causar sérios problemas à saúde de quem for picado. Identificá-las pode ser um desafio, mas para isso vale uma preciosa dica: nem sempre as maiores são as mais perigosas”, afirma o aracnologista e pesquisador científico do Instituto Butantan Antonio Brescovit.
Dá para identificar uma Loxosceles?
As Loxosceles têm em torno de três centímetros de comprimento e podem ter cores variadas, tornando o nome “aranha marrom” inadequado. “Chamá-la de marrom não ajuda a identificá-la, já que existem algumas como a Loxosceles intermedia que é avermelhada e ocorre praticamente em todo o Sul do Brasil”, afirma Antonio Brescovit.
Ela também é conhecida como aranha-violino porque tem um desenho em seu abdômen que lembra um violino.
As aranhas do gênero Loxosceles ocorrem, sobretudo, na América do Sul, mas algumas também em outros continentes, como a Loxosceles rufescens, que se originou no mediterrâneo, mas atualmente é encontrada em outras regiões. As Loxosceles rufescens são minúsculas, podendo ter menos de 10 milímetros, e podem ser encontradas em cavernas e em residências, mas não estão registradas no Brasil.
Todas as aranhas do gênero Loxosceles são peçonhentas e consideradas de “importância médica”, termo que indica que os venenos delas são perigosos para a saúde humana, ao mesmo tempo em que são matéria-prima na produção do antiveneno, usado no tratamento.
No Brasil, ocorrem pelo menos 19 espécies de aranhas Loxosceles que não são consideradas agressivas, tendendo a picar somente por defesa quando pressionadas junto ao corpo humano. Apesar do temperamento dócil, elas estão entre as aranhas mais perigosas para os seres humanos.
“Geralmente as picadas com a aranha-marrom ocorrem quando ela se esconde entre as roupas nos armários ou enquanto se deslocam nos tetos durante a noite e caem em cima da cama de pessoas que estão dormindo, que podem ser picadas quando se mexem e pressionam o animal”, explica o pesquisador do Butantan.
Na natureza, elas costumam ficar escondidas sob cascas de árvores, barrancos e em folhas secas.
As Loxosceles rufescens podem ter menos de 10 milímetros e ser encontradas em cavernas e em residências
A picada de Loxosceles causa, geralmente, dor leve a moderada no local. Em até 24 horas, porém, pode surgir uma lesão arroxeada e dolorida, que tende a progredir para uma necrose em até três dias. Essa evolução vai depender da quantidade de veneno que foi injetada.
Em alguns casos, o envenenamento pode causar anemia e icterícia, e os de maior gravidade podem levar à insuficiência renal e à morte. Estes quadros ocorrem devido ao processo de hemólise (quebra de hemácias do sangue), típico deste tipo de envenenamento, que é comprovado por exames de sangue.
A necrose característica do veneno da Loxosceles pode ser confundida com infecções cutâneas, por isso, outras manifestações também devem ser consideradas. “Não é só o veneno da Loxosceles que causa necrose: infecções fúngicas, bacterianas e algumas virais também. Se um paciente chega com necrose dizendo que foi picado ontem, não pode ser por Loxosceles. Além disso, a picada dela não causa pus”, afirma a médica Ceila Malaque, do Hospital Vital Brazil (HVB), vinculado ao Instituto Butantan.
Tem tratamento?
O soro antiaracnídico produzido pelo Instituto Butantan tem a função primordial de neutralizar o veneno e, por isso, é indicado mesmo dias depois da picada, se for comprovado o processo de hemólise no organismo. Se aplicado em até 48 horas após o acidente, o soro pode ainda prevenir a necrose cutânea e, por consequência, a perda de tecido no local da picada.
O que fazer ao encontrar uma aranha?
A aranha tende a somente picar alguém se se sentir realmente ameaçada ou pressionada ao corpo. No geral, elas tentam fugir ao se depararem com pessoas, explica Antonio Brescovit. E o fato de se movimentarem mais à noite, justamente por serem noturnas em sua maioria, diminui ainda mais essa probabilidade. “Ao se deparar com uma aranha, o ideal é não tocá-la diretamente, mas deslocá-la para fora da residência com uma vassoura ou outro objeto”, orienta o aracnologista.