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Especialistas da USP analisam novo plano brasileiro de inteligência artificial

Lançada no dia 30 de julho, a iniciativa prevê R$ 23 bilhões de recursos para o desenvolvimento da área no país

13 AGO 2024 • POR Assessoria de imprensa • 18h40

Como um dos principais centros de pesquisa em inteligência artificial (IA) do Brasil, o Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos, recebeu com entusiasmo o lançamento do Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA) 2024-2028, anunciado no dia 30 de julho durante a 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (5CNCTI). Resultado de uma ampla consulta com especialistas, incluindo acadêmicos e representantes de diversos setores, o plano visa orientar o desenvolvimento e a aplicação ética e sustentável da IA no Brasil.

O professor André de Carvalho, diretor do ICMC, participou de duas reuniões no Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), onde foram discutidas sugestões para o plano. Ele acredita que o PBIA terá um impacto significativo em várias áreas, incluindo o fortalecimento de instituições como o ICMC: “O plano trará benefícios significativos para o nosso Instituto, especialmente na formação de pesquisadores e no avanço de nossas pesquisas em inteligência artificial. Com o investimento em infraestrutura e a inclusão de desafios relevantes, o PBIA fortalecerá nossa posição no cenário global e impulsionará o desenvolvimento científico e tecnológico no Brasil.”

Para o professor Alexandre Delbem, do ICMC, a nova estratégia nacional de IA trouxe diretrizes mais claras e bem definidas em comparação com planos anteriores, que muitas vezes eram confusos ou contraditórios. “Essa mudança de postura é essencial para o avanço tecnológico”, diz.

Também professor no ICMC, Fernando Osório destaca a importância de o Brasil se posicionar estrategicamente no cenário internacional, colaborando com outros países, mas também defendendo seus próprios interesses e valorizando sua expertise em dados específicos disponíveis em língua portuguesa. “É crucial que o Brasil, ao buscar parcerias globais, não apenas contribua com seu conhecimento, mas também assegure que suas particularidades, como as características sociais, culturais e linguísticas, sejam reconhecidas e preservadas”, afirma Osório.

O Plano – Intitulada “IA para o Bem de Todos”, a proposta prevê um investimento total de R$ 23 bilhões ao longo de cinco anos, distribuídos em cinco eixos principais: infraestrutura (R$ 5,79 bilhões), formação e capacitação de pessoas (R$ 1,15 bilhão), melhoria dos serviços públicos (R$ 1,76 bilhão), inovação empresarial (R$ 13,79 bilhões) e apoio à regulação e governança da IA (R$ 103,25 milhões). Também está prevista a aquisição de um supercomputador que deverá figurar entre os cinco mais potentes do mundo, com capacidade necessária para atender às demandas de pesquisa em IA no Brasil.

Para Osório, embora o investimento seja significativo, surgem preocupações sobre a capacidade do Brasil para receber e operar equipamentos dessa magnitude, considerando as atuais limitações de infraestrutura. Delbem, por sua vez, acredita que os valores previstos serão insuficientes para alcançar os objetivos ambiciosos do plano: “Mesmo com esses valores expressivos, o investimento é em reais e já chega desvalorizado quando consideramos a inflação em dólar.”

A burocracia e a necessidade de um planejamento de longo prazo também são vistas pelos especialistas como obstáculos ao desenvolvimento do PBIA. “Áreas como a infraestrutura computacional exigem investimentos contínuos para se manterem competitivas. Sem uma visão estratégica abrangente, a alocação de recursos pode comprometer a efetividade do plano. Além disso, a burocracia pode gerar um descompasso entre o planejamento e a realidade tecnológica, impactando a gestão e a implementação do plano”, acrescenta Delbem.

Outro enfoque do PBIA é implementar uma infraestrutura energética renovável, com investimento previsto de R$ 500 milhões para 42 projetos, visando o desenvolvimento sustentável da IA no Brasil. Para Osório, essa estratégia é essencial devido ao alto consumo de energia necessário para processar a IA. “Se essa demanda não for suprida por fontes limpas, a IA pode se tornar insustentável”, explica Osório.

O PBIA também inclui a formação de pesquisadores especializados em IA como uma de suas prioridades, o que pode trazer benefícios significativos para o ICMC, que tem um dos programas de pós-graduação que mais forma profissionais na área no Brasil. “Poderemos oferecer valores diferenciados para as bolsas de pesquisa, o que ajudará a ampliar o número de pesquisadores em IA. Além disso, grande parte das propostas do plano serão implementadas nos dois centros de pesquisa em IA aplicada do ICMC. O plano também aborda desafios e problemas diretamente relevantes para nossas pesquisas em andamento, fortalecendo a importância científica e prática das áreas que já investigamos”, destaca o diretor do Instituto.

Para os professores do ICMC, embora haja desafios de implementação significativos, o PBIA  poderá contribuir com o avanço tecnológico e científico no Brasil, elevando sua competitividade internacional e sua relevância em questões econômicas, sociais e ambientais.