Procedimento inédito no mundo

Robô é utilizado para cirurgia em criança de sete meses no HC de Ribeirão Preto

6 AGO 2024 • POR Reprodução/HC • 10h07
Equipe que realizou o procedimento - divulgação

Uma equipe de cirurgia pediátrica do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto realizou um procedimento inédito ao operar uma criança de sete meses utilizando um robô. A operação, que envolveu a retirada de 98% do pâncreas da paciente, foi a primeira desse tipo registrada na literatura médica internacional para uma criança com oito quilos.

O procedimento foi realizado em 15 de maio, por causa de uma doença congênita rara que faz com que o pâncreas da criança produza insulina em excesso, levando a riscos graves como coma. “Achamos que era uma oportunidade de propor a cirurgia robótica para esta paciente. Foi uma decisão madura e responsável da nossa equipe, visto que, parte da equipe se dedicou ao treinamento da robótica e, nos últimos anos, por estarmos em um Hospital de referência, já havíamos realizados várias cirurgias como essa por “vídeo laparoscopia””, explicou o cirurgião Fábio Volpe,  da Divisão de Cirurgia Pediátrica e Transplante de Fígado e docente da FMRP.

A decisão de utilizar a cirurgia robótica foi baseada na necessidade de precisão extrema, em razão da pequena dimensão do órgão. “A parte retirada do pâncreas tinha em torno de quatro centímetros, e o total deveria ter mais ou menos uns cinco centímetros. Operar com robô é mais fácil do que pelo modo tradicional. O robô dá uma precisão maior para nós e amplia a imagem, tornando as estruturas mais evidentes. É como se eu estivesse com o meu próprio olho com uma lupa dentro da cavidade abdominal, conseguindo ver as estruturas que ficam mais evidentes. Achei a cirurgia robótica superior à videolaparoscopia”, afirma Wellen Canesin, cirurgiã pediátrica e do transplante de fígado.

O procedimento envolveu uma equipe multidisciplinar, incluindo especialistas em endocrinologia pediátrica, biologia molecular, patologia, e cuidados intensivos pediátricos. A colaboração entre essas áreas foi crucial para o diagnóstico preciso e o tratamento eficaz, destacando o Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto como um centro de referência no Brasil para o tratamento de hiperinsulinismo congênito e cirurgias minimamente invasivas em pediatria.

Doença – “O hiperinsulinismo congênito é uma doença bastante rara, que envolve a produção de insulina de forma descontrolada. No indivíduo normal, quando ficamos um tempo sem comer e o nível de glicose no sangue começa a cair, o corpo reduz a produção de insulina. Na criança que tem hiperinsulinismo congênito, isso não ocorre. Então, independentemente do nível glicêmico, a produção de insulina é descontrolada, o que acaba gerando hipoglicemia nas crianças”, explica o endocrinologista pediátrico Rafael Del Roio Liberatore Junior, e professor da FMRP.

Futuro – Para Lucimara Costa, mãe, foram tempos difíceis que ela quer deixar para trás e pensar apenas no futuro ao lado da filha e da família. “Quero que ela tenha uma vida normal, que ande, fale, vá para a escola e tenha uma formação. Quero que ela tenha uma vida normal. Meu futuro terá que ser reconstruído. Abandonei meu trabalho e minha sala comercial por ela. Estou vivendo um dia de cada vez. Não desisti dos meus sonhos, mas preciso de tempo para reconstruir minha vida. Vou devagar, sem criar muitas expectativas. Mas acredito que será reconstruído, se Deus quiser junto com ela”.