Lágrimas pela educação e inclusão
10 MAR 2023 • POR (*) Rui Sintra • 07h03Embora hajam “lágrimas de crocodilo” vertidas um pouco por todo o Brasil e nas mais diversas situações, para mim é muito fácil distinguir quando alguém verte uma lágrima sincera num momento de comoção - seja ele de alegria ou de tristeza -, já que minha sensibilidade também funciona assim - nos poros da pele. O lançamento, no dia de ontem, do projeto “Cientistas do Amanhã - Jovens Negros”, um programa coordenado pelo professor Antonio Carlos Hernandes, da USP de São Carlos, foi um dos momentos mais sublimes que vivi, ao ter constatado que, de fato, tem muitas pessoas que sentem e lutam pela educação e inclusão dos mais jovens em São Carlos. O projeto inicial denominado “Cientistas do Amanhã” completou em 2022 o seu décimo aniversário, tendo sido criado exatamente pelas mãos de Antonio Carlos Hernandes e cujo objetivo maior continua a ser apoiar os alunos da escolas de nossa cidade a alcançarem o ensino superior - a entrarem na universidade. E, se até aqui aderiram largas centenas de jovens, sendo que a grande maioria logrou entrar em cursos superiores, o certo é que nunca se fez um recorte desses contingentes, nomeadamente relativo a gênero, cor e raça, algo que muda agora com o revigorado projeto “Cientistas do Amanhã - Jovens Negros”. E este projeto tem um objetivo muito claro - prover o apoio aos jovens estudantes negros através de períodos de pré-iniciação científica e de aulas que os ajudem a interpretar e entender as aulas das disciplinas básicas em suas escolas, para que possam ter acesso ao ensino superior. Do contingente de alunos (100) que participarão deste projeto, mais de 50% são oriundos da Escola João Batista Zavaglia, localizada na periferia de nossa cidade. Na cerimônia de apresentação do projeto, a expressão dos olhos de quem participou não deixou margem para dúvidas. Antonio Carlos Hernandes por diversas vezes ficou com a voz embargada, a ponto de fazer pequenas pausas, enquanto o secretário municipal de ciência e tecnologia, José Galizia Tundisi, várias vezes baixou a cabeça para esconder a emoção. O vereador Bruno Zancheta - que também é professor - bem tentou disfarçar o que sentia, mas sua expressão no olhar o traiu por diversas vezes. A comoção contagiou todos os presentes - a dirigente de ensino de São Carlos, Débora Gonzalez Costa Blanco, o atual responsável pelo Instituto de Estudos Avançados - Polo de São Carlos, Frank Nelson Crespilho, a Profª Yvonne Primerano Mascarenhas, e , ainda, o diretor do Instituto de Física de São Carlos (USP), Osvaldo Novais de Oliveira Junior, que, na oportunidade e perante todos, recordou comovidamente suas origens, suas raízes. E, se este projeto começou assim, com uma demonstração por parte de todos os que participaram desse momento, com visíveis manifestações de amor, carinho e solidariedade, não há como duvidar do sucesso desta iniciativa que tende a envolver com um grande abraço e com lágrimas de emoção a Educação e a Inclusão em nossa cidade.
O autor é jornalista profissional / correspondente para a Europa pela GNS Press Association / EUCJ - European Chamber of Journalists / European News Agency) - MTB 66181/SP.
Esta coluna é uma peça de opinião e não necessariamente reflete a opinião do São Carlos Agora sobre o assunto.