Trabalho normal é composto por uma série de cinco ações, cada uma delas com a duração de uma jornada de trabalho convencional – um período de 8h. Todas as ações da série são inúteis e não geram nenhum resultado ou produto do ponto de vista prático. O espetáculo acontece no Sesc São Carlos, de 28 de fevereiro até o dia 4 de março.
Com projetos desenvolvidos em dança, performance e vídeo, Cláudia Müller traça em seus processos artísticos conexões entre a dança e as artes visuais por meio de obras marcadas por um particular interesse na crítica institucional, nas relações entre arte e trabalho e nas poéticas e políticas do encontro com e entre o público.
O que instiga a artista Cláudia Müller é trazer para o cerne o que parece marginal à obra: a construção do papel do artista no âmbito social, político e nas instituições artísticas; e as articulações entre artista, obra, instituição e sociedade.
Dentre os trabalhos artísticos de Cláudia Müller que se destacam estão: Dança Contemporânea em Domicílio (2005), Caixa-Preta (2006), Exhibition (2010) e Trabalho normal (2018).
Em Dança contemporânea em domicílio de 2005 a artista investigava a experiência de “entregar” dança contemporânea em locais onde ela não é esperada, buscando espaços despercebidos, brechas no cotidiano. Qualquer pessoa pode solicitar gratuitamente dança contemporânea em domicílio em qualquer lugar que queira recebê-la (em sua casa, escritório, loja, mercado, em uma praça ou no café que frequenta etc.).
Em 2010 na performance Exhibition, problematizava a relação que constitui o sistema da arte, dava visibilidade aos agentes deste sistema, como o artista, o crítico, o curador, o espaço destinado à arte, instituições culturais, como o Sesc, museus, galerias, o público e a mídia.
Agora em Trabalho normal a artista se ocupa em cinco ações: uma para cada dia da semana de uma jornada convencional de trabalho. Oito horas a cada dia. Uma hora para o almoço. Uma jornada de trabalho já não tão óbvia pertencente, sobretudo, aos tempos modernos e à tradição fordista. As ações dessa performance se relacionam com projetos de artistas que discutem o paradoxo da inutilidade da arte: Francis Alÿs, Marta Soares, Los Torreznos, Brígida Baltar, Bas Jan Ader e Tehching Hsieh.
Em sua tese de doutorado apresentada em 2020, Dançar, trabalho normal, Cláudia Müller examina as negociações que estabelecem as condições de apresentação de trabalhos de dança contemporânea em instituições brasileiras que os incluem em suas programações.
“...Trabalho normal, tem como mote embrionário a pergunta: como realizar uma prática artística que seja, ao mesmo tempo, um “trabalho normal”? “Trabalho normal”, nesse sentido, corresponde a profissões e atividades tradicionais que pressupõem uma rotina previsível, tarefas funcionais e objetivas ou facilmente definidas pelo senso comum...
... é uma espécie de resposta. A minha resposta a uma pergunta que comumente se faz a certos perfis de artista: e trabalhar, assim, ‘normal’, você trabalha? A que ofícios não se faz esta pergunta? Que ocupações são por si tão óbvias e sob as quais não pairam quaisquer dúvidas sobre sua razão e utilidade? O que regula, define, caracteriza o trabalho considerado “normal”?”
Agora, uma coisa é quase certa, nos cinco dias em que a performance acontece no Sesc São Carlos, muitas pessoas que frequentam a unidade, ao chegar na área de convivência, vão esbarrar com a artista Cláudia Müller em seu Trabalho normal.
E talvez esse público até aborde a artista em meio a performance com algumas perguntas corriqueiras, tipo, onde se localiza a lanchonete? onde faz exame médico? ou então pedir para renovar a credencial do Sesc, sim, e Cláudia estará em sua performance e pode de maneira mimética se misturar entre os mais de 100 empregados do Sesc São Carlos.
SOBRE CLÁUDIA MÜLLER
É artista com projetos desenvolvidos em dança, performance e vídeo. Seus processos artísticos traçam conexões entre a dança e as artes visuais por meio de obras marcadas por um particular interesse na crítica institucional, nas relações entre arte e trabalho e nas poéticas e políticas do encontro com e entre o público.
Doutora e Mestre em Artes pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), é também docente do curso de Dança da Universidade Federal de Uberlândia (UFU).
Atuou em cias. de dança em SP, RJ e na Alemanha (1990-2000). Sua formação artística inclui balé clássico, dança contemporânea, performance e artes visuais.
Em 2000, começou a desenvolver seus próprios trabalhos, apresentados em festivais e centros de arte no Brasil (Palco Giratório, Panorama de Dança/RJ, Mostra SESC de Artes/SP), Argentina (Festival de Danza de Buenos Aires), Chile (Escena Doméstica, Festival UARCIS/Santiago), Colômbia (Festival de Danza Contemporánea/Bogotá), Espanha (In-Presentable/Madrid, BAD/Bilbao, La Laboral Escena/Gijón, ARTIUM/Vitoria), Marrocos (On Marche/Marraquexe), e Portugal (Festival Al Kantara/Lisboa), entre outros. Em 2015, circulou por 22 cidades do Brasil com o trabalho Dança Contemporânea em Domicílio, apresentando-se e ministrando oficinas através do projeto Palco Giratório do Sesc Nacional.
FICHA TÉCNICA
Concepção, criação e performance: Cláudia Müller
Colaborações: Clarissa Sacchelli e Renan Marcondes
Programação Visual: Theo Dubeux
Produção Executiva: Milene Chinquio
Produção: Bloco Lab
Apoio: Adelina Instituto Cultural, Azala Espacio de Creación, Graner - Centro de Creación de Danza y Artes Vivas, Iberescena - Fundo de Ajuda para as Artes Cênicas Iberoamericanas.
SERVIÇO
Data: de 28 de fevereiro até 4 de março.
Horário: terça a sexta, das 13h às 22h e sábado, das 9h30 às 18h30.
Ingressos: Grátis.
Local: Unidade São Carlos – Av. Comendador Alfredo Maffei, 700 – Jd. Gibertoni – São Carlos – SP
Mais informações pelo telefone: 3373-2333