Esta notícia, veiculada pela Agência Lusa (Portugal) em finais do mês de junho passado, dá conta do desenvolvimento de uma vacina experimental no Instituto Português de Oncologia (IPO), localizado na cidade do Porto, que, além de permitir gerar anticorpos que são capazes de reconhecer células tumorais, consegue criar uma memória em nível imunológica. Em fase pré-clínica e já com os testes concluídos “in vitro” e “in vivo”, através de camundongos, os resultados obtidos com este prototipo de vacina apontam que ela poderá, inclusive, servir como proteção contra o regresso de um estado cancerígeno. Os pesquisadores do IPO desenvolveram este prototipo de vacina a partir dos açúcares que se encontram em células tumorais, para, dessa forma, “educar” o sistema imunitário a se defender e atacar os tumores. Segundo declarações prestadas à Agência Lusa, o pesquisador José Alexandre Ferreira esclareceu que o protótipo da vacina é o resultado de mais de uma década de trabalho. Os pesquisadores portugueses começaram por tentar perceber as alterações de padrões de glicosilação, ou seja, como é que os açúcares que cobrem as células se alteram com o câncer e com a progressão da doença. "Identificámos que as células tumorais mais agressivas, num conjunto de tumores, perdem a capacidade de expressar estes açúcares mais complexos e exuberantes, passando a expressar açúcares imaturos e muito mais simples", referiu o especialista do grupo de Patologia e Terapêutica Experimental do CI-IPOP. Esta descoberta terá sido o "ponto de partida" do trabalho que, posteriormente, tentou identificar que proteínas estavam associadas a estes açúcares e entender a sua função biológica. "Achamos que seria interessante criar ferramentas para ensinar o sistema imunológico a responder a células que tinham estas alterações de glicosilação, que são células muito envolvidas no processo de agressividade da doença e de disseminação", pontuou o pesquisador. A investigação passou, entretanto, por uma série de etapas, culminando neste protótipo de vacina, entretanto já patenteado. Cerca de 80% dos tumores sólidos, tanto em fases iniciais como muito avançadas, expressam estas alterações, "o que significa que o espetro de aplicação é muito grande". Esta alteração nos açúcares foi também identificada nas metástases. "Temos evidências que se pode encontrar estes padrões de glicosilação em tumores de bexiga, gástricos, colorretal, mas muitos outros", acrescentou o pesquisador. Segundo a mesma notícia publicada pela Agência Lusa, apesar dos resultados serem promissores, continuam por superar alguns desafios antes da aplicação clínica, sobretudo relacionados com o ambiente imunossupressor induzido pelos tumores mais agressivos. O mesmo pesquisador salientou nesta matéria da Agência Lusa a importância não só das pessoas perceberem os avanços que estão a ser feitos, mas também de terem a percepção de que este é um processo longo de validação, para que depois a solução apresentada ao doente seja segura e eficaz. Também à Agência Lusa, o coordenador do grupo de Oncologia Molecular e Patologia Viral do centro de investigação, Lúcio Lara, salientou que serão necessárias provas e contraprovas de que a vacina funciona, é útil, não prejudica os doentes e "pode vir a ser uma boa arma". “Só depois de confirmado o resultado dos ensaios diante das autoridades responsáveis será possível desenhar um ensaio clínico", adiantou. Esta fantástica pesquisa contou com a colaboração de especialistas do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S), Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, Faculdade de Ciências da Universidade do Porto e REQUIMTE - Laboratório Associado para a Química Verde. Aos poucos, um pouco por todo o lado se vai conseguindo ganhar terreno na luta contra o câncer.
O autor é jornalista profissional/correspondente para a Europa pela GNS Press Association / EUCJ - European Chamber of Journalists/European News Agency) - MTB 66181/SP.
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