Entrevistado: Prof. Dr. Juliano J. Corbi – Depto de Hidráulica e Saneamento – EESC – USP
O trabalho intitulado “Controle larvário de Aedes aegypti (Diptera: Culicidae) com aplicação de Pyriproxyfen (Sumilarv 0.5G®): efeitos das variações térmicas de diferentes regiões brasileiras simuladas em laboratório” foi desenvolvido pela doutoranda Lidia Moura, sob orientação do professor Juliano J. Corbi.
As doenças transmitidas pelo mosquito Aedes (Stegomyia) aegypti (Linnaeus, 1762) são um grande desafio para as sociedades humanas, especialmente em regiões tropicais. Neste desafio, cabe destacar as populações de mosquito que se tornam resistentes aos inseticidas aplicados para os fins de tentativas do controle populacional da espécie nos ambientes urbanos. Um dos larvicidas desta variedade é o Pyriproxyfen um análogo do hormônio juvenil que age no desenvolvimento das larvas e previne a emergência do mosquito adulto.
No Brasil, o Ministério da Saúde determina a aplicação deste larvicida com base na concentração preconizada pela Organização Mundial da Saúde (0,01 mg/L) em todo território nacional. Por outro lado, as dimensões continentais do território brasileiro, a aplicação de uma estratégia nacional desconsidera variações regionais de condições ambientais que podem interferir na eficiência do composto. O objetivo da pesquisa foi analisar se, variações de temperatura para as cinco regiões brasileiras do País, interferem na eficiência do Pyriproxyfen em inibir a emergência de adultos de Aedes aegypti. Foram realizados experimentos para analisar o efeito combinado entre cinco concentrações do Pyriproxyfen (0,0025; 0,005; 0,01; 0,02; 0,04 mg/L) e cinco combinações de temperaturas (17 a 26,1 ºC para Sul; 20 a 28,5 ºC para Sudeste; 19,5 a 31 ºC para Centro-Oeste; 23 a 32,3 ºC para Norte e 23 a 30,3 ºC para Nordeste), sendo as mais quentes programadas para o fotoperíodo claro (14 horas de duração) e as mais frias para o fotoperíodo escuro (10 horas de duração, simulando os ciclos térmicos diários).
De forma geral, as concentrações que inibem a emergência de 50% da população (IE50) não ultrapassaram 0,01 mg/L, entretanto, nas condições mais frias referentes às regiões Sul e Sudeste do Brasil, as IE50 foram três e duas vezes menor a preconizada pela Organização Mundial da Saúde respectivamente. Houve evidências de que a sensibilidade dos organismos testados foi maior nas condições térmicas mais frias, simuladas para as regiões Sul e Sudeste. A longevidade média foi significativamente maior para os mosquitos sobreviventes aos tratamentos em temperaturas mais quentes, na região Centro-Oeste do país.
Os resultados obtidos no estudo podem contribuir para o ajuste das recomendações da utilização do Pyriproxyfen com base na regionalização do Brasil, considerando as peculiaridades de temperatura para promover aplicação racional do composto e ajudar na prevenção do desenvolvimento de populações de mosquito resistentes ao composto.
Os resultados permitem concluir que temperaturas mais elevadas acarretam menor mortalidade das larvas do mosquito, mesmo com o aumento da concentração do inseticida. Esse fato expõe mais evidências para a adoção de medidas urgentes para combater as alterações climáticas e os seus impactos ambientais, sendo este um dos objetivos do desenvolvimento sustentável (ODS 13).
As linhas de pesquisas envolvendo a temática para o controle do Aedes aegypti, vem sendo desenvolvidas em vários laboratórios e centros de pesquisas devido a sua importância, e a exemplo do Departamento de Hidráulica e Saneamento – EESC – USP, e do Centro de Pesquisa em Óptica e Fotônica (CEPOF) – INCT – IFSC – Grupo de Óptica – USP.
Fontes: Prof. Dr. Juliano J. Corbi – Depto de Hidráulica e Saneamento – EESC – USP; Prof. Dr. Vanderlei Salvador Bagnato – Coordenador do CEPOF – INCT – IFSC – USP e membro do Grupo de Óptica – IFSC – USP; e Me. Kleber Jorge Savio Chicrala – Jornalismo Científico e Difusão Científica do CEPOF – INCT – IFSC – USP