Relembrando dos capítulos anteriores para um melhor entendimento a artrite idiopática juvenil, anteriormente conhecida como artrite reumatóide juvenil, é um conjunto de doenças inflamatórias crônicas que acomete as articulações de crianças e adolescentes antes dos 16 anos de idade, de causa desconhecida ocorre uma inflamação da fina membrana que reveste internamente as articulações (sinóvia), que se espessa e secreta líquido dentro da cavidade articular. Como resultado vai ocorrer inchaço, dor e limitação da movimentação articular, nota-se ainda dificuldade na movimentação ao acordar (rigidez matinal) ou após longos períodos em repouso.
A dor articular às vezes é mínima e para evitar a dor, os pacientes tendem a manter as articulações em posição semifletida, podendo evoluir para atrofias musculares e deformidades, se não forem diagnosticados e tratados adequadamente.
O tratamento da artrite idiopática juvenil é focado em controlar a doença para que a criança tenha crescimento e desenvolvimento normais. Justamente por isso, quanto antes ele for iniciado melhor será o seu resultado, o tratamento será determinado de acordo com o caso de cada criança, e pode envolver medicações, fisioterapia, recomendação de prática de esportes e terapia com psicólogo, pelo fato de existirem muitas modalidades para o tratamento de crianças com artrite idiopática juvenil, pode acontecer de a criança precisar se tratar com diferentes especialistas, o que é chamado de tratamento multidisciplinar.
A equipe de tratamento poderá ser composta por reumatologista pediátrico, pediatra e terapeuta ocupacional. Além disso, outros profissionais poderão estar envolvidos em alguns casos, como nutricionista, oftalmologista, psicólogo, nefrologista e neurologista e um profissional que é muito importante na manutenção para que a doença não prodiga de uma forma mais rápida ou até mesmo estabilize é o Fisioterapeuta, tratamento multidisciplinar é comum e tem o intuito de analisar e tratar a saúde da criança de forma mais abrangente, possibilitando que se alcancem resultados mais satisfatórios no tratamento.
O objetivo do tratamento é prevenir as lesões nas articulações ou em outros órgãos e permitir que a criança volte a levar uma vida normal. Não existe medicação específica que cure, porém poderá ocorrer uma remissão espontânea após um período de tempo variável e imprevisível, o tratamento é baseado em medicamentos que diminuem a inflamação e medidas de reabilitação para impedir a deformidade articular.
O início do tratamento deve ser precoce, pois nos casos de demora podem ocorrer deformidades e limitações irreversíveis. Cada tipo de artrite idiopática juvenil tem um tratamento específico, variando de um paciente para outro, de acordo com as manifestações clínicas.
Os medicamentos apresentam ou agem em dois objetivos, Primeiramente o de reduzir a inflamação e melhorar a dor e as habilidades funcionais, Em seguida, os medicamentos agem para alterar o avanço da doença e impedir o comprometimento dos ossos, cartilagem e partes moles.
Diversas medicações podem ser utilizadas para diminuir dor e sintomas e controlar a doença, entre eles: Antiinflamatórios não hormonais: estes medicamentos como a aspirina, naproxeno ou ibuprofeno, auxiliam na redução da dor e inflamação, os medicamentos anti-inflamatórios não-esteroides são a primeira linha de medicamentos utilizados nos casos. Eles devem ser ministrados pelo menos de seis a oito semanas para que se possa avaliar adequadamente sua eficácia no controle da dor e da inflamação, podem ser líquidos ou comprimidos.
Medicamentos anti-reumáticos modificadores de doença: podem alterar o curso da doença, desacelerando sua progressão e influenciando ou corrigindo as alterações do sistema imune ligadas à doença. Exemplo: metrotexate, sulfassalazina, ciclosporina. De acordo com informações da ONG Acredite, projeto de iniciativa do setor de Reumatologia Pediátrica da UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), por serem medicamentos de uso contínuo, crianças que fazem uso de MMCDs precisam fazer exames laboratoriais com frequência para monitorar os níveis de toxicidade, o Médico que acompanha o paciente deve determinar a frequência de realização dos exames de controle.
Biológicos: considerados uma nova forma de terapia direcionada para inibir fatores biológicos inflamatórios. Exemplo: inibidores do TNF. Os medicamentos biológicos são feitos de proteínas, que possam diminuir ou interromper a resposta imunológica que leva à inflamação das articulações.
Existem terapias biológicas que podem ser utilizadas em alguns casos específicos de Artrite Idiopática Juvenil: imunoglobulina intravenosa, os anticorpos monoclonais inibidores do TNF alfa, inibidores de receptores de interleucinas e inibidores de ativação de linfócitos T.
O exercício físico é uma parte importante do tratamento, porque ajuda a preservar a mobilidade articular da criança, manter os músculos fortes e recuperar movimentos ou força nas articulações. Além disso, a atividade feita com orientação médica e acompanhamento profissional possibilita que a criança tenha mais facilidade nas atividades diárias, como andar e se vestir, melhorando também o condicionamento e a resistência geral.
A fisioterapia é importante para devolver a mobilidade a uma articulação composta por diferentes exercícios, a fisioterapia pode auxiliar a manter a flexibilidade do músculo, é de grande aproveitamento para crianças que tiveram a mobilidade prejudicada em uma articulação ou cujas articulações estão imobilizadas em uma posição fixa. Em paralelo, o Fisioterapeuta também pode ensinar a criança a fazer os exercícios em casa junto com banhos quentes e compressas de água quente ou fria, antes de fazer os exercícios, o uso de talas pode ajudar e muito as articulações e aliviar a dor, apesar de ser bastante raro, em casos mais avançados ou graves pode ser necessário fazer uma cirurgia para reposicionar as articulações.
Dependendo dos fatores que desencadearam a artrite idiopática juvenil, de problemas que a criança esteja passando ou até da possível dificuldade de lidar com a limitação física, pode ser recomendado o acompanhamento psicológico para que ela tenha uma melhor qualidade de vida. Existem profissionais especializados em tratar crianças que podem ser de grande ajuda para o seu filho.
A artrite idiopática juvenil não tem cura, mas, com as novas formas de tratamento e o diagnóstico precoce da doença, a expectativa para o controle da doença é muito boa. Espera-se que com o diagnóstico e tratamento precoces a criança possa ter uma vida e desenvolvimento normais.
Seguindo o tratamento de acordo com as orientações médicas e mantendo uma dieta saudável e equilibrada, é possível que não se note a diferença entre uma criança com artrite idiopática juvenil e uma que não tenha a doença. Contudo, ainda não há cura para artrite idiopática juvenil, recidivas dos sinais e sintomas e piora do quadro por algum tempo também são comuns de ocorrer e podem ser contornadas com o tratamento indicado pelo médico especialista.
Uma vez que ainda não se sabe o que causa a artrite idiopática juvenil, não é possível prevenir que o problema aconteça. Contudo, o diagnóstico precoce evita complicações e melhora as expectativas do tratamento.
(*) O autor é graduado em Fisioterapia pela Universidade Paulista Crefito-3/243875-f Especialista em Fisioterapia Geriátrica pela Universidade de São Carlos e Ortopedia.
Esta coluna é uma peça de opinião e não necessariamente reflete a opinião do São Carlos Agora sobre o assunto.