No último dia 25 de outubro, a equipe do Laboratório de Ecologia de Interações, do Campus Sorocaba da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), esteve na Estação Ecológica de Itirapina para uma ação de restauração de uma área de Cerrado. A atividade contou com a participação de 30 estudantes, entre 6 e 14 anos, de escolas da região, e que são atendidos pela Associação Meninos da Aracy (AMA), também de Itirapina, cuja missão é atuar junto a crianças e jovens para superação das desigualdades sociais.
Durante a atividade, foram plantadas mudas típicas da vegetação de Cerrado, mas com um diferencial: essas mudas foram produzidas a partir de sementes retiradas de fezes de lobo-guará na região, cuja dieta foi estudada pelo pesquisador Renato D'Elia Feliciano, no Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Recursos (PPGERN) da UFSCar, sob orientação do professor Alexander Christianini, do Departamento de Ciências Ambientais (DCA-So) do Campus Sorocaba e coordenador da iniciativa. "A ideia foi construir uma espécie de 'jardim do lobo' com mudas de árvores cujos frutos o lobo consome, tornando a restauração mais amigável a essa espécie", afirma Christianini.
Ou seja, a partir do estudo das fezes do lobo-guará, foi possível além de identificar sua alimentação, coletar sementes que serviram para a formação de novas mudas que foram plantadas nessa área de preservação do Cerrado em Itirapina. "As sementes foram todas removidas das fezes de lobos-guarás obtidas durante o projeto de mestrado do Renato, que estudou a dieta e papel dos lobos na germinação das sementes. Como parte do estudo, ele precisou comparar a germinação das sementes removidas das fezes com aquelas retiradas diretamente dos frutos, para testar se a ingestão dos frutos pelos lobos alterava a germinação [o processo de crescimento da planta a partir da semente]. Assim, geramos muitas plântulas [embriões] de sementes recém germinadas. Resolvemos tentar aproveitar essas plântulas e com elas fizemos as mudas. Muitas morreram no caminho, mas usamos as que foram adiante para doações e para esse plantio", descreve o professor.
Em seu trabalho de mestrado, Renato D'Elia Feliciano detectou sementes de 23 espécies de frutos na dieta do lobo-guará em Itirapina. "Sementes de quase todas germinaram nos testes. Isso quer dizer que o lobo pode dispersar a maioria delas. Dentre elas, temos a gabiroba, o marmelinho, a uvaia, o abiu, o caqui-do-cerrado, o caraguatá, o jerivá e por ai vai. Nessa ação, foram plantadas 42 mudas de nove espécies diferentes incluindo todas essas, além da fruta-de-tatu e indaiá", indica Christianini.
Além do plantio, os estudantes participaram de palestra e de práticas lúdicas sobre o lobo-guará. "Sabemos que é pretensioso, mas gostamos de pensar que atividades como essas ajudam a plantar uma sementinha sobre a importância de cuidarmos da natureza e de como somos parte dela. Isso será bom para essas crianças, para o Cerrado, para o lobo-guará e para todos nós", defende o professor da UFSCar.
A partir do plantio, a intenção do grupo é monitorar o sucesso das mudas plantadas ao longo do tempo. "Estamos torcendo para elas crescerem durante as chuvas dessa estação para aumentar a chance de conseguirem atravessar a estação seca do ano que vem. Também pretendemos plantar mais mudas e reforçar o envolvimento com atores locais, para intensificar as ações de preservação da natureza e de educação ambiental", conclui ele.