Em assembleia realizada neste domingo no Clube dos Metalúrgicos, 12 de janeiro, os trabalhadores da fábrica de motores da Volkswagen aprovaram aviso de greve. Os operários estão se organizando para questionar o não cumprimento do acordo coletivo de trabalho por parte da empresa que estaria adiando investimentos na planta local, que deveriam ser realizados de forma imediata, para 2031, daqui a seis anos.
Cerca de 139 funcionários da Volsks e a Comissão de Fábrica participaram da assembleia. Mesmo com o aviso de greve, o Sindicato dos Metalúrgicos de São Carlos e Ibaté vai reabrir as negociações com a empresa com o objetivo de chegaram a denominador comum que leve a empresa a rever sua decisão. Caso contrário, uma paralisação poderá começar a qualquer momento.
O tesoureiro do Sindicato dos Metalúrgicos de São Carlos e Região, que trabalha na Planta da VW em São Carlos, Julio Henrique da Silva, afirma que foi criada uma pauta de negociação para debater com a VW sobre a postergação do investimento. “Os trabalhadores autorizaram a abertura das negociações. Em caso de não avanço nas negociações, a greve poderá começar a qualquer momento”, afirma ele.
INSATISFAÇÃO - A insatisfação dos metalúrgicos da VW se referem à fabricação do novo motor híbrido que a Volkswagen deveria produzir na fábrica de São Carlos a partir deste ano. A previsão é que nova demandaria um investimento de R$ 500 milhões. O aporte é parte dos cerca de R$ 16 bilhões previstos para o ciclo de investimentos da montadora até 2027.
A primeira fase do investimento deveria abranger a linha 1 do EA 211 e para adequar o motor atual que a gente fabrica às normas de emissão de poluentes. A linha estava sendo modificada com remanejamento de pessoas e sem geração de novos empregos.
A segunda fase previa a modificação da linha 2 do EA-211 para fabricar o motor EVO 2. Além da linha de montagem 2 do EA-211, haveria alterações nas linhas de usinagem de bloco para adequar a questão do plasma que existe para a usinagem deste bloco. Esta segunda parte do investimento começaria somente iniciada no final deste ano e começo de 2026.
A previsão para 2025 seria da modernização da linha onde hoje são montados os motores aspirados MSI. Os futuros propulsores híbridos demandam máquinas e ferramental mais moderno, segundo o representante da entidade.
A segunda etapa do investimento da unidade deviera custear melhorias na área de usinagem dos blocos. Sobretudo em equipamentos que realizam corte de material por meio de plasma.
O motor que será produzido pela VW em São Carlos será o 1.5 híbrido-flex EVO2, que deverá equipar os novos SUVs compactos que a empresa vai produzir em São Bernardo do Campo.
Afora esses modelos, a companhia produzirá uma picape inédita (o Projeto Udara) em São José dos Pinhais (PR) e também um novo SUV em Taubaté (SP).
Na fábrica de São Carlos, 820 trabalhadores realizam atividades em dois turnos de produção. O quadro deverá ser mantido pela fabricante pelos próximos anos, como acordado em negociação com os trabalhadores finalizada na primeira semana de novembro.
PACOTÃO DE INVESTIMENTOS - No dia 2 de fevereiro de 2024, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, participou do evento de anúncio do Novo Ciclo de Investimentos da Volkswagen do Brasil, na sede da montadora em São Bernardo do Campo.
A fabricante pretende aportar R$ 16 bilhões no país até 2028, com foco em descarbonização, para lançar 16 novos veículos, incluindo modelos híbridos, 100% elétricos e total flex.
“Esse é o maior investimento pós-pandemia de uma montadora no país. É um investimento que reforça a confiança da nossa marca no Brasil, o respeito pelos nossos colaboradores e a nossa excelente relação com os sindicatos”, destacou o CEO da Volkswagen do Brasil, Ciro Possobom.
POLÍTICA INDUSTRIAL
Os novos investimentos da Volkswagen vêm ao encontro das iniciativas de reindustrialização que têm norteado o governo brasileiro, a exemplo dos programas Nova Indústria Brasil e do Novo PAC, e se somam a investimentos recentes anunciados por outras montadoras, como a General Motors e a BYD.
Em 22 de janeiro do ano passado, o presidente Lula recebeu o plano para uma nova política industrial para o Brasil, chamada de Nova Indústria Brasileira e elaborada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI). A iniciativa prevê investimentos da ordem de R$ 300 bilhões até 2026 para promover a reindustrialização do país, com foco na sustentabilidade e inovação, além da geração de empregos.
“A nova indústria são quatro coisas: inovação, descarbonização, exportação e competitividade. O presidente Lula lançou 4% TR para pesquisa, desenvolvimento e inovação. São R$ 102 bilhões. BNDES, Finep e Embrapii. Então, estimular a inovação, veículos melhores, emitindo menos carbono, com mais eficiência energética e mais competitivo”, afirmou Alckmin.
OUTROS APORTES
A General Motors anunciou um plano de investimentos de R$ 7 bilhões no Brasil até 2028. O presidente da General Motors International, Shilpan Amin, e o presidente da empresa para a América do Sul, Santiago Chamorro, foram recebidos pelo presidente Lula no Palácio do Planalto, em 24 de janeiro. No fim do mesmo mês, a empresa completou 99 anos de presença no país.
Os recursos serão empregados em melhorias significativas na capacidade e nas condições de produção da GM, além do desenvolvimento tecnológico, em particular nas áreas de veículos elétricos, energias renováveis e controle de poluentes. O montante anunciado deverá ser seguido de investimentos adicionais em próximas fases de investimentos.
Já a BYD trabalha na instalação de três novas unidades fabris em Camaçari, na Bahia, para produção de caminhões elétricos, carros elétricos e híbridos e chassis de ônibus, totalizando investimentos de R$ 3 bilhões. Será a primeira fábrica de automóveis da empresa chinesa fora da Ásia. Também será instalado em Salvador (BA) um centro de pesquisa para o desenvolvimento de tecnologia de um motor híbrido flex, para combinar o etanol com o motor elétrico.
Também anunciaram novos recursos no Brasil até 2032 as montadoras Great Wall (R$ 10 bilhões entre 2023 e 2032); Renault (R$ 5,1 bilhões de 2021 a 2027); CAOA (R$ 4,5 bilhões entre 2021 e 2028); e Nissan (R$ 2,8 bilhões de 2023 a 2025).
OUTRO LADO – Procurada para comentar o assunto, a VW, através de sua assessoria de comunicação, divulgou a mesma nota da última semana, reforçando que está aberta às negociações e que mantém os investimentos, mas sem afirmar ou negar que não tenha cumprido o acordo coletivo e também sem especificar data. “A Volkswagen do Brasil está sempre em busca de fortalecer a competitividade e a eficiência das unidades.
Reforçamos que os investimentos na planta de São Carlos seguem mantidos, evidenciando o compromisso da empresa com o desenvolvimento de seus negócios no Brasil e com os colaboradores”, diz a nota.