
O mês de março em São Carlos registrou apenas 30% da chuva esperada para o período, de acordo com levantamento do Departamento de Defesa Civil. Além de seco, o mês foi quente, com calor intenso em vários dias, sendo que em 21 dias não houve chuva. A previsão era de 98,41 milímetros de chuva, mas só choveu 34,4 milímetros.
A média de precipitação esperada para São Carlos era de 98,41 milímetros, mas o acumulado foi de apenas 34,4 mm. Os volumes mais significativos foram 8,80 mm no dia 15, quando houve penas chuvas isoladas nos bairros Jardim Munique e Jardim Itamarati e 6,80 mm no dia 18.
A média de chuva no mês de março nos últimos 15 anos registrada é de 223.5 mm. O déficit hídrico chega a 189,10 mm. Em março de 2024, foram registrados 156.80 mm de precipitação.
O diretor da Defesa Civil Pedro Caballero que a situação pode se agravar ainda mais nos próximos meses. “A previsão meteorológica do Estado é de estiagem de vários meses e temperaturas elevadas, sendo que em setembro teremos as mais altas”, destaca Caballero.
O assessor de imprensa do SAAE, o jornalista Marcos Schmdit ressalta que diante da crise hídrica que é universal, a autarquia recomenda a população o uso racional da água, evitando-se de se lavar calçadas, telhados e carros num período de escassez.
Ele garante que a autarquia está envidando todos os esforços possíveis para que a cidade não tenha racionamento e que o abastecimento de água ocorra de forma normal. Segundo ele, o poço artesiano que está sendo implantado na Região do Cedrinho deve aliviar os problemas dos moradores de boa parte do Cidade Aracy e do Antenor Garcia.
CERRADO, BERÇO DAS ÁGUAS - Considerado o berço das águas do Brasil, o Cerrado é a origem das nascentes de oito das 12 bacias hidrográficas mais importantes do país. É também o segundo maior reservatório subterrâneo de água do mundo, formado pelos aquíferos Guarani e Urucuia.
Além disso, fornece cerca de 70% da água do Rio São Francisco e 47% da água do Rio Paraná, que abastece a hidrelétrica de Itaipu. Suas águas são importantes ainda para Bolívia, Paraguai, Argentina e Uruguai. Essas informações são do estudo publicado pela revista científica Sustainability que apontou os riscos que o desmatamento do bioma pode causar para a segurança hídrica e energética do país.
MENOS ÁGUA - Um dos pesquisadores do estudo, o doutor em Ciências Florestais Yuri Salmona, explicou à Agência Brasil que as longas raízes das árvores típicas do Cerrado podem chegar a 15 metros de profundidade e fazem o bioma ser conhecido como “floresta invertida”. Essas raízes são responsáveis por levar a água das chuvas até o fundo do solo que, durante o período seco, vai liberando novamente a água.
“Essa água vai se acumulando nesse subsolo ou escorrendo entre os rios. Ela vai abastecer o Paraná, o Jequitinhonha, o Araguaia, o Tocantins, entre outros rios. A quebra dessa dinâmica proporcionada pelo desmatamento, que interfere na capacidade de infiltrar essa água, faz com que a água escorra superficialmente, causando erosão, com excesso de vazão nas chuvas e escassez na seca”, explicou o diretor-executivo do Instituto Cerrados.
Yuri alertou que a situação se agrava com o consumo de água para irrigação do agronegócio durante o período da seca. “Ele [agricultor] está inviabilizando o futuro do próprio negócio dele, porque a gente precisa do Cerrado em pé para continuar produzindo a água”, destacou.
O estudo analisou o comportamento de 81 bacias hidrográficas do Cerrado, e calculou que essas bacias perderam, em média, 15,4% da vazão dos rios entre 1985 e 2022. Para 2050, a previsão da pesquisa é de que a redução na vazão das águas dessas bacias chegue a 34% do que já foi um dia, “mesmo com diminuição do desmatamento”.
EXPORTAÇÃO DE ÁGUA - "A água segue sendo exportada para China, União Europeia e Estados Unidos em forma de 'água virtual', ou seja: água consumida na produção dos grãos e carne", cita a pesquisa referindo-se às commoditie exportadas pelo Brasil.
Segundo a Agência Nacional de Águas (ANA), 49,8% da água consumida no país em 2019 foi com a irrigação da agricultura.
A coordenadora do MapBiomas Cerrado Ane Alencar destacou que as outorgas para o uso da água no Cerrado não são transparentes. “A gente não sabe quais os critérios, se existe um limite para fornecer essas outorgas. Tem pouca transparência sobre isso”, destacou.
“De fato, o que acaba acontecendo é que a água – que é um bem para ser usado por todos –, está sendo usada para a produção agrícola e acaba sendo exportada. A gente tá exportando um recurso natural super importante e fazendo o uso desse recurso de qualquer forma”. (com informações da Agência Brasil)