Um Relatório apresentado pelo Observatório Nacional dos Direitos Humanos (ObservaDH) do Governo Federal aponta São Carlos como a vigésima quarta cidade do Estado de São Paulo com maior registro de pessoas em situação de rua.
O estudo usa como base registros no Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico), com dados até julho de 2023. Em São Carlos, foram encontrados 431 pessoas em situação de rua, o que representa 0,134% da população de 254.822 habitantes. A quantidade de pessoas nesta situação precária de vida é maior do que várias cidades menores e do mesmo porte.
O crescimento desta população em São Carlos chega a ser assustador. Em 2016 eram 74. No ano seguinte pulou para 92. Em 2018 já alcançou o número de 137. Em 2019 chegou a 230 e se manteve com o mesmo número em 2021, durante a pandemia. Em 2022 o volume de moradores em situação de rua saltou para 342 e no ano passado chegou a 403.
PARADOXOS DA CAPITAL DA TECNOLOGIA - Doutora em Sociologia Urbana pela UFSCar, Evelyn Postigo afirma que a situação é preocupante. “São Carlos, conhecida por seu desenvolvimento econômico e polos de inovação, enfrenta uma realidade inquietante: o número de pessoas em situação de rua praticamente dobrou nos dois últimos anos. Esse aumento reflete não apenas fatores econômicos, mas também a ausência de políticas públicas habitacionais e de reintegração social efetivas”, comenta a socióloga.
Evelyn ressalta que diversos fatores contribuem para esse cenário, incluindo o aumento do desemprego, a falta de políticas habitacionais eficazes e a crescente precarização do mercado de trabalho. “Embora São Carlos tenha investido na ampliação de serviços, como a revitalização do Centro POP, tais iniciativas parecem insuficientes para conter o avanço da vulnerabilidade social. Esse crescimento sugere que as políticas públicas precisam de uma reavaliação urgente, com foco em ações de longo prazo que promovam a reintegração e autonomia dessas pessoas”, comenta a socióloga.
Ela destaca que os números da pesquisa revelam uma contradição muito séria em São Carlos. “Para uma cidade historicamente voltada à inovação e à ciência, o aumento da população em situação de rua traz à tona uma disparidade que desafia o compromisso com justiça social”, completa Evelyn.
OUTRO LADO - A Secretaria de Cidadania e Assistência Social promove atenção diária a este público. Seja em ações de abordagem nas ruas ou na sede e na casa de passagem. Os números da Secretaria apontam na Casa de passagem masculina média de 40-50 dia, na Casa de passagem feminina trans e família, 20 pessoas e no Centro pop atendimento diurno, 80 pessoas.
Além desses, há pessoas que não frequentam os espaços por não aceitarem as regras estabelecidas e preconizadas no sistema. A maioria casos de saúde mental e química, em torno de 100 pessoas.
A equipe da Secretaria está em acompanhamento e capacitação constantes para atender este público, além da identificação dos chamados “trecheiros”, que passam pela cidade a caminho de outros locais.
De acordo com a secretária adjunta de Cidadania, Ingrid Casela, explica que a maior concentração dos moradores em situação de rua está na faixa etária de 25 a 39 anos - 217 pessoas, seguido da faixa de 40 a 44 anos que engloba 92 pessoas.
Segundo Ingrid, o local de maior incidência desta população é a região central. “O município conta com 1 centro pop que funciona como local de atendimento e orientação, bem como os locais de acolhimento - casa de passagem sendo duas unidades com separação de público - Casa masculina na Rua Rotary Clube e Casa feminina, famílias e Trans na Rua 13 de maio”, explica a secretária.