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domingo, 30 de março de 2025
História

Santa Eudóxia completa 113 anos nesta terça-feira

Local é famoso por ter produzido "o melhor café do mundo", por ser banhado pelo Rio Mogi Guaçu e ser o local onde o pistoleiro Dioguinho morreu

25 Mar 2025 - 09h28Por Marco Rogério
Entrada de Santa Eudóxia - Crédito: Google MapsEntrada de Santa Eudóxia - Crédito: Google Maps

Santa Eudóxia se tornou Distrito de Paz em 1912 e completa nesta terça-feira, 25 de março, 113 anos de existência, com cerca de 3.000 habitantes, uma mistura de imigrantes árabes e de países europeus e nordestinos, além de muitas histórias. Também é a terra do vice-prefeito Roselei Françoso e do ex-vereador e hoje secretário municipal de Gestão da Cidade e Infraestrutura de São Carlos, João Muller. 

Final do Século XIX. A grande potência mundial é a toda poderosa Inglaterra, que vive em plena Segunda Revolução Industrial com a descoberta do motor à combustão e de combustíveis à base de petróleo, eletricidade e ferrovias.   

Mas o que poderia ligar a monarca do Reino Unido, a Rainha Vitória a um lugarejo localizado nos sertões paulistas como Santa Eudóxia? A resposta está na qualidade do café produzido no local que hoje é distrito de São Carlos. Durante 18 anos, de 1881 a 1898 o produto alcançou os primeiros lugares na Bolsa de Café de Londres.

Fazenda Santa Eudóxia: lugarejo está a quase 40 quilômetros distante da área urbana de São Carlos e reúne muitas histórias

Além da qualidade, o “Café Santa Eudóxia” também chamava a atenção pelo volume de produção. Eram, ao todo, um milhão de cafeeiros plantados na Fazenda Santa Eudóxia. A propriedade chegou a produzir, em 1887 e 1889, 60.000 arrobas.  

À frente de tal empreendimento estava o empresário e político Francisco Cunha Bueno, que ao comprar a Sesmaria do Quilombo, formou o maior latifúndio das Américas: a Fazenda Santa Eudóxia.  Até 1884 a produção era escoada pela hidrovia criada no Rio Mogi Guaçu até Porto Ferreira e de lá para o Porto de Santos via ferrovia. A navegação fluvial também transformou Porto Ferreira em uma cidade. Com a chegada da ferrovia a São Carlos, a produção passou a ser transportada pela estação central. Finalmente, em 1892, os trilhos chegam a Santa Eudóxia. 

A história da localidade data da década de 1870, quando com o trabalho de 200 escravos africanos, o coronel Francisco Cunha Bueno determinou que abrisse o mato e iniciasse a plantação de café. O distrito é um dos pioneiros da cafeicultura no sertão do Mogi e foi forte na produção do produto. 
Mais de 1 milhão de cafeeiros foram plantados no local, conforme registros historiográficos. O auge foi atingido em 1916, quando 1,27 milhão de cafeeiros foram contados. A produção inicialmente foi escoada por porto fluvial no Mogi Guaçu, com a opção da linha férrea via ramal que passava pelo distrito. 

A Cia. Cunha Bueno & Ellis, do senador Alfredo Ellis e do seu tio, sogro e sócio visconde de Cunha Bueno, foi a maior produtora do café tipo exportação do Brasil, entre os anos de 1881 e 1918.

No Victoria and Albert Museum, em Londres, Inglaterra, foi organizada uma exposição com o nome de "Saint Eudóxia Coffee and Room" – salão do Café Santa Eudóxia, como reconhecimento e homenagem do império britânico, aos senhores das terras brasileiras (Land Lords of Brazil), produtores do café de excelente qualidade. 

Santa Eudóxia pode ter servido de moradia de escravizados fugidos aquilombados, rumores que rondam aquela região há mais de um século. Naquela região houve, segundo os historiadores, um quilombo, como relata Cincinato Braga em “Contribuição ao Estudo Da História e Geografia da cidade e Município de São Carlos do Pinhal”. “É Tradição que as proximidades da estação da Babylônia (...) foram anteriormente habitadas para escravos fugidos”, diz ele em trecho de sua obra. “A denominação Quilombo, dada desde o começo do século àqueles sítios, autoriza a crença na existência ali de um agrupamento de escravizados que procuravam ler sua alforria nas folhas verdes da floresta deserta”, dizia o historiador Cincinato Braga. 

Hoje, apenas o Rio do Quilombo é a lembrança desta trágica e vergonhosa página da história brasileira. 
Mais recente, na virada do século passado, Santa Eudóxia virou a morada de imigrantes sírios e libaneses, que difundiram sua tradição comercial.  Na última década do Século XIX, o povoado do distrito ganhou um novo impulso. 

Chegam famílias de São Carlos do Pinhal fugindo da epidemia de febre amarela. Um dos resultados dessa migração forçada foi a construção da Igreja de Santa Eudóxia, financiada por vários fazendeiros são-carlenses. O local chegou a ter mais de cinco mil operários trabalhando em várias indústrias. 
Em novembro de 1886, São Carlos do Pinhal recebeu o imperador Dom Pedro II, foi o então coronel Francisco da Cunha Bueno, de Santa Eudóxia, quem o hospedou. Ele havia construído um casarão especialmente para esta data e finalidade. Depois disso, conseguiu o título de visconde. O palacete desafia o tempo e existe até hoje na esquina das ruas Dom Pedro e Conde do Pinhal, por ironia, o maior adversário político de Cunha Bueno.

O bandido Diogo da Rocha Figueira, o O bandido Diogo da Rocha Figueira, o “Dioguinho”: bandido fez fama pelo interior paulista e teria sido morto no Rio Mogi Guaçu, em Santa Eudóxia

A MORTE DE DIOGUINHO - Na segunda metade do Século XIX, Diogo da Rocha Figueira era o maior bandido da região e uma verdadeira lenda. A ele eram atribuídos mais de100 homicídios. Caçado pela polícia, Dioguinho e seu irmão, João Dabe foram vítimas de uma tocaia no Rio Mogi Guaçu, no distrito de Santa Eudóxia, no dia 1º de maio de 1897. Como o seu corpo nunca foi encontrado, a lenda somente aumentou. Há quem jure que ele seguiu com seus crimes até 1918.

Historiadores relatam que Dioguinho agia contratado por fazendeiros, inclusive Alfredo Ellis, genro do Visconde de Cunha Bueno, que era suspeito, inclusive, de esconder o famoso pistoleiro em suas propriedades rurais. Ellis, médico, fazendeiro, deputado federal e depois senador pelo Partido Republicano chegou a ser acusado de envolvimento com Dioguinho, mas livrou-se das acusações tendo como seu advogado simplesmente o grande Rui Barbosa. 

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