Professora emérita do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC), da USP , em São Carlos, Maria Aparecida Soares Ruas foi eleita membro titular da Academia Mundial de Ciências (TWAS ). Dos 74 pesquisadores que agora fazem parte como titulares da entidade, dez são brasileiros. Cidinha, como é carinhosamente conhecida, compõe um grupo de 24 mulheres nomeadas.
A eleição de um pesquisador ou uma pesquisadora para a TWAS é baseada em sua contribuição para o avanço da ciência em um país em desenvolvimento. Trata-se de uma indicação por outros pesquisadores já associados à Academia, o que torna a designação restrita a cientistas que atingiram os mais altos padrões internacionais.
Cidinha e os demais pesquisadores assumem oficialmente suas cadeiras em 1⁰ de janeiro de 2025. Uma reunião de posse dos eleitos será realizada na conferência geral da entidade, como padrão nos últimos anos. Com a eleição dos novos membros, a TWAS passou a ter 1.444 membros. Hoje, são 159 membros brasileiros, entre eles 24 representantes da área de ciências matemáticas.
Professora do ICMC desde 1981, paulista é referência na área de Teoria de Singularidades. Ainda assim, Cidinha admitiu ter ficado surpresa com a nomeação pela TWAS. “Confesso que ter sido indicado e eleito para a TWAS, que engloba cientistas de mais de 100 países, foi uma grande surpresa. É uma honra muito grande fazer parte de um grupo tão seleto de brasileiros que fazem parte da TWAS. Uma distinção que me deixa muito feliz e realizada”, declara a matemática de 76 anos.
Pelo ICMC, ela já publicou mais de 80 artigos científicos em periódicos internacionais, participou da produção de cinco livros, isso sem contar a experiência como orientadara de alunos de iniciação científica, mestrado, doutorado e pós-doutorado. A cientista deseja que sua nova atribuição seja motivo para mais meninas se aventurarem na área de matemática: “A desigualdade de gênero na matemática brasileira foi um problema ignorado por anos e anos. Mas, nas últimas décadas, pessoas têm apoiado diversas iniciativas para atrair mais mulheres para a área. Nesse contexto, as trajetórias de pesquisadoras que alcançam sucesso em suas carreiras podem, sim, inspirar jovens e trazer mais mulheres para a área.”
Além da professora do ICMC, foram eleitos os seguintes cientistas brasileiros para a TWAS: Célia Regina Carlini (UFRGS); Milena Botelho Pereira Soares (Fiocruz); Paulo Saldiva (USP); Maria Valnice Boldrin Zanoni (Unesp); Francisco de Assis Tenório de Carvalho (UFPE); Ricardo Ivan Ferreira da Trindade (USP); Odir Dellagostin (UFPel); Antonio José Roque da Silva (CNPEM) e Marcelo Knobel (Unicamp).
Trajetória no ICMC – A história de Cidinha na USP começou em 1971, exatamente no ano de criação do ICMC. Natural de Lins, a 240 quilômetros de São Carlos, Cidinha havia acabado de se formar em Licenciatura em Matemática pela Unesp, em Araraquara. Ingressou no Instituto para realizar mestrado, sob a orientação do professor Gilberto Francisco Loibel . O docente foi um pioneiro na pesquisa em Topologia e Singularidades no interior de São Paulo.
Após o período nos Estados Unidos para realizar um estágio de doutorado na Universidade Brown , em Providence, no estado de Rhode Island, nos Estados Unidos, Cidinha voltou ao Brasil com mais bagagem acadêmica. Retornou a São Carlos para iniciar sua trajetória como professor no ICMC e, em 1983, defendeu sua tese de doutorado supervisionada pelos professores Luiz Antonio Fávaro e Terence Gaffney.
Fávaro foi aluno de doutorado de Loibel, orientador da professora de mestrado no ICMC, e um dos principais impulsionadores do grupo de pesquisa de Teoria de Singularidades, o que tornaria a carreira de Cidinha ainda mais singular. Atualmente, suas principais contribuições ao tema referem-se à classificação topológica e diferenciável de singularidades e às aplicações desta teoria à geometria genérica.
Além do trabalho como pesquisadora e do amor aos alunos, Cidinha herdou diversas cargas de direção no ICMC em mais de quatro décadas de contribuições. Ela foi chefe do Departamento de Matemática, presidente da Comissão de Pós-Graduação por duas vezes, presidente da Comissão de Pesquisa e da Comissão de Biblioteca, além de vice-diretora na gestão do professor Paulo Masiero.
Sobre a TWAS – A Academia Mundial de Ciências foi fundada em 1983 por um grupo de cientistas dos países em desenvolvimento, sob a liderança de Abdus Salam, físico paquistanês e ganhador do Prêmio Nobel de 1979. Os cientistas compartilhavam a crença de que as nações em desenvolvimento, ao construir força na ciência e engenharia, poderia construir o conhecimento e a habilidade para enfrentar desafios como a fome, as doenças e a pobreza.