Pelo menos 9 milhões de idosos brasileiros sofrem uma queda por ano, de acordo com especialistas. "Os episódios podem resultar em fraturas, traumas cranianos e em prejuízos psicológicos e sociais, institucionalização e, inclusive, levar ao óbito", aponta Karina Gramani Say, docente do Departamento de Gerontologia (DGero) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e Coordenadora do Programa Multidisciplinar e Assistencial de Gestão de quedas para idosos caidores (Magic) da Instituição. As quedas são preveníveis e exigem atenção de familiares e cuidadores e capacitação de equipes multiprofissionais de saúde.
De acordo com Karina Say, o Brasil teve um aumento das internações hospitalares entre 2000-2008 e 2008-2020 de pessoas idosas, assim como dos gastos totais em internações e do custo em saúde relacionado às quedas de pessoa idosa, inclusive no estado de São Paulo. Além disso, ela relata que artigo recente mostra que o número de óbitos no período de 2000 a 2020 apresentou um aumento significativo. "Sabemos dos prejuízos funcionais e para a saúde do indivíduo advindos das quedas. Se nada for feito, no ano de 2025, as internações por quedas no Brasil estarão próximas a 150 mil, gerando custos em torno de R$260 milhões ao Sistema Único de Saúde (SUS)", alerta a professora da UFSCar.
Recentemente, duas pessoas famosas no Brasil sofreram quedas domiciliares com consequências importantes, que são exemplos de como os acidentes domésticos podem impactar a vida dos idosos. Um deles foi o caso do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que precisou se ausentar de várias atividades profissionais até se recuperar, e o outro, foi do cantor Agnaldo Rayol que, infelizmente, foi a óbito devido a um traumatismo após cair no banheiro. A professora da UFSCar expõe que nos domicílios e contextos familiares, os cuidados devem envolver ajustes no ambiente domiciliar com passagens livres, eliminação de tapetes ou fixar suas laterais no chão, corrimão dos dois lados de escadas, fitas antiderrapantes em escadas, luz adequada em todos os ambientes, armários fixados nas paredes, barras de apoio do lado do vaso sanitário e local do banho, para os idosos com limitações uma cadeira firme no banheiro para poder enxugar os membros inferiores com segurança, cadeira, sofá e cama altos e firmes. "Deve-se também, para os idosos que moram sozinhos, ter apoio de vizinhos para caso de necessidade, contato constante da família ou dispositivos de emergência e monitoramento para quedas", complementa Say.
Nos locais de atendimento à população idosa, a capacitação dos profissionais é importante para qualificar o cuidado. "Com o envelhecimento populacional, enfrentar os desafios da prevenção e manejo das quedas é crucial para os profissionais da Saúde, gestores de clínicas e hospitais e aqueles que trabalham com políticas públicas voltadas para pessoas idosas, inclusive profissionais da assistência social e jurídica", destaca Say.
Diante desse cenário, uma parceria entre o Magic da UFSCar e o Grupo de Pesquisa PrevQuedas Brasil, vinculado à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e à Universidade Cidade de São Paulo (Unicid), realiza o 2º Simpósio Internacional de Prevenção de Quedas em Pessoas Idosas - da avaliação ao tratamento, entre os dias 29 e 30 de novembro, em São Paulo. O evento é voltado a profissionais da Saúde, do Serviço Social, de setores jurídicos e demais públicos interessados. As inscrições estão abertas e podem ser feitas pelo site www.prevquedasbrasil.com.br/simposio, em que constam, também, as informações completas sobre a atividade.
O evento tem ainda apoio da FFN Brasil - Fragility Fracture Network Brasil (ffnbr.org.br), uma organização global com o objetivo de melhorar o cuidado aos pacientes com fratura por fragilidade, incluindo a prevenção secundária. O Simpósio pretende abordar a prevenção de quedas nas pessoas idosas e programas para prevenção de quedas baseado em evidências científicas. "O evento tem como objetivos atualizar e capacitar profissionais da Saúde na prevenção e manejo de quedas, discutir diretrizes internacionais e sua adaptação para o Brasil, além de promover a colaboração nacional e internacional em pesquisa sobre o tema", detalha a coordenadora do Magic. As informações completas estão no site www.prevquedasbrasil.com.br/simposio.
Programa Magic-UFSCar
"As quedas acidentais são eventos muitas vezes preveníveis se avaliarmos e acompanharmos os fatores de risco modificáveis para a pessoa idosa", esclarece Say. No entanto, ela pontua que muitos profissionais de Saúde não sabem avaliar e monitorar todos esses fatores de risco. É nesse contexto que o Programa Magic da UFSCar atua, acompanhando e analisando nos seus estudos, o aprimoramento para uma melhor assistência à pessoa idosa, mas também o tornando viável para ser implementado na saúde pública e suplementar.
O Magic foi oferecido entre 2020 e 2023 - sua primeira versão foi realizada em teleatendimento, por se tratar do período da pandemia de Covid-19 e por ser um estudo clínico randomizado, melhor método de pesquisa para verificar a eficácia da intervenção. A segunda versão do Programa será ofertada em 2025 com o aprofundamento de questões de pesquisa e do monitoramento da gestão de casos para os fatores modificáveis. Informações completas sobre o Magic podem ser acessadas no Instagram (@programamagic)