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domingo, 30 de março de 2025
História

Morte de Coronel Leopoldo Prado completa 84 anos

Empresário propôs a criação de um lago com várias atividades de lazer e esportes náuticos no Córrego do Gregório onde hoje as enchentes assombram a cidade

26 Mar 2025 - 19h09Por Da redação
A região onde seria montado o lago do Coronel Leopoldo Prado e onde hoje ocorrem as temidas enchentes - A região onde seria montado o lago do Coronel Leopoldo Prado e onde hoje ocorrem as temidas enchentes -

Em 1941 falecia, em Pardinho, que então fazia parte do município de Botucatu, aos 82 anos, o Coronel Leopoldo de Almeida Prado. Ele foi responsável pelo loteamento da Vila Prado em 1893, há 132 anos. Ele foi o pioneiro do transporte coletivo urbano, criando uma linha de bondes movido à tração animal (cavalos) em 1895, que teve apenas uma linha.

Na época de ouro do café no Brasil e numa época em que São Carlos recebia inúmeras inovações tecnológicas, Prado foi lavrador, fabricante e máquinas para beneficiar café, vereador, delegado e polícia e comandante do 35º Regimento de Cavalaria da Guarda Nacional, onde recebeu a patente de Coronel. 

Leopoldo Prado também, destaca-se como um dos pioneiros nos loteamentos de terras nas áreas de entorno dos trilhos e da estação ferroviária de São Carlos. Ocupados por muitos trabalhadores ferroviários, os lotes foram gradativamente sendo ocupados e atraíram outros trabalhadores, como aqueles empregados no comércio e nas fábricas que se estabeleciam nos arredores da estação.

Prado era polivalente ou um homem de muitos talentos. Como empresário, propôs ao município de São Carlos a primeira parceria público privada (PPP) da história de São Carlos. Ele queria explorar o Córrego do Gregório, na região onde hoje está a Baixada do Mercado Municipal, criando um grande lago para a exploração do local para promoção de esportes náuticos.  Além disso, seu projeto previa um clube de natação e regatas, pavilhão, salão de danças, bar, ajardinamento e arborização da área.
O coronel também comandaria a PPP e os investimentos seriam por sua conta exclusiva, do orçados em 30 contos de reis. A contrapartida seria a exploração comercial das instalações por 30 anos. Décadas depois, prédios e ruas asfaltadas surgiram e a impermeabilização do solo fez com que surgissem, a partir da Década de 1950, os famosos alagamentos que tanto assombram São Carlos.  
Os gestores públicos da época rejeitaram a PPP. Inconformado, Leopoldo Prado retirou-se para Botucatu, onde faleceu em 1941, aos 82 anos. Seu nome somente voltou a ser lembrado em 1948, quando seu nome foi dado à Travessa 12 da Vila Prado. A menção ao fato está numa crônica do historiador Antonio Carlos Vilela Braga (1940-2014), publicada em 2007. 

LEPOPOLDO DELEGADO DE POLÍCIA -  Em dezembro de 1895, o bando de Francisco Mangano, formado por italianos vindos da Calábria, aterrorizavam São Carlos. Os líderes eram comerciantes. Ele extorquiam empresários e fazendeiros. Um deles, que não cedeu ás ameaças teve seu depósito de aguardente e outras instalações da fazenda incendiados, resultando em prejuízo de aproximadamente 35 contos de réis. 

A quadrilha tinha 38 membros e agia em meio a uma epidemia de febre amarela, muitas casas e fazendas estavam abandonadas e a polícia desorganizada.  Francisco Mangano, juntamente com Antonio Farina, Antonio Morano, Luigi Giordano, Francisco Farina e Michelangelo Monteleone e outros tinham planos ousados, como um assalto ao Banco União, com utilização de dinamite para explodir as parede e um assalto ao trem pagador da Companhia Paulista de Estradas de Ferro.

Desavenças entre a própria quadrilha na partilha dos roubos resultaram em traições, o que  levou a polícia a prender alguns bandidos. 
Mas foi a violência utilizada pelo fazendeiro-delegado Leopoldo Prado que cosnsegui ampliaras delações e desbaratar a “Máfia Calabresa”. Consta que muitos fugiram e nunca foram encontrados.  Vários foram presos pelo delegado português Gaspar Berrance, tratado como verdadeiro herói em 30 de agosto de 1898.

Ata de Sessão Extraordinária (Câmara Municipal de São Carlos 13 de agosto 1913)

“(..) Requerimento de Leopoldo de Almeida Prado, do seguinte teor: o abaixo assinado, lavrador e industrial, residente nesta cidade, desejando concorrer, à mediada de seu alcance, para o progresso e embelezamento desta cidade, tomou a resolução de vir expor aos srs vereadores, para os fins afinal requerido, o seguinte: existe no centro da cidade a várzea do Mercado que se compõe dos terrenos abrangidos entre as ruas S. Carlos, Jesuíno de Arruda, S. Joaquim e Mercado, medindo este terreno dois quarteirões sendo atravessado no centro pela rua D. Alexandrina e banhada em toda a sua extensão pelo córrego do Gregório. Este terreno, como muito bem sabem os srs vereadores, é um terreno por natureza úmido devido às vertentes de águas em diversos lugares, a sua drenagem é senão difícil, dispendiosíssima se tiver de ser feita por conta da municipalidade. A Câmara não poderá utilizar-se sem que tenha de beneficiá-lo e para isto terá que despender de uma soma não pequena. Por esta razão é aquele local no centro da cidade só serve e tem servido para rodeio de tropa solta e bebedouro de animais, o que realmente não constitui progresso nem embelezamento para a cidade.
O abaixo assinado pensa em transformar esse local em belíssimo ponto de convergência e divertimento público que, traz como conseqüência um embelezamento de grande efeito e sui generis em cidade do interior. Pensa o abaixo assinado em transformar aquele terreno em toda a sua extensão em um grande lago, este se formará represando o quanto preciso, as águas do córrego do Gregório, fazendo-se para isso as obras de arte necessárias de modo a garantir a segurança e salubridade pública. O lago deverá ter uma profundidade de um metro, mais ou menos, o quanto seja indispensável para nele navegar lancha a gasolina, botes, canoas, etc. No centro do lago ficará uma ilha e no centro da ilha será construído um elegante pavilhão representando uma fortaleza a qual terá amplas acomodações destinadas a um bar, salões para diversões, sede do clube de regatas e de natação, etc. A ilha será toda ajardinada e arborizada, com caramanchões onde, ao ar livre, serão servida às exmas famílias e cavalheiros. As partes laterais do lago serão ajardinadas a arborizadas, com passeios e carramanchões de sorte que se tornará além de belo, útil e agradável. O lago em toda a sua extensão será fechado por meio de cerca de arame ou outra que melhor se adapte, tendo portões para entradas e saídas. O transporte para ilha será feito por meio de lanchas, botes e canoas. mediante razoável pagamento. Os passeios no lago também serão pela mesma forma mediante pagamento segundo a tabela que for organizada. Para que os srs vereadores possam fazer uma idéia do que seja isto importante melhoramento, junto uma planta que, mais ou menos, traduz o pensamento do abaixo assinado, planta essa que será modificada para melhor quando tiver de ser aprovada pelo poder competente. Este melhoramento assim rapidamente exposto, para ser levado a efeito depende de um emprego de capital de cerca de oitenta contos de réis.

O abaixo assinado se propõe (organizá-lo) digo, realizá-lo per si ou pro empresa que organizar, mediante concessão dos seguintes favores da Câmara Municipal.

1.o Concessão gratuita do terreno compreendido entre as ruas S.Carlos, Jesuíno de Arruda, S. Joaquim e Mercado, para que o mesmo seja transformado no grande lago com os melhoramentos acima descritos e constantes da planta junta;

2.o Privilégio pelo prazo de trinta anos para exploração, uso e gozo do lago e suas dependências;

3.o Isenção de todos impostos municipais, durante o prazo de concessão, para tudo quanto se relacionar como objeto da exploração, quer em relação aos divertimentos públicos que forem estabelecidos como dos impostos sobre lancha, botes e canoas, bar e suas dependências;

4.o Autorização para ser feito no córrego do Gregório os serviços precisos para a represa da água necessária para a formação do lago e escoamento das sobras;

5.o Ceder gratuitamente os materiais da ponte ou pontes que forem precisas desmanchar a fim de serem as mesmas aproveitadas pelos concessionários em obras no mesmo local, bem como das pedras que do córrego do Gregório forem retiradas.

O concessionário por seu lado se obriga perante a Câmara a:

1.o No prazo de dois anos, da data da lei que lhe conceder concessão pedida, inaugurar e franquear ao público o lago como todas as usas dependências;

2.o Executar os serviços de acordo coma planta junta depois de aprovado regularmente pelo poder competente;

3.o Conservar o lago e suas dependências no mais perfeito estado de asseio sem o menor perigo para a vida e saúde pública, obedecendo em tudo os preceitos de higiene;

4.o Ferido o prazo de 30 anos transferir ao município o lago com todas as suas benfeitorias, independente de qualquer indenização por parte da Câmara Municipal.

Nestas condições, atendendo à Câmara que com a realização deste importante melhoramento a nossa cidade será adotada de mais um embelezamento sem igual em outra cidade do interior; que sem ônus algum para o município, a não isenção de impostos, será aproveitado aquele local, ora imprestável para um fim útil e agradável; que, a não ser por meio da concessão requerida a Câmara para se utilizar daquele largo para qualquer fim, terá que despender grandes somas que a renda atual não comporta, que a Câmara Municipal tem o direito e o dever de concorrer e vir em auxílio de empresas que, embora que organizadas com o fim mercantil concorram para o desenvolvimento do município espera o abaixo assinado que os srs vereadores, tomando em consideração tudo quanto vem de expor e examinando a planta junta que dá uma idéia do que virá a ser o largo do mercado depois de transformada a planta em realidade, lhe autorizem a concessão nos termos e condições pedidas.

S. Carlos, 13 de Fevereiro de 1913. Leopoldo de Almeida Prado (..)”.

 

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