Construir modelos para demonstrar o potencial de uma tecnologia criada no ambiente científico, facilitando a chegada à sociedade de soluções que nascem na Universidade. Esse é o principal objetivo do Research Engineering Group (REG), iniciativa recém-criada no Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos.
Inspirado em modelo similar existente no Instituto Alan Turing, no Reino Unido, o novo grupo propõe acelerar a geração de protótipos ou programas de demonstração, construídos a partir de resultados de pesquisas científicas. “Os protótipos, em geral, são representação visuais intuitivas, que podem ser compreendidas por pessoas de diferentes áreas do conhecimento de forma mais fácil e rápida”, revela o professor Alexandre Cláudio Botazzo Delbem, um dos coordenadores do REG.
Por meio dos protótipos e demonstrações desenvolvidos pelo REG, os resultados das pesquisas poderão ser apresentados a uma ampla gama de potenciais parceiros de maneira simplificada e acessível. “Queremos reduzir a desigualdade do conhecimento e facilitar a multidisciplinaridade, usando ferramentas computacionais para construir protótipos e demonstrações com mais rapidez e menor custo. Podemos apresentar soluções para quaisquer tipos de problemas, desde que os dados estejam disponíveis”, completa o professor.
Difundir o uso dessas ferramentas computacionais e aprimorá-las é um dos objetivos do REG, que vai lançar, em breve, uma chamada pública para startups que desejam colaborar com o grupo. “Nossa proposta é promover a participação de estudantes de graduação, de pós-graduação e dos setores de pesquisa, cultura e extensão do ICMC, por meio de ações que estimulem a inovação e o desenvolvimento de soluções para a sociedade, com tecnologia apropriada, treinamentos e cooperação com empresas”, explica a professora Simone do Rocio Senger de Souza, que também faz parte da coordenação da iniciativa.
Além de Simone e Delbem, também coordenam o REG os professores Paulo Sérgio Lopes de Souza e Ellen Francine Barbosa, todos do ICMC. As atividades do grupo vão acontecer, principalmente, na área II do campus da USP São Carlos, em espaço próprio junto aos laboratórios de pesquisa do ICMC, nos contêineres habitáveis do bloco 7. A ideia é agregar valor às ações do Centro Avançado ICMC para Apoio à Inovação (ICMC-In), que já ocorrem no mesmo espaço.
Como o grupo nasceu
A proposta de criação do REG surgiu a partir de projetos que já geraram convênios e parcerias para o ICMC, por meio do Centro de Ciências Matemáticas Aplicadas à Indústria (CeMEAI). Um exemplo é o mapeamento da dispersão de epidemias, como Dengue, Zika e Chikungunya, na cidade de São Carlos, que resultou na criação de uma ferramenta de visualização georreferenciada (Multimapas) mostrando casos confirmados e suspeitos das três doenças. Os resultados do projeto motivaram o estabelecimento de um convênio entre a Secretaria Municipal de Vigilância Epidemiológica de São Carlos e o ICMC, via CeMEAI.
Houve, ainda, o desenvolvimento de um hub de dados climáticos da cidade, coletados por meio de dispositivos de internet das coisas (IOTs), e de um protótipo para acelerar e automatizar o censo de pessoas em situação de rua na cidade, o que também levou ao estabelecimento de um convênio com a Secretaria Municipal de Cidadania e Assistência Social de São Carlos.
Outra parceria, dessa vez com pesquisadores da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ), da USP, resultou na criação de um aplicativo, o Siflor Cerrado, que apoia a recomendação de espécies florestais para o cerrado brasileiro, colaborando com a tomada de decisão do produtor rural. Atualmente, a proposta tem sido aprimorada no contexto do Centro de Inteligência Artificial da USP (C4AI), por meio do projeto Siflor4Decision, a fim de beneficiar outros setores agrícolas e direcionar o desenvolvimento sustentável.