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terça, 15 de abril de 2025
Epidemia

Há 107 anos, gripe espanhola matou 145 em São Carlos

"Lockdown caipira" foi implantado na época para evitar alastramento da doença, epidemia foi controlada dentro de cinco meses

12 Abr 2025 - 16h21Por Da redação
Numa época com tecnologias incipientes e medicina ainda rudimentar, muitas pessoas perderam a vida durante a epidemia da Gripe Espanhola - Crédito: Fotos: FIO CRUZ, Senado Federal e Biblioteca NacionalNuma época com tecnologias incipientes e medicina ainda rudimentar, muitas pessoas perderam a vida durante a epidemia da Gripe Espanhola - Crédito: Fotos: FIO CRUZ, Senado Federal e Biblioteca Nacional

As epidemias de doenças já assolaram e aterrorizaram São Carlos. No final do Século XIX foi a febre amarela. Há 102 anos, a gripe espanhola matou pelo menos 145 pessoas no município. À época, outras 75 mortes ficaram sem comprovação, mas também podem ter sido causadas pela mesma doença.

Por conta da pandemia da gripo espanhola, a Delegacia de Saúde de São Carlos iniciou as suas atividades em maio de 1918. A política sanitária estadual de regionalização de centros especializados nesses serviços foi implantada para combater a doença e cuidar de suas vítimas. 

A gripe espanhola chegou a São Carlos, e fez as suas primeiras vítimas, segundo os registros de óbitos do Cemitério Nossa Senhora do Carmo, em setembro de 1918, e segundo dados da Delegacia de Saúde, em outubro do mesmo ano, já havia se transformado em pandemia na cidade.
“Os dados do cemitério Nossa Senhora do Carmo apontam 367 óbitos de setembro a dezembro de 1918, sendo 145 óbitos por gripe, lembrando que 71 registros de óbitos aparecem nos livros sem a indicação da causa da morte”, afirma o historiador Júlio Osio, da Divisão de Divulgação e Pesquisa da Fundação Pró-Memória de São Carlos.

O relatório elaborado por Álvaro de Souza Sanches, delegado de saúde em São Carlos, publicado em 1920 relata que de 21 de Outubro a 31 de Dezembro de 1918 foram confirmados 2.202 casos de gripe na cidade, com 141 óbitos na cidade e fazendas do distrito.
Segundo o pesquisador Ósio, é interessante citar o que diz esse relatório da Delegacia de Saúde sobre as medidas tomadas em São Carlos, naquela ocasião, para evitar o avanço da doença no município, principalmente no meio urbano.“Em conferência que tivemos no dia 21 de Outubro de 1918, logo após a irrupção da pandemia, com os senhores dr. Delegado de Polícia, dr. Eurico de Souza Pereira, Inspetor Médico Escolar, e cap. Elias Augusto de Camargo Salles, Prefeito Municipal, foram resolvidas as seguintes medidas, que tiveram imediata execução: distribuição de boletins e inserção em jornais das instruções expedidas pela Diretoria Geral do Serviço Sanitário; criação de hospitais e postos de socorro; nomeação de uma pessoa encarregada de fiscalizar o fornecimento de gêneros alimentícios e serviços das farmácias; suspensão dos ofícios religiosos à noite e encomendações fúnebres na Catedral; suspensão das aulas dos estabelecimentos de ensino particulares; suspensão do funcionamento das casas de diversões e exercícios das sociedades esportivas; proibição da venda de gelados nas ruas e confeitarias; fechamento das casas comerciais às dezoito horas; diminuição das horas de serviço e proibição da venda de ingressos à gare da estação local; providências sobre o serviço de enterramentos no cemitério municipal”, dizia documento oficial da Delegacia de Saúde.

Durante o período da epidemia funcionaram dois hospitais para gripados, tendo sido instalado um no antigo hospital de isolamento, sito no bairro da Vila Pureza, e outro no edifício da Escola Modelo – atualmente Escola Estadual Paulino Carlos, à rua Dona Alexandrina.
Num prédio pertencente à Câmara Municipal, sito à rua Conde do Pinhal, funcionou o “Posto de Socorro”, que distribuía gêneros alimentícios, socorros médicos e remédios aos gripados pobres.
“Levando-se em conta as condições sanitárias da época, e os esforços para o seu saneamento, o que esse mesmo relatório expõe ao mostrar a atuação em São Carlos da recém-criada Delegacia de Saúde, em data já apontada (maio de 1918), constatamos que essas medidas adotadas no combate à pandemia da chamada gripe espanhola foram positivas, dado que em quatro ou cinco meses a doença foi controlada. O que mostra que devemos estudar e guardar as nossas experiências nesses episódios a fim de nos resguardarmos de males vindouros, para que eventos futuros não nos peguem desguarnecidos como agora acontece com a Covid-19”, destaca Ósio
Segundo ele, uma grande e dramática lição está sendo aprendida em todo o mundo, um aprendizado doloroso, o que vai demandar a criação de uma rede de instituições nacionais e internacionais para articulações de combate a epidemias e pandemias em qualquer lugar do planeta.

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