O grupo de extensão Ganesh, vinculado ao Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos, é um exemplo de que misturar estudo e torneios de tecnologia têm muito mais a ver do que você imagina. Em meio às prioridades acadêmicas, a equipe de estudantes dos cursos de Ciências da Computação e Sistemas de Informação têm se destacado na participação de competições da área de segurança digital, alcançando recentemente a primeira posição na América Latina, após resultados conquistados em disputas internacionais, aliando aprendizado e diversão.
A equipe se especializou em campeonatos chamados “Capture the Flag” (capture a bandeira, em tradução livre), ou simplesmente os CTFs, que são jogos on-line que desafiam os participantes (sejam empresas do segmento, entusiastas ou grupos estudantis) a resolverem problemas relacionados à segurança da informação, tendo como principal objetivo a captura de uma bandeira (normalmente um código). Fundado em 2016, o grupo conta atualmente com cerca de 100 membros.
Desde 2019, o Ganesh participa de CTFs. Na primeira temporada, o grupo foi o 8º melhor time brasileiro no CTFtime, uma espécie de ranking criado pela comunidade de segurança mundial para organizar e divulgar os eventos e classificar as pontuações dos participantes em formato de lista. No ano seguinte, a equipe subiu para o 5º lugar. De 2021 a 2023, o Ganesh se manteve como 3º melhor equipe do país nas competições de segurança do circuito mundial. Já nesta temporada, o grupo deu um salto considerável e é, por enquanto, o melhor do Brasil e da América Latina em desempenho nos CTFs. Para se ter ideia da dimensão dos feitos do time de São Carlos, o Ganesh é atualmente a 134ª melhor equipe do planeta em um total de 38.575 equipes ranqueadas.
Em 2023, o time participou de 13 CTFs e o resultado de maior destaque foi a classificação para a final do BRICS + CTF, que reuniu 25 equipes dos países do bloco composto por África do Sul, Brasil, Rússia, China e Índia, terminando na 10ª colocação. Lélio Marcos Rangel Cunha, de 20 anos, participou do Ganesh por vários semestres e relembra do desempenho no tradicional Cyber Apocalypse 2023: The Cursed Mission, em que a equipe brasileira terminou em 53º lugar em meio a quase 4,5 mil times. O jovem, que está no 6º semestre do curso de Ciências da Computação, comenta como foi o processo para ingressar no grupo: “Quando entrei no ICMC, em 2022, o Ganesh fez uma apresentação para nós na primeira semana de aula. Foi exatamente nessa apresentação que conheci o grupo. Participei do processo seletivo e comecei a participar. Foi uma experiência muito gratificante, já que aprendi bastante sobre segurança da informação – área importantíssima nos dias de hoje –, e conheci pessoas experientes no segmento.”
O número 1 do Brasil
No primeiro semestre de 2024, o grupo do ICMC já competiu em 16 eventos. Em quatro CTFs, o Ganesh terminou, pelo menos, no top 20. No Cyber Apocalypse 2024: Hacker Royale, em março, a equipe evoluiu consideravelmente seu desempenho e terminou em 36º, a única do Brasil no top 500.
O coordenador geral do Ganesh, o aluno Victor Rodrigues da Silva, enxerga que o desempenho é um marco para as equipes universitárias e para o Brasil, que vem aumentando sua relevância no universo dos jogos de segurança. “Ficar em 36º no Cyber Apocalipse, um CTF super famoso e que conta com uma quantidade alucinante de inscritos (3.101 no total), é um grande feito para o Brasil. Fomos o único time do país que terminou entre os 500 melhores. Isso só mostra o quão forte está o Ganesh no cenário mundial”, avalia o estudante de 21 anos, que está no 8º semestre de Ciências da Computação no ICMC.
No primeiro semestre deste ano, o Ganesh também se destacou no Real World 6th, em janeiro, quando terminou em 42º dentre quase 1,1 mil equipes internacionais. “Nossa participação no Real World CTF 6th foi algo de muita relevância, pois é muito difícil competir em um jogo que trata de vulnerabilidades do mundo real”, completou Silva.
Em termos de pontuação, a equipe do ICMC chegou ao ápice da temporada no ångstromCTF 2024, no fim de maio, quando obteve pontuações de destaque. Para o coordenador geral do grupo, o saldo das participações até aqui deixou seus membros extremamente orgulhosos. “Conseguir alcançar esse nível de dificuldade nesses CTFs sendo um time acadêmico, de gente que acabou de entrar na graduação e até há pouco tempo prestava vestibular, é algo espetacular. Ficar entre o 20º e 30º lugares em CTFs que oferecem premiação de até US$ 10 mil mostra o nível que o Ganesh alcançou”, comemora.
O que esperar daqui para frente?
Para o futuro, o Ganesh pretende seguir ativo no circuito de competições de forma a pavimentar o caminho para outras equipes acadêmicas que estão interessadas em escrever seus nomes no mundo dos torneios de segurança. Além disso, Victor espera que o nome do grupo do ICMC solidifique sua relevância e amplie seu reconhecimento dentro da comunidade de cibersegurança.
“Gostaríamos de chegar ao ponto de alguém da área no Brasil citar o Ganesh e ter total consciência de quem somos. Para isso, estamos fazendo projetos voltados para o público de fora da universidade e também vamos realizar eventos até o fim do ano para a comunidade aberta. Não queremos somente participar dos jogos, mas apresentar e gerar projetos para serem oferecidos externamente”, finaliza o coordenador.