domingo, 15 de setembro de 2024
Educação

Docente aposentado da USP São Carlos apela para que alunos de graduação se aventurem por novos caminhos

De acordo Sylvio Goulart Rosa, físicos têm um enorme mercado de trabalho à sua disposição

02 Set 2024 - 07h26Por Assessoria de Imprensa
Docente aposentado da USP São Carlos apela para que alunos de graduação se aventurem por novos caminhos - Crédito: Divulgação Crédito: Divulgação

A palestra proferida pelo professor Sylvio Goulart Rosa, diretor presidente da Fundação Parque Tecnológico de São Carlos (ParqTec), no dia 23 de agosto do corrente ano, no âmbito da apresentação intitulada “Geradores de conhecimento, poder e riqueza”, integrada na Disciplina de Direcionamento Acadêmico, foi um enorme exercício de conscientização dirigido aos alunos de graduação do Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP), alertando-os para o fato de que existe um enorme mercado de trabalho disponível para eles, e não apenas a expectativa única de virarem professores universitários. Enfaticamente, a apresentação de Sylvio Goulart Rosa teve a particularidade de despertar consciências e de estimular os alunos a fazerem muito mais coisas rumo a expectativas profissionais que talvez eles ainda não tenham vislumbrado.

Atuando há cerca de vinte e sete anos nas áreas de empreendedorismo, inovação, transferência de tecnologia e desenvolvimento regional, o Prof. Sylvio Goulart Rosa carrega em seu vasto curriculum vitae uma das missões que, segundo ele, mais prazer desempenhou: docente no antigo Instituto de Física e Química de São Carlos (IFQSC), instituição que viria a se desmembrar nas atuais e prestigiadas unidades da USP – Instituto de Física e Instituto de Química de São Carlos. Para ele, se um ex-aluno falar para alguém que foi formado pela USP, as portas do mercado automaticamente se escancaram. “Essa particularidade, esse prestígio que existe não só na USP como nas melhores universidades do mundo, facilita enormemente os resultados de uma entrevista de emprego, no início da carreira de um aluno de física, principalmente no momento atual em que o mercado se dilatou. Há alguns anos atrás, quando a rede de universidades federais no Brasil estava crescendo, havia uma demanda muito grande por físicos, principalmente para serem professores universitários. Agora, esse crescimento abrandou muito e a taxa de reposição desses profissionais é muito baixa e lenta, embora continuem a ser formados contingentes de físicos no país”, pondera o Prof. Sílvio Goulart Rosa. Para o docente, o mercado de trabalho, como se apresenta atualmente, retirou a quase obrigatoriedade que os físicos tinham em desenvolver unicamente suas atividades dando aulas. “Agora, o físico pode trabalhar onde quiser, inclusive nas áreas industrial e financeira, só para dar dois exemplos, ou criar sua própria empresa, já que ele pode beneficiar de inúmeros apoios e financiamentos com riscos mínimos – SEBRAE, FAPESP, CNPq e FINEP, entre outros agentes”, pontua o professor.

Aluno tem que ser “egoísta” – Ciência é um instrumento de poder

Para Sylvio Goulart Rosa, o aluno de física tem que ser “egoísta”, tem que querer o melhor de tudo para ele mesmo, para que possa desbravar horizontes. Para o docente, por vezes um aluno passa por um laboratório e não conversa com o professor, fica intimidado pela situação, não tem a coragem de se aproximar, de dialogar, tirar dúvidas. “Os alunos têm que ser mais agressivos, mais atrevidos, mais curiosos, sendo que é obrigação do professor acatar e educar a curiosidade desses alunos e não ter qualquer medo de investir neles – muito pelo contrário. É bom convidar o professor para beber uma cerveja ou um café e trocar opiniões com ele fora da sala de aula, porque dessa forma fica feito um vínculo de relacionamento diferente, mais próximo, mais salutar, mais descontraído”, sublinha o professor, acrescentando que tudo isso orbita no fato de se poder exercer a ciência de uma forma aberta, desinibida, até porque essa ciência é um instrumento de poder e de riqueza, que caracteriza a própria história da humanidade.

O Prof. Sylvio Goulart Rosa enfatiza que o conhecimento começou com os sábios, sublinhando o exemplo de Portugal e de sua epopeia marítima. “Poder e riqueza! Veja o que aconteceu com Portugal, que criou e desenvolveu a arte das ciências náuticas, a formação de cartógrafos, marinheiros e pilotos, tudo isso ministrado na Escola de Sagres, um importante centro de estudos de navegação e cartografia localizado na região do Algarve, em Portugal, durante o século XV. Foi fundada pelo Infante Dom Henrique, conhecido como “O Navegador”, e teve como objetivo principal o desenvolvimento de técnicas de navegação, aprimoramento de embarcações e estudos astronômicos. A Escola de Sagres desempenhou um papel crucial no período das Grandes Navegações, contribuindo para a expansão marítima portuguesa, para o desenvolvimento do comércio e de descobertas de novas terras”, pontua o professor, salientando o fato de a ciência continuar a avançar muito rapidamente.  Dos descobrimentos marítimos à inteligência artificial (IA) foi um “pequeno salto” e o Prof. Sylvio Goulart afirma que os avanços não param. “Por exemplo, reparem que vocês já vestem tecnologia: é a invenção das roupas inteligentes, dos óculos inteligentes, dos sapatos que geram energia. Estamos vivenciando uma era de mudanças muito rápidas e se vocês não participarem nesta geração de conhecimento serão apenas meros consumidores”, enfatiza o docente.

O IFSC e o ParqTec como exemplos

Para o Prof. Sylvio Goulart Rosa, o Brasil tem um poder científico extraordinário, sendo que o exemplo de primeira linha é a ciência aplicada no agronegócio, com a EMBRAPA a marcar a cadência e a aumentar o nível competitivo com o resto do mundo. “A par com a EMBRAPA se posicionam outras instituições científicas de prestígio, entre elas o IFSC/USP, com novos desenhos de fármacos, vacinas, medicação, combate a diversos tipos de câncer e o desenvolvimento de fármacos personalizados. O Brasil é um “monstro” entre os seus pares no mundo inteiro e o Instituto de Física de São Carlos e a Universidade de São Paulo são os maiores exemplos disso”, argumenta o docente.

Considerando que nos últimos setenta anos foram investidos no IFSC/USP muitos recursos estaduais e federais, Sylvio Goulart Rosa recorda que tudo começou com a criação da Escola de Engenharia de São Carlos. “Foi montada, ao longo dos anos, uma superestrutura de ciência e tecnologia. Laboratórios, programas de graduação e de pós-graduação, colaborações internacionais, o despontar de pesquisas de qualidade, de prestígio e a formação de cientistas de prestígio mundial. Então, o IFSC/USP foi se armando e agora começa a dar os frutos. Foram investimentos feitos em pessoas e em educação de qualidade desde a base. E, toda essa riqueza tem que ser empregada para resgatar a periferia, puxá-la para dentro, tornar a sociedade mais simétrica: essa é a nova riqueza – a inovação tecnológica que geramos. As características e potencialidades científicas e tecnológicas da cidade de São Carlos já estão sendo copiadas por outras instituições, em outros locais, tendo em consideração que o ParqTec é o grande laboratório mestre. E é ele que dá o exemplo de como se devem criar interfaces entre a academia e o mercado, oferecendo a oportunidade aos jovens que se formam em física de poderem vir a ser empresários, serem donos de seu próprio negócio, de ultrapassarem fronteiras e aplicarem todo o seu conhecimento científico ao serviço de sua cidade, de seu estado e de seu país”, finaliza o docente. (Rui Sintra - Jornalista do IFSC/USP)

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