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Crianças da creche da USP em São Carlos aprendem a montar e controlar robôs

11 Jun 2015 - 14h15
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Ele tem apenas quatro anos e está eufórico. Ao ver o professor na porta da sala com um robô e suas demais ferramentas de trabalho, não resiste: vai logo explorando aquela máquina com as mãos ansiosas. “Leandro, onde está o cérebro do robô?”. O garoto aponta certeiro para a central de comando do objeto. “E as pernas dele, onde estão?” De novo, o menino movimenta rapidamente as mãos em direção as rodas que fazem o robô andar.

É segunda-feira, quase 15 horas, e as nove crianças que compõem a Turma do Vulcão, todas com quatro ou cinco anos, voltam do lanche afoitas para aprender mais sobre robôs. Não estamos em uma escola primária inglesa, onde desde o ano passado as crianças a partir de cinco anos passaram a ter aulas de programação. Estamos na creche da USP em São Carlos, a cerca de 230 quilômetros da capital do Estado de São Paulo. É aqui que, desde março, o projeto idealizado pela professora Roseli Romero, do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, ganha vida.

“Prender a atenção deles é o meu maior desafio”, revela o estudante Isaak Machado, que abraçou a ideia do projeto criado por Roseli e ministra aulas de robótica para duas turmas da creche nas segundas à tarde. Isaak sempre gostou de ensinar e, ainda no ensino médio, ministrava aulas de reforço para seus colegas. Ele também já participou, como voluntário, de uma iniciativa para ensinar pré-adolescentes de baixa renda, mas nunca havia trabalhado com crianças na educação infantil. “Aqui, eu preciso de ação, não posso ficar na teoria”, diz o estudante, que cursa Engenharia Mecatrônica na Escola de Engenharia de São Carlos (EESC). 

Aliás, ação é a palavra que melhor sintetiza o que acontece nessa aula de robótica. Agitadas para tocar e mexer no robô que elas mesmas montaram ao longo do projeto, as crianças não ficam quietas um minuto sequer. Com a ajuda das professoras da creche, Isaak vai aos poucos conseguindo explicar alguns conceitos importantes: “Vamos fazer nosso robô andar seguindo uma faixa?”. Ele logo angaria um grupo de voluntários que ajudam a fixar a fita adesiva no chão. “E agora, como vamos ensinar esse robô a andar na faixa? O que eu usei para falar com o robô na outra aula?”, pergunta o professor. “Um computadorzinho!”, responde imediatamente Leandro Pascual. Então, Isaak liga o laptop e entra em uma plataforma de programação chamada LEGAL.

De novo, o professor lança outra pergunta para seus alunos: “Qual palavra usamos para começar a ensinar o robô?”. As crianças respondem em coro: “Por favor”. E lá vai Isaak escrevendo “Por favor” no computadorzinho. “Mas eu preciso falar para o robô seguir a faixa por quanto tempo? Vamos contar quantos passos ele precisa dar?”. Magicamente, os pequenos atendem ao pedido e fazem um trenzinho, andando sobre a faixa que está no chão. Os números surgem naturalmente para contar os movimentos dos pés: 1, 2, 3... 16. Alguns contam um pouco mais, mas a maioria termina no 16. Isaak explica às crianças que o robô não sabe o que são passos, mas que ele entende o que são segundos e que vai dizer para o robô andar durante 16 segundos. Antes de finalizar, o professor pergunta: “O que a gente fala para o robô, no final, para ele obedecer a gente?”. Outra vez, ouvimos o coro das crianças: “Obrigado”. 

A disputa agora é para ver quem aperta o botão “Ensinar” na plataforma LEGAL. A cada aula, é vez de uma criança. Felizes, os pequenos acompanham atentos os passos do robô sobre aquela linha branca. Tal como eles, o robô parece feliz em sua trajetória pelo jardim da infância. 

Múltiplos aprendizados – “É a primeira vez que temos a oportunidade de trazer essa tecnologia existente na USP para os nossos alunos”, conta a coordenadora da creche, Beatriz Boriollo. Três turmas de crianças entre 4 e 6 anos participam da iniciativa, totalizando 28 alunos que têm uma aula de robótica por semana. Isaak é o professor em duas turmas e o estudante Guilherme Moreira, também da EESC, ministra aulas para o outro grupo.

“As crianças não estão apenas entrando em contato com um equipamento sofisticado, estão investigando como um robô funciona, explorando as possibilidades de montagem. É um processo investigativo em que diversos conceitos são trabalhados como a coordenação motora fina, a importância da concentração, o trabalho em equipe e questões matemáticas como ordens de grandeza, formatos e encaixes”, explica Beatriz. A brincadeira de montar o robô foi tão fascinante para as crianças que algumas passaram a procurar pela caixa de ferramentas quando estavam em casa.

Porém, as descobertas realizadas nesse trabalho não se restringem ao universo infantil. Quando os quatro kits de robótica chegaram à creche, também surpreenderam as professoras. “O maior aprendizado foi durante a montagem dos robôs, muitas delas não conheciam as ferramentas”, diz Fabrícia Bedinotto, que é coordenadora de módulo de 4 a 6 anos na creche. 

“Precisamos realizar várias adaptações no projeto, pois nunca havíamos trabalhado com crianças nessa faixa etária. Desenvolvemos uma nova forma de passar o conhecimento para elas e investimos mais tempo na montagem dos robôs do que havíamos planejado inicialmente, porque elas adoraram fazer isso”, explica Isaak. Comparar as partes de um robô com o corpo humano é uma das técnicas empregadas por ele, além de dar mais foco na ação do que na teoria. 

“O mais interessante é que as crianças deixam de enxergar o robô como uma máquina misteriosa. Elas entendem que, para que o robô deixe de ser apenas um monte de peças e passe a interagir com o meio ambiente, é preciso colocar sensores e programá-lo”, conta Roseli, que é vice-coordenadora do Centro de Robótica de São Carlos (CROB) e pretende dar prosseguimento ao projeto que começou a ser realizado em março na creche.

O projeto realizado na creche faz parte do Programa Aprender com Cultura e Extensão da USP e recebeu o apoio da empresa Pete, que forneceu os kits de robótica, além de recursos da FAPESP e do CNPq. “Esse tipo de iniciativa é um estímulo fantástico para as crianças. Essa geração assimila muito rápido as questões tecnológicas, já nasceram com o dedo pronto para as telas sensíveis ao toque. Por isso, é muito bom que eles sejam apresentados a conhecimentos mais avançados porque, lá na frente, tudo isso já será muito natural para eles”, aprova o físico Rogério Pascual, que é pai de Leandro Pascual e funcionário do ICMC.

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