Para incentivar mais pessoas a realizarem a coleta seletiva, facilitando a vida de catadores e das instituições que gerenciam esses sistemas nas cidades brasileiras, acaba de ser lançada a plataforma Recicle++. Composta por três aplicativos gratuitos e fáceis de usar, a tecnologia foi desenvolvida em parceria por alunos do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos, e do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG), campus Divinópolis. O projeto foi coordenado pela professora Maristela Oliveira dos Santos, do ICMC, e pelo professor Alisson Marques da Silva, do CEFET-MG.
O Recicle++ é uma evolução de um protótipo desenvolvido anteriormente pelo CEFET-MG. A nova versão da plataforma levou mais de dois anos para ser concluída e envolveu a colaboração de cinco alunos das duas instituições: Flaviane Louzeiro, Beatriz Lomes e Moniely Silva Barboza, do ICMC, e Leonardo Campos e Patrick Menezes, do CEFET-MG.
A solução é composta por três aplicativos distintos: um para doadores, um para coletores e outro para administradores (como prefeituras, ONGs ou cooperativas de reciclagem). No aplicativo destinado ao doador, as pessoas podem especificar o tipo de material que desejam doar (como papel, óleo, vidro, entre outros), escolher o horário mais conveniente para a coleta e interagir com o coletor através de um chat integrado no aplicativo. “Essa abordagem cria um ambiente mais colaborativo e eficiente, permitindo que tanto doadores quanto coletores se coordenem de maneira eficaz para a realização da coleta”, destaca o professor Alisson.
Por outro lado, o aplicativo desenvolvido para os coletores permite que eles localizem e selecionem as coletas mais convenientes em um mapa. Após a seleção, o aplicativo traça automaticamente uma rota para otimizar a realização das coletas. A geração dessa rota é um dos principais avanços em relação à versão anterior, pois permite que os coletores realizem percursos que abrangem vários doadores de maneira mais eficaz. “A inclusão de rotas otimizadas é um aprimoramento crucial, pois permite que os recicladores economizem combustível e tempo,” diz a professora Maristela.
O terceiro aplicativo é do administrador, no qual é possível cadastrar e monitorar o desempenho dos coletores, além de gerar relatórios detalhados. Esse aplicativo é destinado para as instituições responsáveis por gerenciar os coletores, normalmente prefeituras, associações de catadores ou ONGs que atuam nesse segmento.
Disponível para todas as cidades
A plataforma Recicle++ foi projetada para ser facilmente adaptada para qualquer cidade. Segundo Leonardo, aluno de Engenharia de Computação do CEFET-MG, ela foi desenvolvida para ser facilmente customizada, permitindo que qualquer pessoa com conhecimento técnico básico ajuste o mapa local e outras configurações necessárias e implante a solução em sua cidade ou região. Os interessados podem fazer o download do código fonte da solução neste endereço: https://github.com/recicleplusplus.
Para obter informações sobre como customizar os mapas e adaptar o aplicativo para outras localidades, os usuários podem acessar o canal do projeto no YouTube, que oferece vídeos tutoriais: youtube.com/@recicleplus. Além disso, a equipe responsável pelo desenvolvimento do Recicle++ está disponível para suporte por e-mail: recicleplus@gmail.com.
Vale ressaltar que uma versão teste do Recicle++ está disponível na Play Store para dispositivos Android. Essa versão, configurada para a cidade de São Carlos, tem o objetivo de permitir que os usuários experimentem a ferramenta e conheçam suas aplicações.
Como a parceria surgiu
A professora Maristela, que trabalha com modelos matemáticos para resolver problemas complexos em diversos setores, tal como na indústria, sempre teve o desejo de desenvolver uma solução relacionada à coleta seletiva. Durante a pandemia, ela começou a orientar um aluno que havia feito um curso técnico no CEFET-MG e ele mencionou que haviam desenvolvido um aplicativo para reciclagem. Animada com a possibilidade de unir seu interesse por coleta seletiva e sua expertise em otimização, a professora entrou em contato com o professor Alisson, que estava à frente desse projeto do CEFET-MG.
Juntos, e com o apoio dos alunos, eles começaram a explorar maneiras de aprimorar o protótipo, focando especialmente na otimização das rotas de coleta. Para facilitar o trabalho em equipe, utilizaram a plataforma GitHub, que permite que desenvolvedores de diferentes locais colaborem em um mesmo projeto, mantendo todo o desenvolvimento organizado em um repositório de uso comum.
Maristela conta que o trabalho foi se desenvolvendo com naturalidade e que, por meio de reuniões semanais, ela e o professor Alisson incentivavam os alunos a assumirem responsabilidades com base em suas competências e interesses.
A estudante Beatriz, por exemplo, que demonstrava um grande interesse e habilidade em redes sociais, foi direcionada à parte de web, enquanto a equipe do CEFET-MG concentrou-se na programação do aplicativo devido à sua sólida formação em desenvolvimento.
Já o aluno Leonardo destaca que a experiência foi muito positiva, com uma comunicação aberta e flexível, permitindo que todos se sentissem à vontade para expressar suas ideias e contribuir de maneira significativa. “Mesmo com a equipe reduzida, todos foram muito solícitos e colaborativos”, avalia.
Impacto esperado
Com o lançamento da solução Recicle++, a expectativa é que seja adotada por diversas cidades. Assim, a equipe de desenvolvimento poderá avaliar a eficácia das funcionalidades e realizar aprimoramentos conforme necessário.
A meta é expandir o alcance e o impacto da iniciativa por meio de novas parcerias, que poderão auxiliar na implementação de políticas de recompensa e na adição de recursos avançados, como a análise de dados. “Esperamos que a implementação do aplicativo contribua para aumentar a porcentagem de materiais recicláveis coletados, já que no Brasil o índice de reciclagem é de apenas 4%”, destaca Maristela.
Quais tecnologias foram utilizadas
Para o desenvolvimento do projeto Recicle++, os alunos utilizaram principalmente a linguagem de programação Dart e o framework Flutter, que permitem a criação de aplicações móveis. Além disso, foi empregado o Firebase, um banco de dados do Google, para garantir a segurança dos dados e eliminar a necessidade de equipamentos dedicados.
Para facilitar a colaboração e a replicação do ambiente de desenvolvimento, a equipe utilizou o Docker, uma ferramenta que permite o trabalho em equipe sem demandar a instalação de outros softwares e pacotes adicionais.