Da pequena Rua da Ponte, nos primórdios da história, depois Rua do Comércio, se estendendo apenas da capela (atual Catedral) até a rua General Osório, atravessando o Córrego do Gregório por uma pinguela de madeira, a Avenida São Carlos foi espichando. Tornou-se ao longo do tempo a principal passarela por onde transitou a história da cidade.
Poucas cidades brasileiras têm o privilégio de serem cortadas de norte a sul por uma avenida que no passado interligou diretamente esses dois pontos, sendo via de mão dupla. Ganhou sentido único e parece ainda estar à espera de um melhor tratamento por parte dos governantes e da população.
Há 60 anos, a Lei nº .3.463, sancionada pelo prefeito Antonio Massei, procurou abrir caminhos para a expansão da via para a região norte da cidade. A lei tornou obrigatório um recuo mínimo de quatro metros do alinhamento da rua para todas as construções localizadas em ambos os lados da Avenida no trecho entre a rua Adolfo Cattani e a travessa de acesso à Cidade Jardim.
Em 1958, pela Lei nº 3579 o final da avenida recebia o nome de "Professor Luis Augusto de Oliveira" em homenagem ao ex-prefeito falecido dois anos antes.
CHEGADA DO ASFALTO
O pavimento de paralelepípedos, que por tantos anos lhe emprestou um charme especial, ganhou revestimento asfáltico a partir de 1967, quando também foram remodeladas as redes de água e esgoto, o sistema de águas pluviais, com substituição de guias e sarjetas. O trabalho nessa época incluiu o alargamento da avenida e o afastamento de postes de iluminação.
Havia ainda uma preocupação com o aspecto urbanístico: a lei 5.679 definiu que toda construção, reconstrução, adaptação ou reforma de prédio na avenida deveria obedecer ao alinhamento mínimo de dois metros e meio das guias definitivas.
Trinta e um anos mais tarde, em 1998, a avenida escapou de uma tentativa de implantação de "canteiros ornamentados com mudas de palmeira imperial em toda a sua extensão". Pela lei 11.459, cada quarteirão deveria ter dois canteiros sobre a faixa divisória, contando com três palmeiras. Foi desse período a mudança mais recente e significativa do trânsito na avenida, o estabelecimento de mão única de direção na parte central da cidade.
No tempo dos bondes da Companhia Paulista de Eletricidade (1914-1962), a linha 1 do serviço (Cemitério-Estação) percorria a avenida passando pela Rua General Osório. Também as linha 2 (Ginásio Diocesano-Santa Casa) e 3 (Estação-Vila Nery) passavam por pequenos trechos da avenida na área central da cidade.
ANOS DOURADOS
O transporte público teve a avenida como seu principal corredor, também nos anos dourados em que por ele circularam jardineiras, os caminhões Mercedes-Benz carregados de geladeiras Climax, das Indústrias Pereira Lopes, e também caminhões da FNM transportando os trabalhadores da Companhia Brasileira de Tratores (CBT). Em 1970, quando a UFSCar foi inaugurada, os pontos finais dos ônibus que circulavam na avenida eram localizados no Cemitério e no Frigorífico São Carlos do Pinhal (na área onde atualmente está o Hospital Universitário da UFSCar). Os ônibus da primeira empresa de transporte coletivo a servir a cidade (a Irmãos Negri) só chegaram ao campus da universidade em 1972.
Percorrer a avenida hoje representa ir ao encontro de vários períodos da história, presentes nas construções como o Palacete Conde do Pinhal, as praças Santa Cruz, dos Voluntários, o Jardim Público (Praça da Catedral). A Escola Álvaro Guião (antiga Escola Normal), a Praça Coronel Sales (antigo Largo Municipal), a sede do São Carlos Clube e a Catedral Diocesana, principal cartão postal da cidade.
A passarela dos desfiles comemorativos, das passeatas e manifestações públicas da cidade que pulsa no ritmo das universidades e das indústrias é também - e sempre será - um grande corredor comercial, com seus bares, lojas, hotéis, supermercados e instituições bancárias que dão vida à cidade - cenário que viu surgir e desaparecer o Cine Avenida, o Bar São Paulo, o Café do Centro - ícones de outras épocas.
Nossa avenida mais importante poderá se converter um dia em apenas mais uma rua no centro de São Carlos. Mas pelo seu significado histórico, quem sabe possa ter um lugar especial no coração dos são-carlenses, como a Avenida Paulista para os paulistanos - analogia que sugere uma pergunta: como será a Avenida São Carlos no futuro?
(*) O autor é cronista e assessor de comunicação em São Carlos (MTb 32605) com atuação na Imprensa da cidade desde 1980. É autor do livro “Coluna do Adu – Sabe lá o que é isso?” (2016).
Esta coluna é uma peça de opinião e não necessariamente reflete a opinião do São Carlos Agora sobre o assunto.