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quinta, 30 de janeiro de 2025
CESTA BÁSICA MAIS CARA

Reduzir preço dos alimentos é grande desafio do governo”, afirma economista

lima desfavorável e alta do dólar são os dois principais vilões, principalmente no salto de preços das carnes, do café, do açúcar, da laranja e do óleo de soja

28 Jan 2025 - 18h54Por Marco Rogério/Redação SCA
Reduzir preço dos alimentos é grande desafio do governo”, afirma economista -
Conseguir a redução do preço dos alimentos na mesa do brasileiro é, mais que uma meta, um grande desafio para o governo do presidente Luís Inácio Lula da Silva. A reflexão é do economista Paulo Cereda. Segundo ele, a margem de manobra do governo para buscar tal objetivo é pequena e não existem muitas as opções factíveis para buscá-lo.
 
Os principais produtos alimentícios com avanços de preços em 2024 foram, principalmente, carne bovina, laranja, café, açúcar e óleo de soja. 
 
Cereda explica que os principais motivos para a alta dos preços estão no câmbio e nos extremos climáticos. “A falta de chuva ou excesso de chuva atrapalha o plantio e a colheita, reduzem a produção e escasseiam a quantidade, o que faz o preço subir. O café foi impactado pelo clima com problema de safra reduzindo a oferta e sentimos alta nos preços. Por outro lado o dólar alto prejudica de duas formas. A primeira através da alta dos preços dos insumos para a produção, como fertilizantes, importados e comprados em dólar. A segunda é que com o dólar em alta é mais atrativo para o produtor exportar seus produtos do que vender no mercado interno. Percebemos isso nas carnes e na questão do açúcar a podemos ter alta no valor do álcool em breve”, explica ele.
 
O economista ressalta que uma das medidas que o governo pode tomar para fazer os preços dos alimentos caírem é reduzir a taxa de impostos, medida que pode, por outro lado, comprometer o ajuste fiscal. “Reduzir tributos e ter arrecadação menor e existe um desafio de se manter o equilíbrio fiscal. Outra opção é provocar a redução do dólar, que acaba aumentando a oferta no mercado interno, reduzindo os preços. No mais é torcer por um clima mais favorável que não afete a produção”, pondera ele. 
 
Embora não reduza a importância da questão cambial na inflação dos alimentos, o físico e ex-presidente da Embrapa, Silvio Crestana, destaca que os chamados extremos climáticos afetam diretamente o preço da cesta básica do brasileiro.  “O grande desafio que existe, tanto na produção, quanto na pesquisa, é tentar manter a produtividade sob estas condições climáticas que são desfavoráveis. Não há ainda uma solução para isso”, comenta.
 
O surgimentos destes fenômenos extremos, segundo ele, causam uma pausa num contexto que era favorável à queda do preço dos alimentos. “É importante também dizer que sempre houve nos últimos 30 anos um relação muito positiva entre aumento da produtividade da lavoura, quando você produz na mesma área. Assim, se produz, na mesma área mais grãos ou mais carne por hectare, metro quadrado e etc. Era assim que conseguíamos viver uma redução do preço da cesta básica. A partir de 2016, já há sinais de que o custo da cesta básica para de cair. Este custo fica congelado durante um tempo e agora mostra tendências de alta. Então são duas coisas fundamentais no impacto das mudanças climáticas. Um é a perda de produtividade e produção. Como exemplo, este ano o Brasil não bateu o recorde de produção como vinha batendo nos últimos 20 anos. Em 2024, não. A produção foi mais baixa. O outro aspecto é o aumento do custo da cesta básica, que pega o consumidor. Então, são duas coisas, uma o produtor e a outra o consumidor, lembrando que ambos são afetados”, destaca ele.
 

Vilões da inflação dos alimentos 

Os cinco itens — de consumo popular — estão entre os alimentos que mais encareceram em 2024, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

Confira:

Laranja-lima e laranja-pera: 91,03% e 48,33%
Café moído: 39,6%
Óleo de soja: 29,21%
Carnes: 20,84% (maior alta no acém, 25,24%)
Açúcar e derivados: 5,59% (maiores altas no açúcar orgânico, de 17,62%, e etanol, de 17,58%.
 
 
Confira abaixo cinco medidas, sugeridas por economistas e por porta-vozes de setores produtivos para tornar os alimentos mais baratos.
 
Veja as medidas:
 

1. Melhorias em gargalos logísticos

Como existe pouco espaço fiscal no governo federal, o economista André Braz, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV Ibre), afirma que fica difícil achar soluções no curtíssimo prazo. Com isso, ele entende que o Planalto precisa implementar soluções no médio e longo prazo, com efeitos ainda nesta gestão. Não seria apenas uma ação, mas um conjunto de medidas, em diversas cadeias, segundo o economista. 
 
Um desses passos seria reforçar e facilitar a cadeia produtiva. O governo conseguiria isso ao melhorar a logística e infraestrutura, priorizando a manutenção de estradas, rodovias e incentivando o uso de ferrovias e hidrovias, de acordo com Braz. Esse esforço reduziria os custos de logística e transporte, que oneram os produtores e os consumidores finais, segundo o economista. Além disso, cita também o avanço na armazenagem como ação que caminha na mesma direção.
— Eu acho que é uma coisa que o Brasil precisa investir mais, explorando primeiro o que já tem e depois fazendo planos para aumentar essas vias. E também apoio à logística reversa e à própria armazenagem, criando parcerias para melhorar a armazenagem e a silagem de alimentos. Isso pode reduzir perdas de pós-colheita — diz Braz.
 

2. Ações de médio prazo

O economista também cita alternativas de médio prazo, como:
 
Fortalecimento da concorrência e redução da intermediação;
Criação ou expansão de feiras livres em mercados produtores;
Promoção de plataformas digitais para conectar agricultores diretamente aos consumidores;
Aumento da fiscalização de práticas anticompetitivas;
 
Estímulo à eficiência produtiva com acesso à tecnologia de baixo custo para pequenos produtores rurais.
 
Você pode fazer uma gestão inteligente de estoques e abastecimento, aprimorar estoques reguladores, mapear os gargalos de abastecimento. Você pode estimular a produção e o consumo de alimentos sazonais. Incentivar o consumo de alimentos disponíveis em maior quantidade durante a safra reduz os custos relacionados à importação e transporte de longa distância  destaca Braz. 
 
O reforço e a ampliação no acesso à informação para consumidores e agricultores sobre tendências de preços também podem ajudar a diminuir os custos e os preços, segundo Braz. Isso contribuiria para equilibrar a oferta e a demanda, conforme a análise do especialista. 
 

3. Ajuste fiscal 

Economista chefe da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Antônio da Luz defende que a elevação de preços é generalizada, não somente nos alimentos. E que o fenômeno inflacionário, portanto, não se resolverá com medidas pontuais. Na avaliação do economista, os ministros "partem do ponto errado". Ele diz que o governo precisa resolver o seu desequilíbrio fiscal para então reacomodar a subida de preços.  
 
 Se baixar a tributação, nós vamos ser gratos, é claro, mas não vai resolver. Não adianta resolver um problema complexo com remédio que não funciona. Ou se equilibram as contas, ou se aumentam os juros, ou teremos inflação — diz Luz. 
 
Conforme o economista, as sinalizações do governo estão centradas em dois eixos, atuando na oferta de alimentos e na retirada de tarifas de importação de produtos que sejam mais baratos na origem. Ambos os ajustes não têm efeito, diz, já que os problemas estão na demanda. Além disso, há os custos que anulam.  
 
Será que a logística brasileira vai manter esse produto (importado) mais barato? São medidas que não têm possibilidade de resolver o problema — questiona Luz.
 

4. Equilíbrio do câmbio

Especialistas ouvidos pela reportagem destacam que o reequilíbrio fiscal também abre espaço para câmbio menos estressado. O professor de economia da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV EAESP) Renan Pieri afirma que as medidas ventiladas no momento, como redução de impostos de importação, podem trazer um alívio pontual nos preços, mas esse efeito pode ser limitado em razão da volatilidade nos valores dos alimentos.
 
Além disso, a medida também pode ter um viés negativo em um cenário onde o governo apresenta problemas fiscais e dificuldade para equilibrar o câmbio, que também afeta os preços dos alimentos.
 
 No ponto de vista macroeconômico, a principal política que poderia contribuir com o custo de vida do brasileiro seria reorganizar as contas públicas, com ajuste fiscal mais rigoroso, e tentar ancorar as expectativas, trazer o dólar para um patamar mais baixo, o que também permitiria a redução dos juros. Os juros mais baixos permitem que as empresas produzam de forma mais barata e o consumidor tome crédito mais barato — explica Pieri. 
 
O professor do Departamento de Economia e Relações Internacionais (DERI) e dos programas de pós-graduação em Desenvolvimento Rural (PGDR) e em Agronegócios (CEPAN) Leonardo Xavier Da Silva afirma que a redução de taxas de importação pode diminuir os custos. Contudo, não há uma garantia, porque a composição de preços depende de uma série de fatores. A acomodação da taxa de câmbio, por conta de movimentos internacionais e internos, como equilíbrio fiscal, seria mais efetiva nesse sentido, segundo Silva.
 
 É possível fazer mudanças transitórias em tarifas de importação? Sim. Isso vai assegurar queda nos preços dos alimentos? É uma interrogação, a gente não sabe. A acomodação da taxa de câmbio, por conta de questões internacionais, de política monetária e fiscal, é que vai ter, eventualmente, uma capacidade maior de acomodar esses preços.

5. Proximidade do produtor

No meio da cadeia entre produção e consumo, a Centrais de Abastecimento do Rio Grande do Sul (Ceasa) vê necessidade de ajustes na oferta para a manutenção dos preços. O motivo para isso é a redução no número de agricultores nos últimos anos, especialmente no ramo de hortifrútis.
 
Segundo o presidente da Ceasa, Carlos Siegle, a participação caiu pela metade desde 2016, o que reflete diretamente na disponibilidade de produtos. Para Siegle, as ações do governo federal precisam ser feitas junto ao produtor. 
 
 Acho excelente (as medidas), é importante manter os preços baixos. Mas a ação que precisa ser feita é junto ao produtor. Há dados que acompanhamos que mostram que o produtor está deixando de produzir alimento. Isso é uma coisa que o governo precisa enfrentar. O agricultor precisa de garantias para vender produção, precisa de subsídio. Isso garantiria uma renda mínima para produzir comida — diz o presidente.
 
 

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