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segunda, 31 de março de 2025
Finanças

Lideranças criticam juros básicos de 14,25% ao ano

25 Mar 2025 - 19h23Por Redação
Gráfico - Crédito: Fecomercio/DivulgaçãoGráfico - Crédito: Fecomercio/Divulgação

A alta do preço dos alimentos e da energia e as incertezas em torno da economia global fizeram o Banco Central (BC) aumentar mais uma vez os juros. Por unanimidade, o Comitê de Política Monetária (Copom) aumentou a taxa Selic, juros básicos da economia, em 1 ponto percentual, para 14,25% ao ano, dessagrando lideranças empresariais e trabalhistas. 

Em comunicado, o Copom afirmou que as incertezas externas, principalmente pela política comercial do país, suscitam dúvidas sobre a postura do Federal Reserve (Fed, Banco Central norte-americano). Em relação ao Brasil, o texto informa que a economia brasileira está aquecida, apesar de sinais de moderação no crescimento.

O economista Elton Casagrande afirma que a partir de janeiro deste ano o regime de metas mudou em termos de seu funcionamento. “Não se trata mais da meta ser cumprida entre 1 de janeiro a 31 de dezembro. E uma meta de inflação contínua em termos de 12 meses seguidos. É considerada meta descumprida se a meta ficar fora mais de 6 meses”. 

Segundo Casagrande, a questão da meta tem a ver com a taxa de juros real e a remuneração das aplicações de portfólio, comparando as possiblidades de aplicações no Brasil versus exterior. “Então, a comparação de juro nacional e juro internacional é levada em consideração pelos organismos que conduz investimentos com movimentos em portfólio e também as possiblidades de depreciação cambial que reduz o ganho em moeda internacional. Então se um investidor estiver no Brasil e houver depreciação cambial, a remuneração em juros real no Brasil ocorre, mas ao converter em dólar, o indivíduo ou o fundo perdem, pois ele tem entregar mais reais para comprar o mesmo dólar”, explica.

Desta forma, segundo o economista, vamos para a causa do aumento da Selic. O aumento de preços está atrelado ao aquecimento econômico que já ocorre há algum tempo e que acaba ampliando a demanda. Logo há um ajuste de preços relativos que recaem sobre o nível geral de preços. Então, os preços das cadeias produtivas vão causar um efeito a médio prazo na inflação. Há uma falha grande da política econômica da equipe econômica. Hoje é melhor termos uma inflação e um ganho menor no mercado financeiro”, destaca.  

MERCADO IMOBILIÁRIO - José Augusto Viana Neto, presidente do CRECISP (Conselho Regional de Corretores de Imóveis do Estado de SP) destaca que o aumento dos juros resultará numa redução de negócios no mercado imobiliário, mas observa que o principal programa de construção do país não será afetado. “A interferência da taxa de juros no mercado imobiliário para o mercado imobiliário é um problema grave, pois as pessoas têm que comprovar renda para assumir um funcionamento imobiliário. E o valor da prestação não pode ser superior a 30% da renda familiar. Qualquer ponto percentual que sobe na taxa de financiamento, acaba se transformando num obstáculo, pois muitas pessoas não têm renda familiar suficiente para suprir o mínimo necessário exigido pelos bancos financiadores. Então nós temos este problema. Quando aumenta a Selic aumentam também as taxas de juros para o mercado imobiliário”, afirma ele.

Segundo Viana, a tendência é de redução do número de contratos. “Este ano teremos um número 20% inferior ao que ocorreu no ano passado. Os aumentos das taxas de juros acabam prejudicando. Os negócios infelizmente devem cair”.
Por fim, ele ressalta que o programa social mais importante da habitação brasileira não será afetada. “A maioria das construções hoje são do programa Minha Casa Minha Vida, que é 90% dos negócios imobiliários atualmente, com imóveis no valor de R$ 350 mil e que não são afetados pela Taxa Selic. É claro que a frequência de negócios em geral deve se retrair. A sociedade toda perde com a taxa Selic em constante alta Eu acredito que a taxa Selic deve continuar crescendo e a expectativa é que chegue a 15% em dezembro. Eu acredito que poderá ser ainda maior”, lamenta ele. 

INDÚSTRIA - O Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) criticou a alta das juros. “A reunião do Copom terça e quarta (18 e 19) para decidir sobre a Selic ocorre em um momento de apreensão para a economia brasileira. A manutenção de juros muito elevados tem sido um dos principais fatores limitantes ao crescimento do PIB, que já apresentou sinais de desaceleração no último trimestre de 2024”. A ponderação é de Rafael Cervone, presidente do Ciesp e primeiro vice da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que lembra sobre os juros reais, além da Selic, hoje em torno de 9%.  
Cervone externa sua preocupação de que, mesmo prevalecendo a previsão média do mercado constante do Boletim Focus desta segunda (17), de manutenção em 13,25% ao ano, a Selic seguirá exagerada. “Embora a inflação sinalize certo recrudescimento e a questão fiscal ainda não tenha sido solucionada, a continuidade de uma política monetária restritiva é nociva para o Brasil”, pondera.  

COMÉRCIO - De acordo com a FecomercioSP (Comitê de Política Monetária (COPOM), do Banco Central, não tinha outra opção que não subir a taxa básica de juros do País, a Selic, em 1 ponto percentual (p.p.), em decisão anunciada nesta quarta-feira (19). Ela é apenas um efeito da conjuntura interna inflacionada e das incertezas que se avolumam sobre os rumos da política fiscal e sobre o cenário internacional com a presidência de Donald Trump nos Estados Unidos. Com a decisão desta quarta, o Brasil permanece com a quarta maior taxa de juros nominal do planeta: 14,25%.
No âmbito nacional, o IPCA de fevereiro subiu 1,31%, a maior alta para o mês em mais de 20 anos. Embora o número não tenha surpreendido o mercado, ainda é um cenário grave, considerando que o grupo de alimentos e bebidas, que pesa no bolso das classes mais baixas, segue bastante pressionado, com uma alta de 0,70% nos preços no mês em questão — que havia sido de 0,96% em janeiro. Tudo isso levando em conta que a alimentação no domicílio, outra variação da pesquisa do IBGE, também subiu (0,79%).

Em paralelo, o mercado de trabalho em bom momento tem, como um dos seus efeitos, o aquecimento da demanda, principalmente nos Serviços. Dados da XP Investimentos apontam que a inflação desse setor foi de 0,82% em fevereiro, o que significa uma taxa anualizada que beira os 10%.
Além disso, as políticas do governo parecem não estar em consonância com o cenário atual. De um lado, o Banco Central segue utilizando a política monetária para trazer a inflação de volta à meta, de outro, o governo segue anunciando políticas de estímulo ao crédito e ao consumo. Isso torna a tarefa do COPOM ainda mais difícil.

Como se não bastasse toda a situação interna, demasiada complexa, as medidas cada vez mais protecionistas nos Estados Unidos, sob a guarida do presidente Donald Trump, estão exportando dúvidas para economias de todo o mundo — e no Brasil, não é diferente. 
Já é possível senti-la, por exemplo, no aumento das taxas de juros dos títulos norte-americanos e na convulsão de Wall Street nesses últimos dias. A fuga de dólares para o mercado estadunidense terá, como consequência, uma pressão sobre as moedas de países emergentes, principalmente. O real não está ileso disso.

A FecomercioSP entende que o ciclo de altas permanecerá, mas não mais nessa magnitude, na medida em que os efeitos do início dos aumentos da Selic começarão a ser mais perceptíveis. O patamar máximo da taxa, neste ano, será na casa dos 15%, da qual estaremos mais perto agora. Com uma política fiscal responsável, é até possível cogitar uma queda ainda em 2025.

TRABALHADORES - O presidente da FEM (Federação Estadual dos Metalúrgicos) da CUT, Erick Silva, criticou duramente a medida. “É um absurdo essa elevação da taxa a um patamar que vai pagar 10% de juro real. Qualquer pessoa no Brasil hoje sabe que o preço dos alimentos e da energia cresceu por conta do calor e falta de chuvas, e o combustível por conta da elevação dos impostos estaduais. Não há excesso de demanda, é um absurdo que só privilegia a parte mais rica da população, o mercado financeiro que não produz um grão de arroz”, desta ele.
Segundo o sindicalista, é um absurdo igual é o empresariado não se manifestar. “Provavelmente estão ganhando muito dinheiro no mercado financeiro também. Já o ‘agro’ não reclama porque tem dinheiro com taxas menores no plano safra e outras linhas de financiamento da produção. Nós fizemos ato terça no Banco Central pela tabela do IR mas também cobrando a redução dos juros”. 

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