O economista Elton Eustáquio Casagrande explica que a recente alta do dólar, que chegou à ser cotado em mais de R$ 6 terá efeito duradouro na economia nacional. Ele explica que independente da possível queda da moeda norte-americana no início de 2025 não elimina suas consequências. “Se cai muito ou não o efeito da alta é duradouro. Se a alta dura mais de 25 ou 30 dias, este fator cria instabilidade para os próximos 30 ou 60 dias, afeta contratos e nos preços futuros, principalmente de importadores e aqueles que têm na cadeira produtiva componentes em dólar. E um aspecto geral é que cria uma onda irracional de que tudo vai aumentar de preço. Então, a alta do dólar sempre que ocorre, o efeito é aumento de custos e de preços que acabam indo para o consumidor”, ressalta ele.
Para Casagrande não há razão para pessimismo e previsões catastróficas. “No Brasil, o controle da inflação é efetivo. Dentro de 12 meses a alta, quando ocorre, afeta o poder de compra. A política econômica no entanto, é elaborada para evitar inflação sistemática e permanente. Então, o consumidor não deve temer uma alta descontrolada. Nada disso. Longe disso, inclusive”, alerta ele.
Exportações X Contratos
O economista explica que sempre que o dólar compra mais reais, significa que o mercado externo poderá ampliar a aquisição de produtos brasileiros. Ele destaca que em função dos contratos firmados, esta resposta não é imediata. “Ela (a resposta do mercado) guarda uma relação temporal, que chamamos de elasticidade. Se a queda de preços provoca aumento de demanda externa. Se o resto do mundo compra mais produtos brasileiros porque a cotação do dólar em relação ao real barateou as mercadorias, fica mais barato exportar. Então, o resto do mundo compra mais barato o produto brasileiro e nós, brasileiros, temos que pagar mais caro pelos produtos importados. Mas isso no curto prazo não acontece pela existência de contratos” frisa ele.
O economista Elton Casagrande: “O consumidor não deve temer uma alta descontrolada de preços; nada disso e longe disso, inclusive”
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Quase uma política industrial
Casagrande explica que o dólar em alta causa dois efeitos positivos e negativos no setor industrial. Por um lado, segundo ele, aumenta significativamente as exportações, gerando emprego e renda. “Por conta dos contratos não existe um aumento expressivo das exportações num primeiro momento. No entanto, depois de 4 a 5 meses de depreciação do câmbio com o dólar em alta, existe a possibilidade de aumento de emprego e renda devido ao salto das exportações. Às vezes estas coisas são muito mal explicadas para a população. O Brasil tem uma política industrial definida e com recursos”.
Segundo ele, o lado ruim é que o Brasil não produz tudo o que consome e, com o dólar em alta, terá que pagar mais caros pelos importados e até para modernizar seu parque industrial com a aquisição de linhas de produção de outros países. Isso encarece os preços internamente. “Para o que já existe, a produção aumenta e gera desenvolvimento. Para tudo aquilo que ainda vai se construir, fica mais difícil”, comenta.
Ataque especulativo
Especialistas veem a alta do dólar como ataque especulativo contra o real, em meio às incertezas das contas públicas do Brasil, eleições americanas, juros altos e saída de dólares, algo comum no fim do ano.
A doutora em economia e presidente do Conselho Regional de Economia do Distrito Federal, Luciana Acioly, explica que a especulação aproveita momentos de incertezas para ganhar no curto prazo. O dólar é o melhor caminho.
"É um ganho em cima de uma especulação sobre a variação do valor da moeda nacional. São os agentes que fazem esse movimento e esse movimento geralmente tem um efeito manada. Se os grandes portadores de portfólio de curto prazo, se eles estão fazendo esse movimento, a tendência e que outros também acompanhem."
O professor de Economia da PUC do Rio Grande do Sul, Adalmir Marquetti, avalia que o governo demorou e se complicou ao anunciar os cortes de gastos, mas o avanço dos projetos no Congresso Nacional pode ajudar.
"Ao combinar as mudanças no imposto de renda no mesmo pacote, o governo confundiu e criou mais ruído que deveria ter criado. Acho que a continuidade, o avanço do pacote no congresso pode acalmar o mercado."
O economista e professor da UnB, José Luiz Oreiro, vê as expectativas ruins sobre o Brasil como um ataque especulativo de quem vive no país. Ele lembra que uma lei de 2021 permitiu o envio de dinheiro do Brasil para o exterior.
"Até 2021, só podia sair do país, o capital estrangeiro que tivesse entrado. Mas agora, além do capital estrangeiro que entrou, os residentes do país podem sacar todas as suas aplicações financeiras em reais e remeter pro exterior para aplicação em renda fixa. Isso faz com que as nossas reservas internacionais se tornem insignificantes, por causa de uma lei aprovada pelo Congresso Nacional durante o governo de Jair Bolsonaro",
O dólar alto causa inflação no país, já que influencia os preços de produtos importados e também de alimentos e combustíveis. (Com informações da Agência Brasil)