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Dia a Dia no Divã

Feminicídio

25 Fev 2019 - 06h50Por (*) Bianca Gianlorenço
Feminicídio -

Trata-se do assassinato da mulher pela própria condição de ser mulher.

No Brasil, ele foi tipificado pela Lei, que alterou o art. 121 do Código Penal (Decreto-Lei nº 2.848/1940).

Dentro desta lei, o feminicídio é reconhecido como um assassinato pela própria condição feminina e normalmente envolve a violência doméstica/familiar ou menosprezo/ discriminação contra a mulher.

 Digamos que ele constitui a última etapa da escala de violência contra a mulher.

E por ser a última escala, isto não quer dizer que ele não tem nenhuma relação com a violência psicológica, violência física e outras modalidades de agressão contra a mulher.

Ela está estritamente relacionada.

A discriminação, opressão, desigualdade e uma vasta gama de abusos são os promotores de inúmeras sequelas psicológicas, físicas e até a morte das mulheres.

Para que fique claro, o feminicídio não é algo isolado e que acontece em cenários específicos.

Na realidade, ele é a face mais visível de todo tipo de opressão violenta contra a mulher.

E por isso mesmo, torna-se de suma importância orientar, identificar, esclarecer, compreender e demonstrar todos os tipos de violência que as mulheres são submetidas no seu cotidiano.

Um conjunto de elementos sobre o que é ser homem e o que é ser mulher inseridos de diferentes formas dentro da sociedade contribui para que mortes brutais aconteçam. 

Lembrando que a violência começa com imposições, restrições, desconsideração e simplificações do outro e de sua singularidade dentro de uma relação. 

E justamente pela violência conter estes elementos de aniquilação do outro de alguma maneira, precisamos entender como esta disseminação da cultura de aniquilação do feminino se inicia nas relações.

E para isso não precisamos ir muito longe. Os principais agressores/assassinos de mulheres estão dentro de casa. Pois é.

Mas se estas pessoas são tão próximas por que não existem ações preventivas ou legais para que a morte não aconteça? 

A culpabilização da vítima é um dos primeiros obstáculos durante a denúncia.

E esta culpabilização vai desde a própria vítima passando pelos amigos, pessoas próximas e até mesmo por alguns profissionais que não têm o preparo técnico adequado para acolher ou mesmo há uma rede de serviços insuficientes.

Aliás, esta culpa está presente se ela denuncia ou também se ela não faz a denúncia.

Mas isto é só uma ponta de iceberg. Digamos que há algo acima disto tudo por assim dizer.

Vamos retornar para a velha questão de objetificação, ódio e desvalorização das mulheres.

Enquanto ela persistir, infelizmente, a violência vai se fazer presente.

E deste modo, o que eu quero deixar como alerta é que precisamos cuidar da forma como entendemos o que é ser homem e o que é ser mulher e de que maneira estamos educando as crianças dentro desta questão.

E eu não falo só em educação formal nas escolas.

Estou colocando como foco pequenas ações e práticas que procurem acabar com a desvalorização e objetificação do feminino dentro das nossas casas.

Mas você pode perguntar: Ah, mas será que se meu filho tiver a mesma quantidade de obrigações que a minha filha em casa, ele não vai se tornar um machista mesmo?

Sinceramente eu não sei.

Mas, você vai estar contribuindo para um pequeno movimento (ou quem sabe grande movimento) para desmobilizar uma estrutura cristalizada de ódio e discriminação contra as mulheres.

E quando digo que não sei no parágrafo anterior não é por que não acredito em uma educação que promova a igualdade de gênero.

É que, infelizmente, existe uma quantidade de elementos e fatores presentes no nosso meio social e cultural que vão ditar o certo sobre “ser homem” e o certo” sobre ser mulher”.

Mas precisamos das pequenas ações de grande impacto promovidas pela educação de gênero para contrabalancear este histórico de violência contra as mulheres.

E as consequências deste tipo de educação não vão beneficiar somente as mulheres mas, vão contribuir para homens mais saudáveis e menos engessados em seus papéis.

Enfim, quis trazer aqui minha contribuição para este assunto que tem se tornado pulsante.

(*) A autora é graduada em Psicologia pela Universidade Paulista. CRP:06/113629, especialista em Psicologia Clínica Psicanalítica pela Universidade Salesianos de São Paulo e Psicanalista. Atua como psicóloga clínica.

Esta coluna é uma peça de opinião e não necessariamente reflete a opinião do São Carlos Agora sobre o assunto.

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