Uma pesquisa realizada no Centro de Ciências Agrárias (CCA) do Campus Araras da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) demonstrou que extratos feitos a partir de casca de canela, assim como a água sanitária, são eficazes no controle de doenças em plantas - especificamente no crescimento de um fungo patogênico da cultura da alface. O estudo foi realizado como Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), pela ex-aluna de graduação em Agroecologia da UFSCar Camilla Rodrigues Carmello, sob orientação do professor Jean Carlos Cardoso, do Departamento de Biotecnologia e Produção Vegetal e Animal (DBPVA-Ar), e detalhou a capacidade germinativa da alface após o tratamento com esses extratos.
Após a realização de testes, a pesquisa comprovou que o uso desses produtos no controle de doenças pode substituir a aplicação de fungicidas convencionais. "O extrato de canela inibiu completamente o crescimento da colônia do fungo patogênico isolado em plantas de alface doentes. Também obtivemos bons resultados com os testes feitos com hipoclorito de sódio, conhecido popularmente como água sanitária", destaca Cardoso.
De acordo com os pesquisadores, o mecanismo de controle de doenças a partir de extratos de plantas ainda é pouco conhecido na literatura, mas está associado à capacidade que algumas espécies vegetais têm de produzir compostos com atividades antibióticas, controlando microrganismos patogênicos. "É um sistema de defesa natural que algumas plantas desenvolvem. Esses extratos com capacidade de controle de fungos patógenos são chamados de fungicidas botânicos. No caso da canela, os principais princípios ativos responsáveis pelo controle do fungo são o cinamaldeído e o eugenol, dois componentes produzidos naturalmente pelo chamado metabolismo secundário de plantas. Esses componentes são responsáveis pelo sabor e odor da canela e, além disso, contêm propriedades fungicidas comprovadas", explica Cardoso.
Segundo a agroecóloga, o preparo da solução com os produtos analisados na pesquisa é simples e os melhores resultados foram obtidos na proporção de cinco gramas da casca de canela em 100 ml de água. Os pesquisadores explicam que essa solução deve ser colocada em aquecimento e mantida a 100º C por cinco minutos. "Em seguida, a solução é filtrada em filtro de café, podendo ser pulverizada ou aplicada nas sementes de alface antes do plantio", descreve Carmello. No caso da água sanitária, basta diluir 5 ml da solução em 100 ml de água e, em seguida, realizar o tratamento das sementes por 20 minutos.
Além de ter simples aplicabilidade, a utilização de produtos naturais e de uso doméstico - ou seja, de baixíssima toxicidade - se mostra como uma alternativa para controle de doenças de plantas. "O uso desses produtos de fácil aquisição para conseguir esse tipo de controle é de grande relevância, em especial para a agricultura orgânica, na qual não é permitida a aplicação dos fungicidas convencionais", afirma Carmello.
Até o momento, os testes foram realizados pelos pesquisadores em condições de laboratório. "Agora, é necessário aplicá-los também em condições de campo, para que se possa substituir, de fato, os fungicidas atuais", finaliza Cardoso. O trabalho dos pesquisadores da UFSCar foi publicado na Scientia Horticulturae, uma das revistas de maior conceito mundial em Horticultura. O estudo detalhado está disponível no site da publicação, em http://bit.ly/2GBKWUo.